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Crítica


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Sinopse

Um grupo de sete adolescentes de Derry, uma cidade no Maine, formam o auto-intitulado "Losers Club" - o clube dos perdedores. A pacata rotina da cidade é abalada quando crianças começam a desaparecer e tudo o que pode ser encontrado delas são partes de seus corpos. Logo, os integrantes do "Losers Club" acabam ficando face a face com o responsável pelos crimes: o palhaço Pennywise.

Crítica

A sequência que registra o capital desaparecimento de Georgie (Jackson Robert Scott) já dá uma boa ideia do tom deste It: A Coisa. Diferentemente da sugestão (às vezes frouxa) recorrente no fraco It: Uma Obra-Prima do Medo (1990), primeira versão cinematográfica – na realidade, televisiva – de um dos famosos livros de Stephen King, aqui a violência é mais gráfica. O cineasta Andy Muschietti não se furta de apresentar imagens verdadeiramente chocantes, como a do garoto recém-amputado se debatendo para desvencilhar-se do palhaço macabro que o puxa para dentro do bueiro. Aliás, Pennywise (Bill Skarsgård) se mostra uma figura ameaçadora desde o princípio. Ele aterroriza as crianças com seu olhar perverso, cujo impacto é acentuado pela voz que inequivocamente denota perigo extremo, sem valer-se da caracterização clássica do clown para propriamente seduzi-las. É uma representação mais brutal dessa entidade logo combatida por amigos chamados de perdedores pelos valentões da escola.

Focando apenas na parte inicial da história, ou seja, nos protagonistas ainda jovens enfrentando problemas inerentes à aproximação da adolescência, It: A Coisa possui tempo e interesse suficientes para estofar os personagens com algo mais que pavor e necessidade de resistência ao bizarro. Na medida em que acompanhamos os contatos individuais da turma liderada por Bill (Jaeden Lieberher) com o “palhaço dançarino” que os persegue, temos boas pitadas das dificuldades mundanas pelas quais todos passam. Um dos traços acentuados nesse sentido é a reincidência da opressão oriunda dos pais e das mães, e, num âmbito amplo, do descaso dos adultos com relação aos infantes em crescimento. Portanto, em meio à descoberta de uma coisa grotesca que se alimenta do medo e da carne dos desaparecidos, eles precisam lidar com as demandas de progenitores abusivos, superprotetores, agressivos, ou simplesmente com a falta de alguém que lhes guie melhor pela senda de dúvidas e incertezas invariavelmente percorrida.

Especificamente no que diz respeito ao horror, It: A Coisa é calcado demasiadamente na esfera do susto. No mais das vezes, as súbitas aparições de Pennywise ou de alguma tradução fantasiosa do temor alheio são valorizadas para além de suas presenças, do que decorre um efeito imediato e pouco duradouro. A repetição e o acúmulo disso depõem contra a permanência do estado de suspensão. Embora bem-sucedido ao trabalhar o lado humano e, portanto, prosaico da trama, o realizador falha ao tentar compor uma atmosfera constante de tensão, exatamente por apostar mais no impacto dos instantes. O roteiro é ligeiramente esquemático, especialmente no que concerne à apresentação dos jovens afetados diretamente pelo palhaço, e acaba preterindo certos coadjuvantes em detrimento do senso de unidade. Mike (Chosen Jacobs) é bastante subaproveitado, enquanto Richie (Finn Wolfhard) rouba seguidamente as atenções com tiradas engraçadas.

It: A Coisa se passa no fim dos anos 80. Inteligentemente, objetos próprios à época são dispostos em cena para que a ambiência soe verossímil. No quarto de um dos garotos podemos ver um pôster de Os Fantasmas se Divertem (1988), enquanto no walkman do outro toca o “novo” sucesso do New Kids on the Block. O Pennywise de Bill Skarsgård é selvagem, destituído do apelo prévio da concepção icônica de Tim Curry do “parcimonioso” na produção noventista. Derry, a cidade interiorana que serve de cenário, não ganha uma aura especial, sendo apenas um pano de fundo conveniente por reunir os protagonistas e ser palco histórico das peripécias do vilão sedento de sangue. Curiosamente, a singularidade dos medos ganha pouco relevo, perdendo em importância à construção da amizade que propicia aos colegas encararem com alguma chance de êxito o perigo secular. O filme possui ótimos momentos, em que cativa e amedronta, mas tem dificuldade para integrar as suas instâncias.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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