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Sinopse

Após um primeiro encontro desastroso, Jim e Lauren viajam durante as férias, por coincidência, para o mesmo resort familiar, junto com seus filhos de casamentos anteriores. Sendo obrigados a conviver, uma atração começa a surgir entre os dois.

Crítica

Assistir a um filme de Adam Sandler é quase um trabalho antropológico. Afinal, entender porque um ator indicado 19 vezes – e premiado em 6 delas – às temidas Framboesas de Ouro como pior do ano segue fazendo sucesso é uma tarefa quase impossível. Se na virada do século ele até tentou explorar com mais afinco suas capacidades dramáticas, trabalhando ao lado de nomes como Paul Thomas Anderson, James L. Brooks e Jack Nicholson, há um bom tempo se resignou em uma zona de conforto cada vez mais limitada, atuando sob o comando dos mesmos diretores e com colegas de elenco que representem poucos desafios. Exatamente como acontece em Juntos e Misturados, em que retoma a parceria com Drew Barrymore (pela terceira vez) e com o diretor Frank Coraci (pela quarta oportunidade). E assim como nas ocasiões anteriores, o resultado é constrangedor.

Se em Afinado no Amor (1998) o foco estava no romance inesperado que surgia entre duas pessoas opostas, em Como se Fosse a Primeira Vez (2004) os esforços estavam concentrados nele, que precisava continuamente mostrar a uma garota amnésica o sentimento que havia no casal. A química entre eles era palpável, e havia uma vontade de propor algo de novo – o que inexiste dessa vez. Deixando um pouco o besteirol mais escrachado de lado, Sandler e Barrymore estrelam Juntos e Misturados apostando mais na comédia familiar e de situação e menos em um enredo inteligente que justificasse as interações que surgem a partir dos seus encontros. Os dois são pais em tempo integral – ela está enfrentando um divórcio, ele é viúvo – e encontram uma oportunidade de ouro para viajarem com os filhos ao saírem de férias para a África. O problema é que já se conhecem – e a antipatia é mútua – e quando descobrem que terão que dividir o passeio a situação só se agrava. Nada que evite, no entanto, um óbvio desenlace final.

Frank Coraci está habituado a trabalhar também com outros parceiros da turma de Sandler, como Kevin James, e é esse tipo de humor que ele persegue. Um bom exemplo é a cena em que Barrymore embala a filha menor do companheiro de turismo cantando a clássico ‘Over the Rainbow’, de O Mágico de Oz (1939) – é um momento singelo, bonito e até emocionante, que é rapidamente estragado pela intervenção do astro, que assim que aparece solta um grito alertando para um gorila inexistente (uma pegadinha idiota). Ele se desculpa afirmando ficar constrangido diante de situações mais comovente, e essa parece ser também a explicação do realizador, que até ganha alguns pontos nas sequências com as crianças, mas que perde o rumo cada vez que o comediante entra em cena. Da abertura com um vômito de sopa de cebola até a exibição de dois rinocerontes transando, passando por cada insuportável intervenção do cantor interpretado por Terry Crews e seu coral, o que se percebe é um exagero de estereótipos, situações clichês e uma obviedade quase desrespeitosa.

Ainda que Juntos e Misturados funcione com eficiência junto a um tipo determinado de público, aquele composto por um espectador despreocupado e que reage basicamente por instinto, sem se interessar de fato por nada que é exibido, este último episódio da trilogia estrelada por Sandler & Barrymore é, certamente, o mais infeliz e desnecessário dos três. Da expressão de constante tédio do protagonista para a presença carismática, porém essencialmente em um tom único, da atriz, o que se percebe são dois astros oferecendo mais do mesmo, confortáveis em um ocaso que nada de novo proporciona aos fãs e curiosos. Um desperdício vergonhoso, que merece não apenas ser evitado, mas também descartado sem perdão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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