Crítica
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Sinopse
Depois de muitas vidas e aprendizados, Buddy vive tranquilamente com Hanna. Um dia, Gloria, uma aspirante a cantora, aparece sem avisar na vida dos dois com uma notícia surpreendente: Hanna tem uma neta, chamada Clarity. Com o tempo, o cãozinho percebe como a menina é negligenciada pela mãe e decide que seu objetivo nesta vida é cuidar dela e protegê-la incondicionalmente.
Crítica
Seguindo o caminho do seu predecessor, Quatro Vidas de um Cachorro (2017), Juntos para Sempre é fundamentado num elo que transcende a morte. Bailey (voz de Josh Gad) vira o cachorro de Ethan (Dennis Quaid) desde que este era garoto. A missão do animal é proteger o dono, zelando, em semelhante medida, por sua segurança e integridade emocional. Em função da pegada religiosa, intrínseca a uma trama em que reencarnações são frequentes e motrizes, é possível notar a delineação de um vínculo cuja profundidade faz analogia entre os bichinhos de estimação e os anjos da guarda. O peludo habitante da fazenda, em meio a brincadeiras e outras traquinagens naturais de sua espécie domesticada, está sempre disposto a fazer o humano feliz, sendo cuidadoso para acalenta-lo nos momentos de tristeza e pronto a brincar quando a alegria reina no cenário. A cineasta Gail Mancuso nem precisa se esforçar muito para que a simpatia do fiel companheiro se estabeleça. Basta um par de instantes de heroísmo forçado para ele ganhar os holofotes.
Juntos para Sempre tem forte e inequívoca inclinação ao sentimentalismo, um dos componentes sufocantes que dissipam os traços de complexidade. Cada ação corresponde a uma reação previsível, pois absolutamente telegrafada pelo roteiro esquemático. Todavia, o mais complicado, especialmente na metade inicial do longa-metragem, é o desenho torpe e estereotipado de Gloria (Betty Gilpin), a mãe da protagonista, CJ (Kathryn Prescott). Precocemente viúva, ela é vista como uma mulher desleixada, pouco diligente com a menina que cresce ao largo de sua amargura disposta sem a menor atenção. A realizadora não oferece espaço para que as subjetividades dessa personagem apareçam, apostando numa operação de fricção entre a sua juventude tresloucada e a estabilidade dos avós devidamente casados e religiosos – como bem sublinha o plano de Ethan e da esposa, Hannah (Marg Helgenberger), sentados na beirada da cama com destaque a uma cruz no fundo.
É compreensível que os apontamentos de Bailey (cão que vai trocando de nome e gênero) sejam expositivos, afinal de contas se trata de um ser vivo no limiar entre a irracionalidade e a sensibilidade que o antropomorfiza. Porém, tal natureza, quando aplicada às pessoas em cena, expõe a fragilidade da estrutura narrativa. As informações são constantemente reiteradas, vide a "necessidade" dos personagens reafirmarem verbalmente o que acabou de ser mostrado. Ainda no que tange às debilidades do filme, equilibrado do modo claudicante sobre os pilares de uma religiosidade prevalente, surgem incongruências e/ou conveniências na trama, como a sentença de serviços comunitários ser cumprida justo num local onde cachorros são treinados para farejar câncer. Bailey, então Molly, assim pode permanecer em cena, mesmo quando CJ supostamente paga o preço por sua tola imprudência. A óbvia intenção de sublinhar que “tudo está escrito” é realçada.
Com direito a vislumbres de um paraíso romantizado, literalmente acima das nuvens, Juntos para Sempre se contenta em enfileirar desencontros, tornando os reencontros essenciais ao sobrepujamento das adversidades. Sem o animal de estimação, CJ, sequer, consegue enxergar a paixão que está ao seu lado desde a tenra idade. Reafirmando ideais conservadores, limitando o terreno de quem não leva uma vida necessariamente orientada pelos preceitos da crença numa força maior, o filme vende sua doutrina embalada num enredo aparentemente focado num amor incondicional e celestial. Adiante, Gloria, a “ovelha negra”, aparece como alguém desregrada, tendo insuficientes instantes de reflexão acerca da maternidade e da solidão que antes lhe pesaram sobre os ombros. CJ, ao contrário dela, é mais próxima dos avós, ou seja, uma menina inteligente, prudente e que ama o cão acima de qualquer coisa, mas sintomaticamente punida ao mínimo sinal de transgressão.
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Alguém sabe a raça do MAX?
Achei a crítica muito bem feita! Embora, alguns trechos trazem comentáruos de quem não pratica a doutrina espírita com base em Alan Kardec. Exemplo, quando cita: "surgem incongruências e/ou conveniências na trama, como a sentença de serviços comunitários ser cumprida justo num local onde cachorros são treinados para farejar câncer". Não existe "acaso", existe sim um planejamento das encarnações. Desconheço, como espirita, a evolução de reencarnações de cães. Mas, nos dá uma sensação de acalento, de esperança e, que, de fato, nunca estamos ou estaremos sozinhos. Deus está no comamdo.