Crítica
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Sinopse
Durante a quarentena por conta da Covid-19, um casal recebe uma amiga como visita. Algo inusitado acontece no dia seguinte, no entanto, quando o nome dela é incluído em uma lista de mortos pelo vírus que assolou o mundo.
Crítica
Se a literatura é a arte das palavras, o teatro privilegia os intérpretes e a dança coloca em evidência os movimentos, o cinema é conhecido pela força das imagens que promove. Às vezes, mais importante do que aquilo que é visto, é o que permanece nas entrelinhas. O que é apenas sugerido, como se o que está na superfície servisse tanto para distrair como para colaborar com o processo de descoberta daquilo distante de um breve e desinteressado olhar. Em Inverno, drama dirigido por Paulo Fontenelle e escrito em parceria com a atriz Thaila Ayala a partir de uma ideia do cineasta, esse conceito é explorado até as últimas consequências: há uma busca evidente em disfarçar o que, de fato, se quer transmitir. Porém, tamanho desgaste serve para eliminar as sutilezas que a trama tão bem faria uso. Pois, de posse delas, conseguiria tornar seus desdobramentos, de fato, interessantes. Da forma como se apresenta, servem apenas para confirmar uma previsibilidade muito antes anunciada.
O título do filme é a primeira das muitas pistas espalhadas ao longo dos seus pouco mais de 60 minutos. Apesar dos personagens estarem vestindo casacos e calças de moletom, a sensação térmica não é de resfriamento, como se poderia imaginar. A ambientação vem do recolhimento providenciado pelo claustro, uma vez que estão resignados a uma convivência interna, em um mesmo cenário. Importante ressaltar que este é um ‘filme da pandemia’, projeto desenvolvido durante a Covid-19, ainda antes da existência das vacinas e dos protocolos que permitiram, até certo grau, uma retomada da ‘vida normal’ (seja lá o que isso for). Para driblar as limitações oriundas da quarentena a qual a população de todo mundo se viu obrigada, são apenas três personagens em cena, compartilhando de um único local. É inteligente por parte da produção assumir essa realidade – assim como os atores, suas versões ficcionais também enfrentam a mesma complicação sanitária. O que seria um ganho, no entanto, logo se mostra uma fraqueza.
Sim, pois Beatriz e Rodrigo (Ayala e Renato Góes, também casados na vida real, o que facilitou as interações em cena) estão como que aprisionados em casa, mas além dessa imposição, não há muito reflexo dessa verdade em seus atos. Pois veja, quando uma visita chega usando máscara, a mesma é orientada a retirar sua proteção de imediato, sem maiores cuidados. Não se vê ninguém se higienizado com álcool em gel, e apesar de menções à jardineiros ou serviços de tele-entrega, suas inserções são meramente pontuais, sem repercussões. Percebe-se que a condição que enfrentam é meramente reflexo do dilema vivido pelo casal: estão trancafiados em si mesmos, sem conseguir se desvencilhar um do outro, por mais que talvez fosse a vontade de ao menos um deles (quando ela o trata com rispidez e falta de paciência, cabe a ele repetir o quanto a ama através de uma frase que fala mais dele do que da relação dos dois: “não sei viver sem você”).
Quando Ana (Barbara Reis, de Sob Pressão, 2021), a amiga solitária que está enfrenta as mesmas restrições sem nenhum tipo de companhia é convidada a se juntar a eles, imagina-se, num primeiro momento, que irá se estabelecer um previsível triângulo amoroso. Elogios para lá, trocas de olhares para cá, conversas furtivas e demonstrações de ciúmes servem apenas, como logo se identifica, como mais um manto de disfarce do que, de fato, se deveria discutir. Pois não há desenvolvimento a partir da sua introdução além do mero e previsível distúrbio inicial. O foco da ação – ou da tensão, para ser mais exato – está nos protagonistas. Há algo de muito errado entre eles. E antes que o enredo se encarregue de desfazer os nós deixados pelo caminho, o espectador mais atento conseguirá montar um quebra-cabeça bastante óbvio, cujas peças estão distantes apenas pelo prazer de vê-las serem reagrupadas em seguida.
Paulo Fontenelle (não confundir com seu homônimo documentarista, responsável pelo vibrante Cássia, 2014) é um cineasta de carreira irregular, tendo transitado pela comédia, romance e suspense. Em Inverno ele almeja o thriller psicológico, mas essa é uma estrutura incapaz de se sustentar sem diálogos sólidos e intérpretes à altura do desafio, dois elementos que aqui não se encontram. Por mais que Góes se mostre comprometido, buscando construir um tipo frágil e que faça sentido independente da camada de leitura ao qual o espectador se atenha, Thaila Ayala surge em descompasso com essa busca, invariavelmente incorrendo em excessos, tanto físicos, via expressões marcadas pelo exagero, como por discursos impositivos e desprovidos de duplos sentidos. A cada aparição, retira a audiência de uma suposta claustrofobia ao ressaltar o caráter quase paródico do conjunto, quando não aponta para uma comicidade involuntária. Ela representa o esforço de um todo – vide a montagem que chama atenção para si, a trilha sonora que serve para alertar desencontros, ou a fotografia que busca ressaltar uma evidente desorientação – que, ao invés de apostar no detalhe, ressalta o superlativo. Assim, alcança não mais do que um arremedo daquilo que poderia ter realizado se investido menos na necessidade de tantas explicações.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 3 |
Francisco Carbone | 2 |
MÉDIA | 2.5 |
Sinceramente fui assistir o filme por que pensei numa outra situação e o longa acabou entregando nada, me deixando mais confuso ainda. O elenco é bom, mas o roteiro é péssimo e não sabe onde quer chegar exatamente... confuso é pouco. Corajoso de investir no roteiro sem êra e sem bêra é muito. Já tava cansado nos primeiros minutos do filme. A mulher não sabe o que quer. A amiga é uma morta ou não é. Queria saber quem foi o corajoso que achou que esse filme renderia algo.
Este filme é muito ruim, uma história totalmente sem sentido e mau contada.