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Sinopse

John Carter é um veterano da Guerra Civil norte-americana que inexplicavelmente acorda na superfície de Marte. Ele não tem ideia de que se tornará peça-chave numa batalha que vem se aproximando.

Crítica

A proposta é ousada: criar uma nova franquia de sucesso para os Estúdios Disney. Depois do eventual desgaste da saga Piratas do Caribe, estava mesmo mais do que na hora de propor algo diferente. O problema é que John Carter: Entre Dois Mundos tem de tudo, menos ineditismo. Apesar de se tratar de um texto clássico do universo literário de aventura, o filme que vemos agora nas telas de cinema é igual a centenas de outros longas do mesmo gênero, que explora atores inexpressivos, coadjuvantes de talento sem ter muito o que fazer, efeitos especiais de última geração, porém usados até os limites do exagero, e um roteiro mais furado do que uma peneira. Tudo bem que o público-alvo são os adolescentes, mas não precisava ser tão raso.

Publicado pela primeira vez em 1912 por Edgar Rice Burroughs, o mesmo criador de Tarzan, John Carter: Entre Dois Mundos é uma obra fantasiosa sobre um cowboy no velho oeste americano que acaba se metendo com extraterrestres e vai parar em Marte, tendo que lutar pela salvação de um povo contra seus opressores. Bem, como se pode perceber pela trama, há elementos muito similares aos vistos no recente Cowboys & Aliens (2011). Se este contava com o James Bond Daniel Craig e com o Indiana Jones Harrison Ford à frente do elenco e com Steven Spielberg na produção e mesmo assim fracassou nas bilheterias e junto à crítica, o que esperar deste de agora, cujo único mérito é a marca Disney no topo do cartaz?

O galã da vez é o novato Taylor Kitsch, que interpreta o protagonista. Ele apareceu pela primeira vez em destaque como o X-Men Gambit em X-Men Origens: Wolverine (2009). Mas se lá seus poderes eram de nascença, dessa vez os dons especiais se manifestam apenas quando se vê teleportado para outro planeta. Lá acaba se envolvendo com um povo alienígena, que o captura. Mas suas novas habilidades logo lhe conferem a postura de herói, o suficiente para ser escolhido como peça fundamental num jogo que envolve ainda salvar uma princesa de um casamento forçado e escolher o seu próprio futuro, descobrindo um meio de retornar à Terra ou construir uma vida em Marte. Opções que gerariam muita dor de cabeça a qualquer ser humano, para que no filme são tratadas com frivolidade e sem nenhuma profundidade. Tudo que importa são explosões, batalhas e brigas. Bem dentro da mediocridade que impera atualmente.

Surpreendentemente, quem assina a direção é Andrew Stanton, vencedor de 2 Oscars pelos fantásticos Wall-E (2008) e Procurando Nemo (2003), animações irretocáveis e inesquecíveis. Percebe-se, portanto, que o talento dele está mesmo no universo animado, e longe do real action. Kitsch e sua mocinha, a desconhecida Lynn Collins (também de X-Men Origens: Wolverine), parecem mais interessados em mostrar músculos e corpos bem torneados e menos em criar personagens verossímeis. Mas quem, de fato, se importa com isso? Talvez aqueles que, de fato, gostem de um bom filme. E a esses, a melhor dica é ir curtir qualquer desenho animado da Disney. Ao menos assim preservaremos entre nós a boa imagem que o tradicional estúdio do criador do ratinho Mickey Mouse há tantas décadas vem desenvolvendo com tanto respeito e dedicação – tudo que John Carter: Entre Dois Mundos carece, do início ao fim.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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