Crítica
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Sinopse
Javier Gross é um prestigiado roteirista em busca de uma história. Ele está tão empolgado com sua nova ideia para um roteiro que nem se importa com a notícia de que sua esposa, Lucía, o traiu. Decepcionada, ela decide abandoná-lo. A situação não aflige Javier, que logo a substitui por Laura. Aos poucos, ficção e realidade se misturam, de forma que ele não consegue mais distinguir seu grande amor da cópia que arranjou para substituí-la.
Crítica
Muitas vezes, frases ou expressões usadas para se referir ao amor eterno ou a um relacionamento específico carregam conotações positivas, bonitas, e até mesmo de esperança para os mais românticos. Destes, os desavisados que escolherem Juntos Para Sempre para assistir com os seus pares terão uma surpresa. Para quem gosta de um bom filme, no entanto, é uma grata surpresa. O diretor Pablo Solarz, que também assina o roteiro, demonstra muita personalidade, complexidade e ironia logo no título de sua obra, carregando tudo isso de forma brilhante para o filme. Aqui, o 'juntos para sempre' não tem a implicação habitual, mas um sentido de peso e resignação. Há decisões tomadas por comodismo e motivos egoístas.
Carregada de humor irônico, a comédia romântica amarga e interessante de Solarz conta a história de Javier Gross (Peto Menahem), roteirista obsessivo por sua nova ideia para um filme, que, enquanto avança no trabalho, vai perdendo o relacionamento com Lucía (Malena Solda). O protagonista, afinal, não consegue conciliar a inspiração e sua vida privada, chegando ao ponto de precisar decidir entre uma ou outra. Gross consegue lidar com várias coisas: a relação com sua problemática mãe (Mirta Busnelli), as controvérsias do amor, as desilusões da vida e seus próprios problemas, mas não com o dilema, não com a possível perda da mulher de sua vida.
No entanto, Solarz trabalha não apenas isso, mas também diversos núcleos simultaneamente. Além do relacionamento que está desmoronando, o diretor investe no início feliz e apaixonado do casal e na história familiar obscura escrita por Gross, que tem elementos da sua e, ironicamente, muitas semelhanças com a própria realidade amorosa. Todas as partes se desenrolam no tempo e da maneira certos. O roteiro de Solarz lida muito bem com todos os personagens e as ironias da trama, mesmo aqueles que demandam uma carga psicológica maior, como Gross e sua mãe. A alienação, a complexidade, os erros e as loucuras são mostrados sempre na medida, assim como as linhas entre o amor e o ódio, entre a reflexão, a inspiração e a lógica.
Além do ótimo roteiro, o excelente desempenho do elenco também é um ponto alto do longa. Menahem transmite com maestria a complexidade de Gross e as flutuações do personagem entre os distúrbios e a normalidade. Solda, que interpreta a pessoa mais "normal" e realista, constrói um bom papel, mas os grandes destaques ficam por conta de Mirta Busnelli, fantástica interpretando a mãe de Gross; Florencia Peña, que vive Laura, a namorada do protagonista após o fim do relacionamento com Lucía; e Luis Luque, excepcional como o pai de família que toma uma decisão extrema, sendo o personagem central da história escrita por Gross. Solarz também se destaca no que tange à execução. É na hora ideal que a história de Gross ironicamente vai ganhando elementos da escrita, com a sua ficção se tornando, até certo ponto, realidade em sua vida.
Tecnicamente, o filme também tem bons pontos, principalmente a trilha sonora de Nicolas Diab, que casa perfeitamente com a história. A fotografia de Rodrigo Pulpeiro e a montagem também merecem destaque. Juntos Para Sempre é um filme muito interessante, com ótimas interpretações e um roteiro excelente. É uma das boas obras recentes do cinema argentino que, merecidamente, tem recebido muitos elogios.
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