20140716 is the man who is tall happy papo de cinema 11 e1405542893562

Crítica

Michel Gondry é uma incógnita. Toda vez que o diretor francês anuncia um novo trabalho, se alastra uma torrente de expectativa. É compreensível. Gondry é genioso e criativo. O modo como formata as narrativas são um desafio, menos pela complexidade dos temas – longe disso – e mais especialmente pela abordagem e particular concepção visual.

Não é preciso ir longe para lembrar o furor que Rebobine, Por Favor (2008) causou. Alimentado pelo plot interessante e pela sequência de dois sucessos, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) e Sonhando Acordado (2006), o longa não correspondeu, e como as lembranças de Joel e Clementine, foi se apagando da memória do público, inclusive dos fãs do diretor. Vozes isoladas, que atribuíram o êxito de Brilho Eterno ao roteiro de Charlie Kaufman (Adaptação, 2002), viram a desconfiança cair por terra dois anos depois. Escrito e dirigido por Gondry, Sonhando conta com vivacidade e imaginação impressionantes, tornando-se inegavelmente legítimo. Com isso, o cinema via o francês deixar o posto de coadjuvante para assumir lugar de destaque.

Hoje, anos depois, estou certo de que Gondry encontrou a sua voz no longa estrelado por Gael Garcia Bernal e Charlotte Gainsbourg. A mesma, aliás, que escutamos em A Espuma dos Dias (2013), apesar das inexplicáveis afonias posteriores em O Besouro Verde (2011) e The We and the I (2012), invariavelmente dissonantes. O documentário animado Is the man who is tall happy? surge, então, com as principais características dos trabalhos anteriores – o título cativante, a inventividade visual e a desconstrução narrativa – e encontra um lugar intermediário entre os filmes expressivos e os inexpressivos.

Filmado a partir dos encontros que o diretor teve com o linguista Noam Chomsky no decorrer dos anos, o projeto esbarra na limitação, na clareza e na unidade dos assuntos. Gondry se mostra menos entrevistador do que fã. É possível que a ideia fosse deixar Chomsky discursar livremente a fim de criar o próprio caminho. Contudo se sabe que a maioria das mentes brilhantes não é eloquente e dada à difusão das ideias, mas bem pelo contrário, tende a ser tímida e sucinta. A contenção das palavras foi uma dificuldade que não se soube conciliar. Segmentado de forma pouco delicada, ouvimos o cientista tratar sobre evolução, memória, aquisição linguística, compreensão da realidade ao mesmo tempo em que passa a destacar experiências pessoais, como o destemor frente à morte e a vivência do antissemitismo. Junto a isso, por vezes, ainda surge a voz em off do diretor sobre a concepção do filme. Dado o mosaico de informações, a intromissão soa como justificativa.

Sem encaminhar algum ponto específico ou criar uma espécie de narrativa temática, a aleatoriedade dos assuntos apenas serve como um panorama geral à obra de Chomsky. O conteúdo timidamente conectado e estático se salva pelo trabalho de animação de Gondry, que ocupa grande parte do filme. Assim, o raciocínio da entrevista ilustra com o humor, auxilia a dar uma visão geral da discussão que acompanhamos e, por vezes, ainda serve para resolver algumas dificuldades – vejam a ironia – de linguagem.

O momento que melhor define a carreira de Gondry pode ser encontrado nesse filme, quando, quase ao final, somos levados à questão real por trás do título. Não cabe antecipá-la, mas ficamos surpresos ao saber que a frase nada diz sobre a felicidade ou qualquer coisa humana. Assim como o diretor, a resposta torna-se um disparate por tudo que poderia ter sido e não foi.

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