Crítica
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Sinopse
Em Jovens Adultos, a escritora Mavis Gary retorna para sua cidade natal no estado de Minnesota, Estados Unidos, disposta a reconquistar seu ex-namorado, Buddy Slade. Acontece que ele, atualmente, está casado com Beth e acaba de ganhar uma filha. Mesmo assim, Mavis não desiste e se reencontra com a rotina do colégio, passando a agir como uma adolescente.
Crítica
É incrível como algumas parcerias geram expectativas tão errôneas. Quando Jason Reitman e Diablo Cody, respectivamente, diretor e roteirista de Juno (2007), voltaram a se reunir para produzir Jovens Adultos, todos esperavam um novo sucesso de público e crítica, assim como o filme de 2007. A diferença é que esta nova realização da dupla não tem aquele ar otimista e juvenil daquela história da adolescente grávida que resolve virar barriga de aluguel de um casal. Engraçado que é justamente usando a juventude, símbolo do otimismo, que a roteirista resolveu colocar um tom amargurado na tela. Por isso, todos ficaram divididos. Enquanto uns exaltaram o longa, outros defenestraram, caíram em cima, sem dó nenhuma. A bilheteria foi, sem meias palavras, uma porcaria. Não me parece que seja nem tão ao céu quanto ao inferno.
Na trama, Charlize Theron vive uma ghostwriter (aquele que escreve, mas não assina como autor) de uma série de livros para adolescentes que está em decadência. Aliás, decadência não só nas vendas dos romances como também na sua vida pessoal e na criatividade para escrever novas histórias. Quando ela recebe um e-mail de seu ex-namorado (Patrick Wilson) contando que ele e a esposa ganharam um bebê, a escritora tem um novo surto de criatividade e resolve ir para a cidade onde cresceu, no interior, em busca de novas ideias para o romance e, é claro, reconquistar o ex. Sem escrúpulo nenhum. Se compararmos aos outros trabalhos do diretor, como os ótimos Obrigado por Fumar (2005) e Amor sem Escalas (2009), assim como o próprio Juno, talvez realmente Jovens Adultos não seja aquela coisa. Isso se analisarmos friamente e com a tal expectativa que falei antes na cabeça. Porém, há uma maturidade na, com o perdão da redundância, imaturidade da personagem principal e suas (faltas de) relações com o passado que faz cair por terra qualquer teoria.
Charlize, que estava há tempos querendo trabalhar com Reitman, mostra aqui um de seus mais belos trabalhos, que fica no mesmo parâmetro (e particularmente diria que até com pontos extras) em relação às suas personagens em Monster (que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz em 2003) e Terra Fria (pelo qual também foi indicada em 2006). A atriz sul-africana é a alma de Jovens Adultos, mostrando cada dia mais que uma linda ex-modelo pode ser uma grande intérprete.
Sua protagonista, Mavis Gary, a ghostwriter de livros para “jovens adultos”, é como as personagens principais de seus romances (daí o título ambíguo do filme). Aos 37 anos, recém separada e alcóolatra, vive do passado, de suas aventuras da infância e adolescência. Mavis não tem vontade própria, pois vive a vida de seus romances. A inspiração para escrever vem do que ela queria fazer (ou ter feito) quando jovem e ouvindo outras adolescentes românticas em livrarias, lojas e supermercados. Tanto que a fala dessas meninas é reproduzida nos livros dela e também em suas conversas, principalmente com o ex-namorado que ela tanto tenta reconquistar. Não sabemos se Mavis realmente é apaixonada por ele, se apenas quer tentar se recuperar de sua depressão ou se simplesmente é uma sociopata sem rumo. E Charlize dá o tom certo na sua cara cansada, blasé, indiferente a quem está ao seu redor, assim como sua fala arrastada, como se estivesse fazendo um favor de falar com qualquer pessoa.
Quem tenta humanizá-la um pouco e, pasmem, até consegue (nem que seja por um breve momento) é um ex-colega que tinha um armário ao seu lado, mas ela nunca reparou. O ótimo Patton Oswalt brilha no personagem, que por ser taxado de gay na adolescência, foi espancado e hoje mal consegue caminhar e não pode ter relações sexuais. Da antipatia inicial que Mavis tem por todos os coadjuvantes de Jovens Adultos (inclusive seus pais), ele é o único (além do ex-namorado) por quem ela consegue ter alguma afeição.
Ao fim da película, a ideia que temos é que esta ghostwriter, esta alma torturada, além de totalmente detestável, não tem salvação mesmo. E não que ela se importe. Durante os 90 minutos do longa, ela desdenha da cidade do interior em que vivia e de todos que lá estão. Por sinal, isso já mostra o quão este filme vai na contramão da maioria das produções em que os personagens buscam redenção em suas raízes. Aqui, a proposta é que essas raízes podem mais prejudicar do ajudar. Jovens Adultos vale a pena pela atuação incrível de Charlize, assim como o roteiro engraçado e, ao mesmo tempo, cinzento, assim como a direção de Reitman. Só não pense que você vai sair de alma leve quando deixar a sala de cinema.
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