Crítica
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Crítica
Poucas séries cinematográficas parecem mais improváveis, dos anos 2000 para cá, do que John Wick. Pra começo, conta com Keanu Reeves à frente do elenco, um astro dos anos 1990 que desde a trilogia Matrix nunca mais havia acertado, seja nas bilheterias – Constantine (2005) e O Dia em que a Terra Parou (2008), suas maiores apostas nesse sentido, foram frustraram as expectativas – ou mesmo com a crítica, que nunca o viu com bons olhos – nada menos do que sete dos seus filmes renderam a ele indicações às Framboesas de Ouro. Por outro lado, estas são produções com cara e estilo daquelas que fizeram sucesso vinte ou até mesmo trinta anos atrás, e que por isso, ao menos a princípio, deveriam soar deslocadas vistas no século XXI. A aposta por aqui é no “quanto mais, melhor”, mas isso referente aos tiros e explosões, e não no que diz respeito ao texto e diálogos. Trata-se, portanto, de uma ode ao machismo exacerbado dos brutamontes que “atiram antes e perguntam depois” – isso quando abrem a boca. Ao chegar nesse quarto episódio, John Wick 4: Baba Yaga se mostra como a busca definitiva por uma fórmula, a apuração de um modelo que se mostrava desgastado e agora se anuncia como inovador, enquanto que, por trás de todo o barulho, o que se verifica são as mesmas ferramentas e elementos de antes. Enfim, é o velho se disfarçando de novo, sem o orgulho da experiência adquirida e nem a disposição que disfarça possuir.
Já no primeiro filme, De Volta ao Jogo (2014) – posteriormente rebatizado como John Wick: De Volta ao Jogo para integrá-lo à franquia, ao perceberem que aquele título discreto que tinham em mãos guardava mais potencial do que imaginavam – Wick (Reeves, com o mesmo semblante de preguiça e indisposição que manteve ao longo dos quatro longas) se vê forçado a retomar a atividade de assassino profissional quando uma gangue formada por novatos acaba matando seu... cachorro (!). Sim, a motivação quase banal é um diferencial: tem-se em cena um homem capaz de mover montanhas a partir de um delito que muitos considerariam pequeno, até mesmo irrelevante, mas que para ele se torna definidor de quem verdadeiramente é. Pois bem, os seguintes Um Novo Dia para Matar (2017) e Parabellum (2019) seguiam os mesmos passos, se encarregando apenas em aumentar a oposição contrária, assim como sua determinação em deixar em pé nenhum dos seus inimigos. Baba Yaga se mostra como o refinamento dessa proposta: Wick terá pela frente uma cidade inteira disposta a eliminá-lo, enquanto que a ele restará apenas a promessa de, enfim, ser deixado em paz caso consiga sobreviver, literalmente, até o raiar do dia seguinte.
Vindo do folclore eslavo, “Baba Yaga” é um ser sobrenatural, geralmente deformado e muito feroz, que pode levar tanto à morte quanto à luz. O curioso é que, se nos contos de fadas do leste europeu esta figura costuma se manifestar como uma presença feminina, é o próprio John Wick que assume as vezes desse “bicho-papão”, do qual todos temem, mesmo sem conhecê-lo de fato. Devido a fatos vistos no episódio anterior, a Cúpula que comanda o mundo do crime nesse universo criado pelo diretor Chad Stahelski (que passou a última década envolvido apenas com essa quadrilogia e antes havia trabalhado como coordenador de dublês de sagas como a citada Matrix e Jogos Vorazes, entre tantos outros títulos similares) e o roteirista Derek Kolstad (que não assina esse quarto episódio, talvez pelo seu envolvimento com a minissérie Falcão e o Soldado Invernal, 2021) decide tomar uma atitude drástica: colocar abaixo o Hotel Continental, um espaço considerado “intocável” e visto como uma segunda casa para o protagonista. Sem ter mais onde se refugiar, uma verdade se torna evidente: seu pescoço está, mais uma vez, por um triz.
Quem se mostra no comando dessa caçada será o Marquês (Bill Skarsgard, desprovido do peso dramático que o personagem merecia), que promete encerrar com essa perseguição de uma vez por todas e apagar John Wick da memória de qualquer um que o tenha conhecido. Esse, porém, é mais um daqueles vilões – como se fosse possível, diante do cenário proposto, separar bandidos de mocinhos – que late, mas não morde (ao menos não com os próprios dentes). Visivelmente covarde, mas dono de recursos aparentemente infindáveis, contrata todo e qualquer matador da região disposto a enfrentar o ‘Baba Yaga’ que tantos temem, mas como o desconhecem, acreditam ser capazes de fazer frente a ele. Tolos. E o que se vê são quase três horas de corpos sem rosto sendo eliminados um a um por um homem cansado, mas certo da missão que deve cumprir. Não se trata de uma mudança interior, de um bem a ser conquistado ou de uma revolução a ser liderada: o que se vê é apenas uma lista de dificuldades que precisam ser superadas, tarefas que vão se mostrando gradualmente mais complicadas, mas das quais ninguém de fato tem receio pois, cientes da condição de intocável daquele que se encontra na mira de todos, o que se percebe é um interesse não pela sua segurança, mas pela forma como irá despachar cada um que diante dele ousar se colocar.
John Wick 4: Baba Yaga é, portanto, uma história que vale menos pelo desfecho – até porque esse, além de previsível, é também inconclusivo, uma vez que uma fonte que tanto tem rendido não deverá ser abandonada tão cedo – e mais pelo caminho que percorre até seus instantes finais. A última sequência, aliás, se dá na Catedral de Montmartre, em Paris, e qualquer um que já a tenha visitado – ou que se lembre do clímax romântico de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) – sabe que a mesma se encontra no alto de uma colina, e há uma longa escadaria até ela. Pois essa jornada morro acima consolida esta aventura como não mais do que um jogo de etapas a serem superadas: para cada opositor abatido, outros dois surgirão no seu lugar, e assim por diante. Muito se promete por aqui como se definitivo ou irreversível, mas para tanto seria necessário uma coragem e desprendimento que, se em algum momento a trama possuiu (talvez nos seus primórdios), há muito já abandonou. Eis, portanto, um pastiche de si mesmo, sem a novidade do agora e nem a nostalgia daqueles que lhes apontaram os passos a serem percorridos.
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crítica de quem espera uma coisa que a franquia nunca pretendeu entregar...o filme é fantástico
o filme é excelente muito bom com muita ação porrada e tiroteio é empolgante e quem ficou incomodado com filme foi só as feministas chatas e os homens femininos que se sentem incomodados quando vêem um homem de verdade em sua verdadeira essência de masculinidade com força honra coragem e determinação