Crítica
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Sinopse
Julie Powell é uma nova-iorquina frustrada que decide abraçar uma tarefa possivelmente capaz de lhe tirar do marasmo: preparar as 524 receitas do livro de culinária de Julia Child. A história das duas mulheres é contada em paralelo.
Crítica
O principal mérito de Julie & Julia talvez seja também seu problema mais sério: o impressionante talento de Meryl Streep, sem sombra de dúvidas a maior atriz viva do cinema mundial. Ela está tão perfeita no papel da lendária Julia Child que chega a ofuscar todo o empenho de Amy Adams (duas vezes indicada ao Oscar e colega de Meryl no recente drama Dúvida, 2008) como a jovem Julie Powell. Estas mulheres nunca chegaram a se conhecer – não há uma única cena delas juntas – e todo o filme é construído assim, intercalando duas histórias paralelas, porém com mais de 50 anos entre elas. Mas quando estamos com Streep o prazer é tão intenso e pleno que tudo o que conseguimos pensar quando nos deparamos com a outra é contar os minutos para o retorno da veterana ao centro da ação.
Julie & Julia é baseado no livro da própria Julie Powell, que por sua vez foi escrito inspirado na trajetória pessoal da autora e na biografia desta outra mulher que, ao decidir aprender a cozinhar, conseguiu mudar a forma como os norte-americanos enxergavam os prazeres gastronômicos. Julia Child já tinha mais de 40 anos e tudo o que havia feito até então era servir de companhia ao marido, funcionário da Embaixada dos Estados Unidos. Ao servirem na França, no entanto, ela se encantou por esta culinária diferenciada. Decidida, se inscreveu na prestigiosa escola Le Cordon Bleue começou a se inteirar com um mundo de temperos, cozidos e sabores. E não mais parou. Anos depois publicou um livro que até hoje é considerado uma das principais bíblias do gênero, e por anos apresentou um programa de televisão que a tornou popular em todo o país.
Powell, por sua vez, estava completando 30 anos e também não havia feito nada de muito significante até aquele momento. Secretária em uma grande corporação, visualizou uma possibilidade de se destacar ao criar um blog que serviria como diário para um desafio autoimposto: preparar as mais de 500 receitas do livro de Julia Child no período de 365 dias, narrando todas as suas desventuras, sucessos, erros e acertos. O mais curioso é que o projeto deu certo, e aos poucos ela começou a despertar a atenção dos outros, recebendo colaborações, comentários, críticas e elogios. Ao ponto de, no final desta jornada, estar tão popular quanto a mulher que a inspirou.
A diretora Nora Ephron é uma verdadeira expert em feel good movies, ou seja, neste estilo de filmes alto astral que só nos fazem bem. São delas obras como Sintonia do Amor (1993) e Mensagem para Você (1998), entre outros similares. Após o fracasso da versão cinematográfica de A Feiticeira (2005), com Nicole Kidman, ela se recuperou em grande estilo com Julie & Julia, longa que arrecadou mais de US$ 90 milhões só nas bilheterias norte-americanas (custou menos do que a metade deste valor) e desde sua estreia, no meio do ano, vem sendo apontado como um dos favoritos ao Oscar 2010 na categoria de Melhor Atriz – palmas para Meryl, que oferece um novo show.
É impressionante pensar que Meryl Streep possa criar protagonistas tão diferentes quanto as vistas em filmes como Mamma Mia (2008), O Diabo Veste Prada (2006), As Horas (2002) ou o já citado Dúvida, apenas para ficar com alguns dos mais recentes. É visível o prazer que ela demonstra a cada cena, deixando em segundo plano a competente Adams e outros nomes de igual destaque, como Stanley Tucci e Chris Messina. Por mais que o título seja dividido, este filme é de Streep, que o ilumina do início ao fim. E não há quem possa ter uma interpretação diferente. Caso estivéssemos diante de uma cinebiografia mais tradicional, apenas com a história de Julia Child, uma personalidade tão rica, intensa e criativa, talvez o resultado fosse ainda melhor. Do jeito que se apresenta, no entanto, ganha um ar de modernidade, ao mesmo tempo em que o contraponto entre as duas coloca em evidência que talento não tem idade e merece nada menos do que um justo reconhecimento. Tanto na ficção quanto na vida real.
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