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Sinopse

Quatro após depois do surto de zumbis que vitimou os passageiros do trem para Busan, um ex-soldado tem a missão de retornar à península a fim de tentar encontrar sobreviventes.

Crítica

Há apenas quatro anos, cinéfilos de plantão ao redor do mundo foram pegos de surpresa com o lançamento de Invasão Zumbi (2016), longa sul-coreano de terror que arrecadou quase US$ 100 milhões nas bilheterias de todo o mundo – um feito e tanto para uma produção não inglesa – e somou prêmios e indicações por onde passou (concorreu a Melhor Filme Estrangeiro no Prêmio Guarani, por exemplo). Pois bem, não causa espanto, portanto, a notícia de que agora o público se vê diante deste Invasão Zumbi 2: Península, sua inevitável continuação. O que provoca surpresa, porém, é perceber que, apesar de contar com o mesmo diretor e roteirista por trás das câmeras, o resultado é bastante diverso daquele visto antes. O que fica de lado são justamente as características pontuais e específicas do primeiro filme, abraçando um viés tão genérico quanto descartável do qual não consegue se livrar após quase duas horas de trama.

O Invasão Zumbi original tinha como nome de batismo Train to Busan, ou seja, Trem para Busan, em tradução direta. E assim era porque praticamente toda a sua ação se passava durante uma viagem ferroviária que tinha como destino a cidade de Busan, a segunda maior da Coreia do Sul. Enfim, fazia sentido, portanto. Pois bem, isso é justamente o que falta em Invasão Zumbi 2: Península. Sim, pois esse também se chama Train to Busan, apenas acrescido no numeral “2” ao final. Só que em nenhum momento é sequer vislumbrado trem algum. Para piorar, como o subtítulo já adianta, os eventos aqui descritos não estão centrados na mesma localidade, e dessa vez se espalham por toda a região – a tal península – ao redor de onde ocorreu o maior foco de infestação viral que resultou em quase a totalidade da população transformada em zumbis selvagens. Ou quase isso.

Então, se de partida o espectador pode se sentir enganado, mais irá se somar a essa sensação durante o desenrolar dos acontecimentos. A relação entre um filme e outro está apenas na insistência pelo título marqueteiro e na ambientação pós-pandemia zumbi. Todos os personagens vistos antes foram descartados, e a ponte entre as duas tramas é feita rapidamente, logo no começo da história, durante um programa jornalístico televisionado em cena que tem como única função resumir ao espectador recém-chegado o que teria acontecido no outro filme. Pois bem, e a partir desse momento, o que irá importar? Assim como em 99% dos filmes do gênero: permanecer vivo. Uma tarefa que, na maior parte das vezes, acaba sendo bem-sucedida do modo mais improvável possível, esticando ao máximo o laço de credibilidade junto com a audiência, exigindo em retorno por parte dessa um crédito que a produção não fez questão de preservar.

Uma vez o rei morto, a lógica diz: rei posto. Com a infecção descontrolada no destino em questão, tudo leva a crer que o abandono é geral, do governo à população. E quando o navio está prestes a afundar, é justamente a hora que os ratos escolhem para se manifestar. No caso, ladrões e bandidos que, acreditando estarem acima de questões sanitárias mais urgentes, tomaram conta desta suposta terra sem lei. Acontece que, dentre a fuga de tantos, um caminhão repleto de dinheiro foi deixado para trás. E será esta a missão do protagonista: voltar ao ambiente da contaminação para recuperar o que o seu empregador afirma ser seu por direito. Por mais improvável que tal pedido possa ser, a tarefa acaba sendo aceita, dando início a uma história tão absurda quanto desnecessária.

As situações mais mirabolantes - e improváveis – começam a se multiplicar em Invasão Zumbi 2: Península. Tudo o que parecia bem conectado e resultado de um conjunto planejado, dessa vez soa aleatório, gratuito e exagerado. Entre perseguições automobilísticas que gritam a interferência de efeitos digitais e um cenário pós-apocalíptico que lembra com precisão – há até os containers empilhados – o visual de Ilha dos Cachorros (2018), há espaço também para jogos e competições no mesmo nível de Mad Max: Além da Cúpula do Trovão (1985) – para perceber como as referências refletem tiros para todos os lados. Com isso, ao invés de um novo capítulo para uma saga que começou com o pé direito, tudo o que Yeon Sang-ho consegue é estragar a reputação do seu feito anterior, comprovando de vez que aquilo que suspeitava ser uma genialidade insuspeita, na verdade, havia sido apenas um mero golpe de sorte ao acaso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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