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Crítica


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Sinopse

Constantemente impedido de ajudar jovens soldados mandados para a Guerra do Vietnã, um sargento se dedica a auxiliar o amigo de um antigo parceiro de exército.

Crítica

Há mais de um filme em Jardins de Pedra – uns dois ou três, para falar a verdade – e, infelizmente, eles não se comunicam muito bem entre si. Realizado na segunda metade da década de 1980, quando ainda sofria das dívidas que o levaram à falência após o fracasso de crítica e, principalmente, de público de O Fundo do Coração (1981), este é, sem sombra de dúvidas, uma das obras menores da filmografia de Francis Ford Coppola. Não chega a ser problemático, como os títulos que o cineasta realizou nos anos 2000, mas após assisti-lo talvez a constatação seja ainda pior: medíocre, quase insignificante.

Após o marcante Apocalypse Now (1979), filme que quase o levou à loucura, mas que ao mesmo tempo lhe rendeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e oito indicações (e duas vitórias) ao Oscar, entre elas as de Melhor Filme e Direção, Coppola apropriou-se do romance autobiográfico de Nicholas Proffitt para voltar a falar sobre a Guerra do Vietnã. Porém, ao invés de ir até lá e passar pelo mesmo inferno outra vez, ele adota aqui outro ponto de vista: daqueles envolvidos à distância. Estamos falando de um grupo de elite do exército norte-americano que, graças às suas altas qualificações, são destinados a se responsabilizar por uma tarefa nobre, porém dura e entediante: enterrar os mortos e comunicar as famílias. São os militares que devem cuidar das cerimônias de adeus em suas terras natais, lidando com a dor e com a perda de uma maneira direta, mas também distanciada. Tudo o que fazem são treinamentos, nunca chegam a ir diretamente para o combate.

Se essa vontade de fazer parte da ação já abateu o ímpeto de oficiais mais antigos, como os sargentos Hazard (James Caan) e Goody Nelson (James Earl Jones), o mesmo não pode ser dito dos novatos, como o cabo Willow (D.B. Sweeney, um astro promissor à época, mas cujo papel de destaque mais recente foi como coadjuvante em Busca Implacável 2, 2012). Aí divide-se a história: a princípio temos a trama deste homem experiente, porém derrotado em suas próprias ambições, que precisa lidar com sua realidade aquém das expectativas que por muito tempo cultivou buscando novas prioridades: treinar esse rapaz, filho de um antigo colega, ao mesmo tempo em que redescobre o amor com uma vizinha, a jornalista vivida por uma apagada Anjelica Huston.

Do outro lado, no entanto, há a trajetória deste rapaz. Jardins de Pedra (o título é uma referência aos cemitérios em que apenas as lápides brancas ficam à mostra acima da terra) começa com a cena do seu funeral e com o compadecimento destes que seriam os seus mais próximos, inclusive sua esposa (Mary Stuart Masterson, que no mesmo ano apareceria no clássico das matinês Alguém Muito Especial, 1987). Porém, ao voltar até 1968 – ano em que a maior parte do enredo se desenrola – passa-se mais de uma hora de filme desde a chegada do jovem ao exército até seu reencontro com a namorada, para então, apressadamente, mostrá-los juntos, enfim separados e, consequentemente, a tragédia que se abate. Por fim, há uma esforço em estabelecer um discurso crítico em relação ao episódio histórico, seja através do papel da imprensa (tentativa, no entanto, insípida) ou pela presença sem propósito dos militares, elemento que merecia uma melhor reflexão e aprofundamento para que ocupassem o espaço necessário para atingirem o efeito desejado.

Do jeito que está, portanto, Jardins de Pedra é um filme no meio do caminho. Em várias passagens perde-se tempo demais em situações descartáveis, enquanto que outras, mais essenciais ao todo, acabam sendo aceleradas em função de um desgaste do ritmo. Coppola acaba entregando um trabalho protocolar, sem assinatura e aquém do comprovado talento que tão bem demonstrara em mais de uma ocasião anterior. Se há algum mérito, está no seu reencontro com Caan (indicado ao Oscar por O Poderoso Chefão, 1972) e no pretenso esforço em levantar este tema, ainda que o mesmo não seja desenvolvido à contento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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