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Isto Não É Um Filme
Crítica
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Sinopse
Tentativa de Jafar Panahi de contornar uma das leis que o impedem de dirigir filmes. Em dezembro de 2010 o diretor de iraniano foi sentenciado a seis anos de prisão pelo governo de seu país acusado de ser “conivente com a intenção de cometer crimes contra a segurança nacional do país e fazer propaganda contra a República Islâmica”. Ele documenta um dia em sua vida em prisão domiciliar.
Crítica
Jafar Panahi é um dos mais importantes e conceituados realizadores iranianos. É responsável por filmes de grande impacto no seu país e no exterior, como O Balão Branco (1995), O Espelho (1997) e O Círculo (2000). Desde a polêmica levantada pelo longa Fora do Jogo (2006), premiado nos festivais de Berlim (Alemanha) e de Gijón (Espanha), ele passou a ser considerado “inimigo do Estado” pelo governo do seu país-natal. Entre idas e vindas, denúncias e recursos, no entanto, acabou, em 2010, sendo condenado à prisão domiciliar. Ele não está trancafiado numa cadeia, mas talvez seu estado seja ainda pior, pois a maior proibição que lhe coube foi a de “ter ideias”! Não possui permissão para sair do Irã e nem para exercer sua profissão de cineasta, seja como realizador ou como intérprete. Para driblar estas limitações, usou o que tem de melhor: a criatividade. E o resultado é este Isto Não É Um Filme, que apesar do que o título anuncia é cinema em estado puro.
Sem poder sair de casa, Panahi chamou o amigo – e cinegrafista – Mojtaba Mirtahmasb para registrar a sua rotina em um dia dentro do próprio apartamento. Está sozinho, tendo como companhias ocasionais uma iguana, uma vizinha e seu cão de estimação e o primo do zelador do prédio, que aparece por acaso, fazendo um serviço de limpeza. Durante esse dia acompanharemos Panahi desde o momento em que acorda, quando ele próprio liga a câmera e resolve falar com esse espectador imaginário, até a partida do amigo, já em noite fechada. Neste intervalo irá encarar com sarcasmo e fina ironia as ligações telefônicas da advogada que luta para reverter a decisão jurídica que o mantém em cárcere, conversar com familiares e, principalmente, dar vazão ao espírito inquieto do artista que não consegue mais deixar suas criações trancafiadas e luta para trazê-las à tona. E o que faz é nada menos do que genial.
De começo Jafar Panahi pega um roteiro já pronto, mas ainda não adaptado para a tela grande, e decide contar como seria o filme que gostaria de fazer se lhe fosse permitido. O tapete da sala se transforma numa casa perdida em um vilarejo qualquer, e ele recria em si mesmo todos os personagens dessa história hipotética. Essa trama fictícia, logo percebemos, é o que menos importa, pois o que acontece é que somos convidados a adentrar ao mundo particular de um cineasta impedido de fazer aquilo para o qual nasceu, que é contar histórias. Mas o melhor é perceber que nada pode limitar a mente criativa de um homem. Entramos nesse universo particular e ainda numa posição privilegiada, como se estivéssemos sentados em sua sala de visitas, e com ele dividimos momentos de euforia e de depressão, de alegria e tristeza, de angústia e de dúvida. Isto Não É Um Filme é mais do que um documentário qualquer, e sim um registro de um artista em ebulição.
Ele não é ator, mas está atuando. Ele é diretor, mas não está dirigindo. Ele é roteirista, mas está impossibilitado legalmente de escrever histórias. Ele não pode fazer nada, e mesmo assim faz tudo sem que percebam qualquer coisa. Isto Não É Um Filme ganhou o mundo pois foi mandado embora do Irã por um amigo de Panahi que o transportou em um pen drive escondido das autoridades locais. Assim o mundo ganhou essa amostra de que nem mesmo a lei dos homens que não reconhecem a liberdade de expressão pode impedir o livre exercício da criação. Mais do que uma aula de cinema, temos aqui uma demonstração de humanismo e de força criativa. Com tão pouco se fez muito. E a nós compete o reconhecimento e a gratificação.
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