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Sinopse

Corpos estão surgindo pela cidade, cada um encontrando um fim pior que o outro. Enquanto a investigação continua, as evidências apontam para um homem: John Kramer. Mas como isso é possível? O homem conhecido como Jigsaw está morto há mais de uma década. Será que algum aprendiz assumiu o manto de Jigsaw, talvez até mesmo alguém de dentro da investigação?

Crítica

Quando estreou, há mais de uma década, Jogos Mortais (2004) não só foi um incrível sucesso de público – com um orçamento de apenas US$ 1,2 milhão e nomes conhecidos como elenco, como Cary Elwes (Drácula de Bram Stoker, 1992) e Danny Glover, arrecadou mais de dez vezes o valor do seu investimento em todo o mundo – como também foi recebido com entusiasmo pela crítica especializada, ao combinar uma trama intrincada, um horror gráfico, porém não gratuito, e uma dupla de personagens que se tornariam icônicos no gênero: o boneco Billy e Jigsaw, ou Quebra-Cabeças (interpretado por Tobin Bell). Jogos Mortais: Jigsaw, o oitavo filme da saga, não só é uma tentativa frustrada de resgatar o hype dos primeiros episódios, como também é incongruente enquanto história, indo de encontro a sagas marcantes, como Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, porém sem demonstrar coragem de se assumir como tal. De original, portanto, tudo que restou foi um pastiche de ideias já desgastadas.

Se Jogos Mortais II (2005) é, até hoje, o mais bem-sucedido nos Estados Unidos (com US$ 87 milhões arrecadados) e Jogos Mortais III (2006) é aquele com melhor desempenho no exterior (US$ 164,9 milhões somados internacionalmente), os capítulos seguintes já apontavam para o esgotamento da fórmula. Mesmo assim, os produtores James Wan e Leigh Whannell (diretor de Sobrenatural: A Origem, 2015) exauriram tudo que havia de bom no conceito até a última gota, encerrando a série com Jogos Mortais: O Final (2010). Wan partiu para voos mais ambiciosos – criou outra saga de horror, iniciada com Invocação do Mal (2013), fez mais de US$ 1,5 bilhão nas bilheterias mundiais com Velozes e Furiosos 7 (2015) e se prepara para adentrar no mundo dos super-heróis com Aquaman, previsto para 2018 – enquanto que seu parceiro seguiu investindo na mesma ambientação (Sobrenatural: A Última Chave estreia também no próximo ano). Parecia, portanto, que Jigsaw estava morto e enterrado. Mas nunca diga “nunca” quando se trata de Hollywood.

Jogos Mortais: Jigsaw, portanto, anuncia já no título o foco da sua atenção: ao invés de ter sido assassinado, como se acreditava a partir do que fora visto no longa de 2010, estaria o vilão vivo e ainda em busca de vingança? O começo é bastante similar ao do primeiro filme: cinco pessoas acordam, após terem sido drogadas, presas em um jogo maníaco. Suas cabeças estão em baldes de metal, presos a correntes que os ligam a serras afiadas. Cada um tem um pecado, e precisam confessar com toda a honestidade possível, caso queiram ser “perdoados”. Neste desafio inicial, um deles se revela lento demais e acaba sendo eliminado. No momento seguinte, encontramos esse corpo pendurado em uma ponte, no meio de um parque público. A polícia é chamada, e uma investigação começa. Pelo que é possível identificar na vítima, uma suspeita logo surge: o assassino age de modo parecido demais com o falecido Jigsaw. Seria um imitador? Ou, pior: teria o serial killer enganado a todos e pronto para novos crimes?

O roteiro, neste momento, se divide em duas linhas narrativas. Uma razoavelmente interessante, outra absolutamente entediante. A primeira envolve aqueles presos que precisam expiar suas culpas. Este formato lembra demais os primeiros capítulos da série, e consegue emprestar um frescor renovado aos antigos fãs. A cada novo desafio, Jigsaw oferece invariavelmente às suas vítimas uma chance de escaparem ilesos. O confronto com suas próprias verdades, no entanto, muitas vezes termina por custar caro demais, e nem todos estão prontos a pagar o preço, mesmo que esse signifique uma perna ou cicatrizes profundas. Há um sentimento de gato-e-rato, combinado com um mistério quase que de detetive: como solucionar o próximo enigma? Ao mesmo tempo, no entanto, somos constantemente confrontados com os trâmites dos policiais e médicos-legistas, a descoberta de novos suspeitos e diversos caminhos falsos que levam a pistas, na maior parte das vezes, irrelevantes. Chega-se ao ponto de se questionar qual a real relação entre uma trama e outra. E quando, finalmente, um enredo encontra o outro, a expectativa já se esvaziou e a solução apontada está muito aquém de qualquer aposta cogitada a respeito.

Os irmãos Michael e Peter Spierig se saíram razoavelmente bem ao brincar com diferentes linhas de tempo no thriller futurista O Predestinado (2014). No entanto, não conseguem deixar esse acerto de lado e insistem de modo desproporcional em repetir o efeito em Jigsaw. O que parecem desconhecer, no entanto, é que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. E se antes eles contavam com um ator competente (Ethan Hawke) como protagonista, dessa vez o máximo que conseguem são rostos inexpressivos, como os de Matt Passmore (que fez uma ponta em O Filho do Máscara, 2005) ou Callum Keith Rennie (cujo crédito mais notável é... Cinquenta Tons de Cinza, 2015). Esquemático – a partir de certo ponto, as soluções passam a se repetir, tornando a experiência diante do filme monótona e previsível – e redundante – a necessidade de explicar cada pormenor, através de flashbacks desnecessários, chega a ser irritante – não consegue fazer jus aos melhores momentos da série, ainda que também não se revele um desastre completo. Se tivesse sido apenas uma trilogia, Jogos Mortais teria lugar cativo entre as melhores produções do gênero. No entanto, já com oito segmentos, tudo que consegue é esvaziar sua premissa e se tornar tão descartável e irrelevante quanto os motivos apresentados pelos personagens em cena: até seria trágico, caso não fosse meramente tolo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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