Crítica
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Crítica
Há algumas palavras que assustam por si só. Dada a sua carga inerente, “disciplina” é uma delas. Mas num mundo cada vez mais confuso e ansioso, é inevitável, vez ou outra, regularizar até as tarefas mais triviais para promover o bem-estar mental e físico. Em Irmãos Por Escolha, esse exame é elevado ao quadrado na representação do rígido conjunto de regras e normas proposto aos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), que formará novos profissionais dispostos a enfrentar qualquer combate. Ao mergulhar num universo acadêmico singular, o diretor Gabriel Mattar mira na imersão de um ambiente hostil e rigoroso para manifestar orgulho da beligerância brasileira, mas acerta na visita guiada de uma associação que mais tem a dizer do que agir.
Divulgado como o “primeiro filme na história a ter sido filmado dentro da AMAN”, o documentário de uma hora e meia apresenta calouros do sistema militar nacional em diversas tarefas que visam maturar os jovens. Em quatro anos de formação, eles serão submetidos a provas que irão aperfeiçoar predicados e responsabilidades, sempre promovendo o coleguismo como eixo central. Nesse contexto, o maior mérito do realizador é não se entregar ao potencial nacionalismo que a obra poderia provocar. Pelo contrário, ao longo das sequências há, é claro, símbolos e discursos que inevitavelmente reforçarão o maniqueísmo que a concepção das filosofias militares possui, mas eles, felizmente, são escanteados em razão da valorização do indivíduo. Não são poucos os momentos em que oficiais discursam sobre questões existenciais para os garotos e garotas concentrados nas missões. Essas iniciativas fortalecem suas essências e não somente seus corpos, subvertendo a virilidade masculina como atributo básico para a formação de um combatente. Ainda que um ou outro ponto explorado, como a honradez do filho que escolhe o mesmo caminho do pai, apenas envaidece e estereotipa determinados segmentos.
Entretanto, é perceptível uma espécie de construção de espírito, como se estivéssemos assistindo ao preparo de pelejadores que irão ingressar na trama de Corações de Ferro (2014). Algo que, de fato, o longa parece carecer de força para comunicar tal conteúdo. Muitas cenas não portam a autoridade que os temas aqui empregados querem transmitir. Por falta de determinadas precisões, talvez, alguns fatos tornam mais brandos os problemas sugeridos, principalmente em relação ao mundo belicoso que lhes aguarda. No desenrolar dessas composições também vale destacar que a repetição de práticas equivalentes estendem a minutagem e prejudicam o ritmo.
No final das contas, é interessante observar detalhes de uma entidade nunca antes verificada pelas lentes do cinema, embora as incontáveis conjecturas da ficção nos tenham tirado certo frescor do compartilhamento de experiências semelhantes. Mesmo assim, apesar de aparentar um vídeo institucional, satisfatoriamente, há mais do que apenas a tradicional “robotização” do ser humano, considerando a disciplina como um norteador benéfico e promotor do coleguismo. E essas reverências provavelmente são as maiores bandeiras da empreitada.
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nada contra o documentário,mas como acreditar que exista honra depois de generais terem jogado o Brasil na lama?