Crítica
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Sinopse
Desejando revisitar o mundo de Jumanji, Spencer decide consertar o jogo de videogame que permite que os jogadores sejam transportados para esse mundo mágico e selvagem. Quando os demais amigos vão ao seu encontro, descobrem que não estão mais sozinhos, e os perigos que terão que enfrentar são ainda maiores!
Crítica
Quando Jumanji (1995) chegou aos cinemas, foi uma verdadeira revolução. Mesmo com efeitos visuais que não envelheceram muito bem, o diretor Joe Johnston e o astro Robin Williams foram hábeis em garantir entretenimento ao público e uma bilheteria que quadruplicou o investimento inicial. Curioso, portanto, que mais de duas décadas tenham se passado até Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017) – a tão aguardada continuação, agora com novo elenco e diretor – tenha, enfim, se tornado realidade. Essa relação entre um e outro, no entanto, se perde por completo nesse Jumanji: Próxima Fase, terceiro episódio da saga. Não apenas o intervalo entre um e outro diminuiu radicalmente, como a reinvenção antes proposta foi praticamente esquecida, fazendo deste capítulo uma grande reprise, para não dizer que se trata de uma refilmagem feita às pressas. Pois veja bem, já que é exatamente isso o que ocorre: se o segundo era uma sequência que agregava novidades ao original e aumentava a dimensão daquele universo, este terceiro é não mais do que desnecessário, uma vez que investe apenas em terreno seguro, contentando-se em repetir trilhas já percorridas.
Se antes se tratava de um jogo de tabuleiro, mesmo envelhecido Jumanji foi reapresentado como um videogame dentro do filme, o qual os protagonistas, ao lançarem os dados, se viam inevitavelmente envoltos pelas consequências de cada ação. No primeiro, era a brincadeira que invadia a realidade, mas no seguinte, foi a vez de inverter as regras e fazer com que os participantes literalmente caíssem dentro do faz-de-conta. A impressão, agora, é que toda a criatividade fora gasta dois anos antes, e sobrou apenas um raso esforço que logo é descartado. A mudança proposta, por exemplo, é a troca dos personagens. Antes os jovens Spencer (Alex Wolff), Bethany (Madison Iseman), Fridge (Ser’Darius Blain) e Martha (Morgan Turner), assim que começavam a jogar, se viam transformados em avatares interpretados por Dwayne Johnson, Jack Black, Kevin Hart e Karen Gillan. O que Próxima Fase propõe é uma mistura nessa ideia, não apenas embaralhando o ‘quem é quem’, como também adicionando outras figuras, deliciosamente vividos pelos veteranos Danny DeVito e Danny Glover. Pena, no entanto, que o conceito não perdure por muito tempo.
Afinal, por mais divertido que seja ver The Rock imitando o jeito irritado de DeVito ou Hart mimetizando a fala pausada de Glover, a piada não demora a se esgotar – ainda mais que suas contrapartes não são dotadas da mesma força. Não há uma característica forte para Gillan ou Black emularem, o que os leva a se apresentarem tal qual da última vez. Achados anteriores, como o galanteador Nick Jonas, são desperdiçados sem muita cerimônia, enquanto que outras aquisições, como a ótima Awkwafina ou o gigante Rory McCann (Game of Thrones, 2011-2019), até chegam a ameaçar um maior destaque, mas logo voltam a uma posição coadjuvante. Quanto aos demais, até possuem um momento ou outro sob o holofote: Johnson liderando cenas de ação, Hart buscando o humor rápido que lhe é característico, Gillan justificando a postura como única presença feminina e Black mostrando que não se cansa de repetir as mesmas piadas. Já aos Dannys – DeVito e Glover – resta apenas a participação especial no começo da história, pois logo a substituição acontece para se verem irremediavelmente esquecidos.
O enredo é também banal. Infeliz com a vida que vem levando, um dos quatro amigos decide que, ao menos no mundo de Jumanji, pode viver a experiência de se sentir como herói, e, portanto, decide retornar. Quando os demais ficam sabendo, vão ao seu encontro com a desculpa de que precisam salvá-lo. Uma vez reunidos, a turma de sete – sim, pois além das companhias do avô de um deles (e do melhor amigo desse), há ainda o guia que novamente surge sem dizer a que veio (papel do inexpressivo Colin Hanks) – descobrem que tudo o que precisam é encontrar uma joia preciosa e devolvê-la ao seu lugar de origem. Pois bem... não era exatamente essa a mesma missão de antes? Mesmo quando enfrentam um bando de avestruzes ou o ataque sincronizado de centenas de macacos selvagens, o perigo nunca chega a ser percebido – além do mais, como participantes de uma fantasia, possuem ‘vidas’ extras. Sem ter pelo que temer e com a certeza cada vez mais absoluta de que o final feliz será inevitável, qual a expectativa que sobra ao pobre expectador, além de acompanhar um grupo de astros de Hollywood se divertindo em meio a um enorme parque de diversões?
Como o próprio subtítulo anuncia, Jumanji: Próxima Fase se assume sem maiores embaraços como um segmento de transição – nem o começo, muito menos o final. Feito única e exclusivamente para capitalizar em cima do gigantesco sucesso de público do seu predecessor – que faturou quase US$ 1 bilhão em todo o mundo – resigna-se a se comportar como uma montanha-russa audiovisual, sem exigir muito do elenco ou dos realizadores, e menos ainda daqueles dispostos a enfrentar suas mais de duas horas de duração. Repetitivo em sua estrutura e carente de soluções narrativas mais inventivas, é retrato de uma crise difícil de ser contornada, a que dita que apenas filmes-eventos, que privilegiam mais a reação do que a reflexão, acabam por ganhar espaço na tela grande. Triste, e por mais fantasioso que seja na ficção, bem próximo da realidade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Victor Hugo Furtado | 4 |
Alysson Oliveira | 5 |
Bruno Carmelo | 6 |
Lucas Salgado | 6 |
MÉDIA | 5 |
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