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Sinopse

A ilha que abrigava o Jurassic Park foi abandonada pelos humanos, e agora se encontra repleta de criaturas pré-históricas. No entanto, a erupção de um vulcão no local é eminente. Enquanto paleontólogos e o governo debatem sobre o possível esquecimento dos animais no antigo parque, Owen e Claire estão novamente em perigo.

Crítica

Se a trilogia inicial da saga Jurassic Park se ocupou, basicamente, em explorar as consequências da descoberta genética que permitiu o resgate de espécies há muito dadas como extintas, foi, curiosamente, apenas em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015) que foi apresentado, pela primeira vez, o tal Parque dos Dinossauros em funcionamento. Jurassic World: Reino Ameaçado, o segundo capítulo dessa nova trilogia, dá um passo adiante, deixando definitivamente de lado o conceito “parque” para se fixar de vez nas possibilidades abertas pela expressão “mundo”, agora acrescida ao título de forma lógica e compreensível. Porém, se o espectro da ação se ampliou, o que se vê em cena é justamente o contrário, com a diminuição de espaços e o confinamento dos perigos. Apostas arriscadas que, se não chegam necessariamente a configurar algo novo para a série, ao menos denotam que o espírito aventureiro que guiou Steven Spielberg (mais uma vez como produtor) vinte e cinco anos atrás, de uma forma ou de outra, segue vivo.

Sabiamente, todo o material de divulgação de Reino Ameaçado vende uma ideia bastante simples: após o caos verificado em O Mundo dos Dinossauros, a ilha Nublar, na Costa Rica, foi abandonada pelos humanos, deixando os animais sozinhos, vivendo livremente dentro dos limites impostos pela geografia local. Agora, anos depois, o vulcão que fica no centro da ilha, há séculos inativo, se prepara para entrar em erupção. O debate é internacional: devem os homens intervir, salvando os dinossauros, ou deixá-los à própria sorte, condenando-os a um novo desaparecimento? Apesar de movimentos ativistas – como o liderado por Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) – lutarem por uma missão de resgate, a opinião do matemático Ian Malcolm (Jeff Goldblum, que retorna à franquia após ter participado de Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993) e de O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997), é rigorosa: deixe que natureza tome o seu curso e restaure, por si só, a ordem natural das coisas. E como é de conhecimento geral, ele sabe o que está falando.

Claire, no entanto, não se deixará convencer facilmente. E quando o milionário Benjamin Lockwood (James Cromwell) a chama com uma proposta irrecusável, sua primeira impressão é que todos os seus desejos foram atendidos: ele construiu um novo habitat para os animais, um verdadeiro santuário isolado do resto do mundo que poderá garantir a tranquilidade e a sobrevivência de, no mínimo, onze espécies diferentes. O anúncio é tentador demais, e ela o abraça sem ressalvas. Há apenas um porém: não só deverá liderar uma das equipes de salvamento, como terá que levar consigo o antigo cuidador dos dinossauros, Owen Grady (Chris Pratt) – afinal, só ele consegue controlar Blue, um raptor dotado de inteligência muito acima da média e que pode dar início a uma geração completamente inédita de animais. E se o ditado afirma que “quando a esmola é demais, o santo desconfia”, certamente tal dizer não se tornou uma lei quase irrefutável por acaso.

Não demora para que a trama de Reino Ameaçado sofra uma curva de 180 graus, partindo para um rumo completamente oposto. E essa mudança é tão bem guardada que todos os trailers divulgados previamente exibiam apenas imagens dos 40, talvez 50 minutos iniciais do longa – que possui mais de duras horas de duração! Abandona-se a ilha, transferindo os principais personagens – dinossauros ou não – para a mansão Lockwood. É claro que algo não dará certo, e logo os bichos estarão à solta, causando destruições e mortes. A diferença, no entanto, é que se antes eles eram a ameaça e o público era, inevitavelmente, colocado a torcer pela vida dos homens e mulheres incautos que deles haviam se aproximado, desta vez é o contrário que se sucede: a torcida é para os dinos, e quanto mais humanos forem – literalmente – destroçados, melhor.

Fora isso, não há muito o que se comemorar em Jurassic World: Reino Ameaçado, produção que se posiciona como um legítimo capítulo intermediário, servindo apenas como ponte de uma situação a outra. A falta de criatividade do roteiro escrito por Colin Trevorrow e Derek Connolly – a mesma dupla do longa anterior, que também já assinou para o próximo, previsto para 2021 – é tanta que certas homenagens a momentos icônicos da saga são tão mal colocados que terminam por soar como plágios desavergonhados – como a primeira visão de um dinossauro, novamente um braquiossauro plácido e gigantesco, ou o jogo de gato-e-rato em torno de uma mesa entre homens e um dino sanguinário. Novos personagens, como o citado Cromwell e a veterana Geraldine Chaplin, pouco tem o que fazer, enquanto que as vilanias, nas mãos do inexpressivo Rafe Spall e do genérico Ted Levine, são tão previsíveis quando enfadonhas. Restam, ao menos, efeitos cada vez mais impressionantes, e boas cenas de tensão absoluta, responsabilidade cumprida à altura das expectativas pelo diretor espanhol J. A. Bayona (O Impossível, 2012). Diverte, ao menos enquanto dura. Depois, resta apenas esperar pelo episódio seguinte, desta vez torcendo pelo time certo – e que, de uma vez por todas, vença o mais forte!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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