Jorginho Guinle: Só Se Vive Uma Vez
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Otávio Escobar
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Jorginho Guinle: Só Se Vive Uma Vez
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2018
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Jorge Eduardo Guinle ficou conhecido, ao longo de sua vida, como um dos maiores playboys cariocas. Gozando do patrimônio da família abastada, circulou entre os melhores bares e boates da cidade, criando uma gama de contatos que o consagraram como o primeiro "promoter" do país.
Crítica
Bem antes da era atual da superexposição nas mídias sociais, o mundo da alta sociedade e das celebridades já exercia, sobre muitos, uma espécie de fascínio fantasioso, como a representação de um universo idealizado, inalcançável, descolado da realidade. É nesse imaginário que o jornalista e cineasta Otávio Escobar mergulha com Jorginho Guinle: Só Se Vive Uma Vez, apresentando uma visão romântica do mesmo através da figura do carioca Jorge Eduardo Guinle, conhecido como o maior playboy brasileiro – título que ostentava sem falsa modéstia. Orgulhando-se em afirmar que nunca havia trabalhado durante toda a vida, Jorginho foi herdeiro de uma família cuja fortuna teve origem na passagem entre os séculos XIX e XX, com a construção de ferrovias e a concessão do controle do Porto de Santos, tendo seus negócios expandidos, posteriormente, para outras esferas, como o Banco Boavista e o Copacabana Palace.
É com a história do hotel, símbolo do glamour carioca, especialmente entre as décadas de 1920 e 1960 – quando a cidade ainda era a capital federal – que se confunde a trajetória do próprio Jorginho. Pois foi no local, organizando festas nababescas, com a presença de estrelas internacionais que lá se hospedavam, quase que obrigatoriamente, quando vinham ao Brasil, que Jorginho fez seu nome, chegando, durante o governo do presidente Getúlio Vargas – com quem os Guinle mantinham uma relação muito próxima – a ser convidado para exercer o cargo de “embaixador informal” brasileiro nos Estados Unidos, conseguindo também trânsito livre pelos estúdios de cinema hollywoodianos como “representante para assuntos sul-americanos”, a pedido do milionário, e amigo, Nelson Rockefeller. Facilitando, assim, sua missão de trazer ao Rio de Janeiro algumas das maiores atrizes da época.
Seguindo basicamente uma linha cronológica – da infância à morte de Jorginho, em 2004, aos 88 anos – Escobar mescla a estrutura documental tradicional, o registro de entrevistas com amigos, familiares – os filhos e a última ex-esposa – e com o historiador Clóvis Bulcão, autor de um livro sobre a família Guinle, a passagens dramatizadas, que trazem o ator Saulo Segreto, também narrador do longa, interpretando o biografado, além de nomes como Guilhermina Guinle – sobrinha-neta de Jorginho – no papel da avó, e Letícia Spiller, como a governanta alemã. A artificialidade dessa parcela ficcional, bastante frágil em seu aspecto dramático, com caracterizações extremamente caricaturais, ainda que possa ser justificada como intencional na tentativa de evocar algo lúdico – afinal, logo na sequência inicial vemos Jorginho chegando ao céu em uma limusine branca que corta as nuvens – sintetiza a contradição presente no retrato apresentado pelo diretor.
Pois, ainda que todos os entrevistados façam questão de afirmar que Jorginho era mais do que apenas um personagem – o playboy galanteador – Escobar acaba justamente por reafirmá-lo como tal ao colocar um ator para interpretá-lo, não dando voz ao próprio, exceção feita a um breve excerto de uma entrevista que surge durante os créditos finais, na qual Jorginho diz jocosamente que “O trabalho é o castigo de Deus”, apenas reforçando a persona que construiu e à qual se agarrou, em particular nos últimos anos de vida, quando enfrentou a falência financeira. Assim, o lado “mais humano” do protagonista termina, efetivamente, pouco explorado – como na breve passagem que aborda a relação com seu primogênito, Jorge Eduardo Guinle Filho, um artista plástico que viria a falecer de AIDS, em 1986 – contribuindo ainda para que a tentativa de imprimir uma aura trágica, ao tratar dos esforços de Jorginho para manter seu estilo de vida em meia à derrocada, soe forçada.
Entre o fato e a lenda, Jorginho Guinle: Só Se Vive Uma Vez se atém mesmo à lenda, preferindo amplificar o mito em torno de sua figura central. Os contextos culturais, políticos e históricos – a era Vargas, o episódio da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, a mudança da capital para Brasília etc. – surgem como adendos à faceta de coluna social, vide toda a atenção dedicada às supostas conquistas amorosas de Jorginho, entre elas Kim Novak, Rita Hayworth e Marilyn Monroe. Há, sim, certo charme no saudosismo que permeia a narração de tais eventos, embalados por uma trilha sonora jazzística – uma paixão de Jorginho que não ganha tanto destaque quanto poderia – remetendo aos musicais da Hollywood clássica (incluindo dois números interpretados por Daniel Boaventura e Kenya Costta), porém, a sensação que prevalece é a de um longa que se contenta com o entretenimento efêmero ao invés de investir no estudo de personagem mais substancial. Um produto superficial, tal qual boa parte do que envolve o chamado jornalismo de celebridades.
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