Crítica
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Sinopse
O capitão Frank leva uma dupla de irmãos numa missão para achar uma árvore com poderes de cura. Animais selvagens e outra expedição alemã são alguns dos problemas que encontram no caminho.
Crítica
A ideia de se fazer um longa-metragem a partir de um parque temático da Disneylandia não chega a ser nenhuma novidade. O problema é que, para cada sucesso como Piratas do Caribe, há vários Mansão Mal-Assombrada (2003) ou Tomorrowland (2015), que frustraram as expectativas. Jungle Cruise, a mais nova tentativa de mesma inspiração, até se esforça para sair da vala comum a qual esse tipo de passatempo parece ser destinado, com atualizações em sua história – o feminismo é parte importante do discurso – e inspirações em clássicos do gênero, como Indiana Jones ou mesmo Uma Aventura na África (1951). O que se percebe, no entanto, é que apesar das boas intenções reunidas, o projeto como um todo se ressente de originalidade, soando mais como um pacote de batatas-fritas industrializado, que até reluz num primeiro momento, mas logo se revela indigesto e artificial.
Em certo momento, muitos anos atrás, quem chegou a capitanear essa iniciativa foi a dupla Tom Hanks e Tim Allen – isso lá nos anos 1990, em alta pelo sucesso de Toy Story (1995). É melhor não tentar imaginar como esses dois acabaram sendo substituídos, mais de duas décadas depois, por Dwayne Johnson e Emily Blunt. Ela é a aventureira, disposta a atravessar o mundo em busca de uma lenda, que aponta para as míticas Lágrimas de Cristal. Ele é o capitão que ganha a vida enganando turistas em passeios de barco pelos rios em meio à floresta. Saída de Londres, ela o encontra em Porto Velho, capital de Rondônia, Brasil. Aliás, esse é um ponto importante da trama: quase em sua totalidade se passa em território brasileiro. E por mais que o inglês seja a língua empregada pelos personagens na maior parte do tempo, é possível ouvir um “obrigada” ou “abra a janela” vez que outra. A arquitetura, de nítida inspiração espanhola, também destoa na veracidade, mas ao menos há um cuidado no retrato da fauna, com onças, botos cor-de-rosa e tucanos oferecendo um colorido local.
Não satisfeito com o que deveria ser garantia de diversão suficiente – afinal, tem-se uma estrangeira corajosa e um marinheiro que mais fala do que faz, ambos se embrenhando em regiões inóspitas e selvagens atrás de algo que tem tudo para ser mera fantasia – o cineasta espanhol Jaume Collet-Serra deixa clara sua opção em recorrer para ameaças mais concretas, digamos (ou quase isso). Parceiro habitual de Liam Neeson em seus thrillers genéricos (já dirigiu quatro longas do astro, o mais recente sendo O Passageiro, 2018), o cineasta infla sua história com um excesso de vilões: não há apenas um, ou dois, mas três em cena, cada um com suas próprias motivações e interesses. Se o agiota vivido por Paul Giamatti é quase uma participação especial, o nazista de Jesse Plemons é o mais problemático, pois instável entre a ameaça predadora e o humor involuntário, ao se ver rodeado por capangas em dúvida, conversando com abelhas e xícaras de chá de porcelana.
Mas há os inevitáveis flashbacks, que se encarregam não apenas uma, mas duas vezes de narrar os eventos que deram origem à fábula que agora os protagonistas perseguem. E esses remontam ao tempo dos invasores espanhóis – por mais que o Brasil tenha sido colonizado por portugueses, a Amazônia é sempre vista como terra de ninguém por Hollywood – quando três desbravadores traíram a confiança dos indígenas e acabaram amaldiçoados. Esses, que deveriam estar na pele de Edgar Ramirez, Quim Gutiérrez e Dani Rovira (Os Japão, 2019), acabam soterrados por tantos efeitos digitais e de maquiagem que mais se assemelham às criaturas marinhas que viviam no encalço de Jack Sparrow. Essa, aliás, é uma das piores características de Jungle Cruise: o excesso de interferências computadorizadas. A impressão é de que tudo foi alterado, dos animais à vegetação, passando inclusive pela luz que atinge os personagens. Mesmo ambientado quase que na sua totalidade em externas, a sensação é de se estar diante de algo feito inteiramente em estúdio, pois nada soa como real.
E se os problemas não eram suficientes, há ainda um esforço do realizador em fazer de Johnson e Blunt um par romântico. A proposta, se em teoria soa estranha, na prática se mostra ainda mais inadequada. O lutador The Rock tem química com Mark Wahlberg ou Jason Statham, quebrando meio mundo que vem pela frente, mas não em cenas ao por do sol com beijos apaixonados. E a estrela de Um Lugar Silencioso (2018) se mostrou eficiente em cenas de ação em trabalhos anteriores, mas ainda precisa comer muito feijão para ocupar os sapatos que já foram de Katharine Hepburn. Entre armadilhas submarinas e corridas de cipós, bombardeios de submarino e ataques de cobras venenosas, Jungle Cruise se estende por mais de duas horas – outro excesso que poderia ter sido resolvido com um corte de 30 minutos a menos – na tentativa de oferecer à plateia um sentimento de montanha-russa, que até pode provocar reações exasperadas enquanto dura, mas se mostra esquecível e descartável tão logo acaba. É cinema fast food, para consumo rápido e sem qualquer pretensão artística. Pode agradar a alguns, é fato, mas isso diz mais a respeito da audiência do que sobre o filme em si.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Lucas Salgado | 4 |
Chico Fireman | 4 |
Victor Hugo Furtado | 5 |
Ticiano Osorio | 6 |
MÉDIA | 4.8 |
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