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Sinopse

Em uma ilha remota, um rico empresário monta um parque temático com dinossauros vivos, criados a partir de DNA pré-histórico. Antes de abri-lo ao público, ele convida um conceituado paleontologista e sua namorada paleobotânica, um renomado matemático e também seus dois netos para conhecerem o parque - e ajudarem a acalmar investidores ansiosos. Mas a visita não é nem um pouco tranquila, já que os predadores pré-históricos escapam e começam a caçar os habitantes da ilha.

Crítica

Bem-vindos ao Jurassic Park. É assim que John Hammond recepciona os atônitos doutores Alan Grant e Ellie Satler após observarem os dinossauros recriados pela equipe do citado parque. E é assim que, em 1993, Steven Spielberg recebe os espectadores estupefatos com os efeitos especiais criados pelos magos da Industrial Light and Magic em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros. Afinal de contas, Hammond é o alterego do cineasta. Um sujeito que, como afirma em certo momento, cansa dos truques de salão, do seu circo de pulgas mequetrefe, e cria um parque de verdade, que atrairia a atenção de todos. Spielberg não faz diferente. Consegue mostrar a plateias do mundo inteiro dinossauros tão reais que parecem ganhar vida. Foram 65 milhões de anos de demora. Mas o mundo, naquele ano de 1993, finalmente observava o retorno dos “lagartos terríveis”.

O roteiro de David Koepp, baseado na obra de Michael Crichton, traz o que de melhor o livro do escritor oferecia, com algumas mudanças que só trouxeram mais suspense e aventura para a telona. Na trama, John Hammond (Richard Attenborough), através de engenharia genética e sua equipe de cientistas, consegue clonar dinossauros e trazê-los de volta a vida, criando assim um parque para que pessoas de todo o mundo pudessem observá-los. Após acidentes que tiraram o sono dos investidores, se viu a necessidade de que o parque ser endossado por especialistas. É assim que entram na história o paleontólogo Alan Grant (Sam Neill), a paleobotânica Ellie Satler (Laura Dern) e o matemático Ian Malcolm (Jeff Goldblum), todos profissionais renomados que devem conferir as atrações do chamado Jurassic Park. Devido a uma falha de segurança, o que poderia ser um final de semana com atrações fascinantes acaba virando uma corrida pela vida quando os dinossauros conseguem ultrapassar as cercas do parque e começam a atacar os visitantes.

Ainda que seja baseado em um livro de sucesso assinado por Michael Crichton, Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros é, sem sombra de dúvidas, uma obra de Steven Spielberg. Algumas temáticas caras ao cineasta estão presentes no longa-metragem, mais precisamente a inaptidão paterna de Alan Grant, observada em diversas obras anteriores do diretor, como Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) e Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991). O personagem de Sam Neill detesta crianças e não consegue se ver como um futuro pai. Até que conhece os netos de John Hammond, Tim (Joseph Mazello) e Lex (Ariana Richards), com quem tem um começo de relação pouco amistoso, cedendo com o passar do tempo à simpatia e à necessidade daquelas crianças de uma figura que os protegesse. Grant se torna uma figura paterna quando percebe que a responsabilidade com aqueles “filhos” é maior do que qualquer inaptidão anteriormente estabelecida.

Esta não é a única temática observada em Jurassic Park interessante de ser comentada. Outro ponto curioso é a crítica aos avanços científicos desenfreados. Em dado momento, Ian Malcolm (provavelmente o melhor personagem do filme) observa que os cientistas do parque de John Hammond abusam da “mãe natureza”, tão preocupados se conseguiriam trazer os dinossauros de volta à vida que acabaram não pensando se deveriam, em primeiro lugar. Juntam-se ao coro de dúvidas Alan Grant e Ellie Satler, concordando que o habitat dos dinossauros havia sido extinto há 65 milhões de anos e que não era possível prever o que esperar deste novo momento. Em um mundo em que vemos clonagens bem sucedidas de ovelhas e que as experiências com células-tronco ainda causam controvérsias, não deixa de ser salutar observar este tipo de crítica em um grande blockbuster como Jurassic Park.

Quem não está tão interessado em ler nas entrelinhas, encontra na produção multimilionária de Steven Spielberg uma ótima mistura entre aventura, ficção científica e suspense. Para o cineasta, era muito importante não fazer um filme de monstros apenas. Para tanto, Spielberg dá aos dinossauros características animalescas, obviamente, mas sempre com a clara intenção de mostrar os instintos de uma espécie extinta há milhões de anos. Por isso, em uma decisão acertadíssima, os dinossauros não são apenas os vilões da história. Se os terríveis velociraptors são os nêmesis dos humanos à solta no parque, isso é apenas por causa do instinto daqueles animais em caçar. Assim como poderia ser um leão ou talvez um urso. Em outra ideia digna de aplausos, o Tiranossauro Rex que tanto fez com que os heróis da história corressem por suas vidas, salva a pele dos protagonistas virando o verdadeiro herói do filme. Quem leu o livro há de concordar que o desfecho da trama de Michael Crichton era absolutamente anticlimático e que as ideias de David Koepp e Steven Spielberg ajudaram a dar brilho a algumas passagens desinteressantes.

Uma dessas boas ideias é o próprio Ian Malcolm, em uma interpretação divertida e charmosa de Jeff Goldblum. O personagem tinha certa importância no romance, mas ganha uma nova cara no longa-metragem. Tanto que Malcolm teve seu destino fatal na literatura revertido por Crichton, que adorou as mudanças e o transformou em protagonista na continuação, O Mundo Perdido (1997). Sam Neill e Laura Dern também chamam a atenção com suas performances, mas acabam sendo eclipsados por Goldblum e, claro, por Richard Attenborough, que dá muito carisma ao dono do parque, John Hammond.

Os efeitos especiais criados para dar vida aos dinossauros são incríveis e, até hoje, conseguem convencer. Spielberg usou um misto entre robôs assinados por Stan Winston e figuras digitais produzidas pela IL&M, a então empresa de George Lucas que estava sempre à frente das inovações tecnológicas. Com essa mistura foram possíveis cenas cheias de emoção e terror como o ataque aos Ford Explorers ao lado da “jaula” do T-Rex abaixo de chuva, os velociraptors caçando as crianças na cozinha e, claro, todo o seguimento final ambientado no centro de visitantes.

Com continuações que nunca chegaram perto do brilho do original, Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros se destaca como um dos grandes trabalhos da carreira de Steven Spielberg. Pode não ser levado tão à sério como A Lista de Schindler (1993) ou O Resgate do Soldado Ryan (1998), mas é uma produção com predicados inegáveis, um blockbuster com conteúdo, baseado na obra de um escritor de best-sellers que nunca ofendeu a inteligência de seus leitores. O que Spielberg faz aqui é basicamente o mesmo. Dá ao grande público uma obra que consegue ser aventuresca e esperta ao mesmo tempo, algo que nem sempre está presente em filmes hollywoodianos voltados às plateias massivas.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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