Sinopse
Crítica
Filme para toda a família, no qual os componentes da mensagem importam mais que necessariamente a ação. Jumanji, baseado no livro homônimo, escrito e ilustrado por Chris Van Allsburg, poderia ser facilmente descartado em meio a tantos lançamentos com intenções similares. Mas, a despeito das frequentes objeções da crítica na época da estreia, ele teve uma carreira comercial de sucesso, especialmente se contado o home vídeo. A trama começa em 1869, quando dois garotos fazem uma solenidade desgraçada para enterrar algo aparentemente perigoso demais. Cem anos depois, na mesma cidade, Alan Parrish (vivido na infância por Adam Hann-Byrd), filho do grande industrial da localidade, está com problemas, pois perseguido por valentões de idade similar. Seu pai dá de ombros aos pedidos de ajuda, defendendo ser importante enfrentar infortúnios e medos. Por acaso, o menino encontra um jogo de tabuleiro. Ao arremessar os dados, na companhia de uma amiga, é tragado a Jumanji.
Um novo salto temporal joga a história aos anos 1980, assim que os órfãos Judy (Kirsten Dunst, novinha) e Peter (Bradley Pierce) chegam para morar na casa há muito abandonada em virtude da tragédia dos Parrish, falidos logo após gastar todo dinheiro e a energia em busca do filho desaparecido. Não demora muito para o Jumanji cair novamente nas mãos de infantes, o que promove o surgimento de criaturas da floresta e, vejam, o retorno de Alan, agora interpretado por Robin Williams. A partir daí, o tom predominante em Jumanji é o da aventura. A estrutura do roteiro é bastante quadrada, haja vista a falta de dinamismo. Depois de cada rodada, uma nova “praga” sai do tabuleiro para atormentar jogadores e vizinhos. Elefantes, morcegos, macacos travessos, rinocerontes, leões e até um caçador, o temível Van Pelt (Jonathan Hyde), aparecem para dificultar as coisas. Curioso notar, pois sintoma da relação familiar, o antagonista com espingarda e o pai de Alan são vividos pelo mesmo ator.
Jumanji, contudo, não se presta a mergulhos profundos nos aspectos dramáticos. É um entretenimento descompromissado, eficiente nesse sentido, aliás. O cineasta Joe Johnston – de Querida, Encolhi as Crianças (1989), Rocketeer (1991) e, mais recentemente, Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) – cria um clima de recreação em meio ao caos. Visto hoje, o CGI deixa a desejar, mas nos idos anos 90 representava um dos grandes valores da produção, exatamente porque tornava críveis essas intrusões fantásticas de seres nativos de um jogo de tabuleiro. Robin Williams se encaixa como uma luva no personagem, já que Alan é um adulto que cresceu longe do convívio social, ou seja, é, grosso modo, uma criança grande, arquétipo que o ator encarnava como poucos. David Alan Grier, na pele do antigo funcionário da Parrish Calçados, agora policial diligente, é um dos principais coadjuvantes, aquele cujo cotidiano é mais atravessado pelo pandemônio decorrente das anomalias vistas.
Infelizmente, pouco da mitologia do Jumanji é acessada neste filme. A preocupação predominante é não deixar a peteca cair, apresentando regularmente novos desafios, embora, diferenças físicas à parte, todos sejam semelhantes no que tange ao obstáculo imposto aos envolvidos. A pitada de romance, que se dá no reencontro de Alan e Sarah (Bonnie Hunt), não chega a ser um elemento determinante, assumindo função de mero tempero nesse enredo atravessado por ameaças palpáveis e, ocasionalmente, focado ligeiramente nos contratempos oriundos do dissenso entre possibilidades e expectativas. A sequência, próxima do fim, passada na casa gradativamente tomada por uma vegetação literalmente hostil exibe efeitos especiais de natureza prática, algo que “envelhece” melhor que os CGI então possíveis, pois eles conservam um charme inerente à sua concepção, algo improvável aos procedimentos digitais. Jumanji é um passatempo divertido, abrilhantado pela presença de Robin Williams.
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