Crítica
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Sinopse
Em 2014, um vídeo da execução do jornalista norte-americano James Foley por fundamentalistas chocou o mundo.
Crítica
Ultimamente, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem gostado de indicar canções originais de documentários em sua premiação. Só no ano passado foram dois docs que entraram na disputa nessa categoria: The Hunting Ground (2015) e Racing Extinction (2015). Em anos anteriores, filmes como Glen Campbell: I’ll be Me (2014) e Chasing Ice (2012) também figuraram na lista, com apenas uma vitória recente, a de Uma Verdade Inconveniente (2005), com a música I Need to Wake Up. Em 2017, Jim: The James Foley Story preenche a vaga do documentário da vez, com um belo tema composto por Sting e J. Ralph, The Empty Chair. Segundo os autores, em entrevista para a Deadline Hollywood, eles entraram no projeto não para ganhar prêmios, mas a fim de chamar atenção para a história contada pelo diretor Brian Oakes. Acabou dando certo, visto que a canção trouxe indicação ao Oscar ao longa-metragem, o que sempre joga luz em produções menos conhecidas.
Mas, afinal, quem é James Foley? Filho de uma família de classe média norte-americana, nascido em Illinois, em 18 de outubro de 1973, Jim foi um jornalista especializado em conflitos. Como freelancer, cobriu zonas de guerra e áreas perigosas no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na Síria. Em 2011, enquanto fazia vídeos e reportagens na Líbia, foi detido por um grupo simpatizante do governo de Muammar Gaddafi, ficando preso durante 44 dias. A família nos Estados Unidos fez campanha para sua soltura e o retorno foi amplamente noticiado pela imprensa. Qualquer um que tivesse sofrido esse ataque contra sua liberdade provavelmente não voltaria para a linha de frente de um conflito tão cedo. Qualquer um, menos Jim Foley, que, em 2012, preparou sua câmera, colocou-a na mochila e foi a uma zona ainda mais perigosa que a Líbia: a Síria. O resultado disso também foi visto em grande parte dos veículos de imprensa. Em novembro daquele ano, Foley e seu colega John Cantlie foram capturados pelo Estado Islâmico, até então pouco conhecido. Sem informações precisas a respeito do rapaz, a família Foley fez o que pode para trazê-lo de volta. Depois de quase dois anos em cativeiro, um vídeo com membros do ISIS decapitando James Foley entrou em circulação na internet, representando um final trágico para a vida do rapaz e chocando toda uma nação.
O diretor Brian Oakes conta essa história em dois momentos distintos. Na primeira parte do documentário, acompanhamos a trajetória de Jim até sua chegada à Síria. Seus trabalhos anteriores, o relacionamento com a família e alguns fatos curiosos sobre sua vida. Com bom material de arquivo, Oakes traz vídeos realizados pelo próprio jornalista em zonas de conflito e utiliza a fala de Jim numa palestra quase como narração póstuma. É nesse momento em que conhecemos os amigos, os familiares e os colegas de Foley. Todos comentam o carinho que tinham pelo rapaz, uma pessoa simpática e muito interessada em ouvir e contar histórias. Seus desapegos do dinheiro, de horários e do próprio bem-estar são mencionados pelos depoentes. O segundo momento retrata seus últimos dois anos de vida, enquanto estava preso junto de jornalistas de várias partes do mundo. Alguns de seus companheiros de cativeiro foram soltos pelo ISIS e eles dão testemunhos chocantes a respeito da realidade que os afligiu durante tanto tempo, mencionando como suas vidas foram tocadas por conhecerem James Foley.
O documentário se mostra respeitoso com a memória do retratado, avisando logo de início que não apresentará as imagens da morte de Foley, contudo não dispensa semelhante atenção a outras pessoas, inclusive crianças, que tem seus corpos sem vida mostrados em gravações realizadas na linha de frente dos conflitos que o jornalista cobriu. Um ponto que incomoda, como se aquelas fatalidades brutais não tivessem o mesmo peso, pensamento que Jim certamente não assinaria embaixo. Ainda assim, Jim: The James Foley Story traz um intenso retrato de um rapaz corajoso, que viveu sua vida a pleno, abdicando da liberdade e da juventude para trazer ao público um retrato árido dos países em guerra. Só por conhecer essa figura ímpar, o doc já valeria uma olhada de perto.
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