Crítica
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Sinopse
Crítica
O hotel incrustado nos Alpes Suíços que serve de cenário a A Juventude parece ligeiramente fora da realidade. A sensação de deslocamento é reforçada pela rotina desse retiro no qual se encontram alguns famosos, cada qual desfrutando do espaço à sua maneira, com propósitos distintos. Todas as noites um palco giratório exibe números que vão do bonito ao extravagante. Fred Ballinger (Michael Caine) é um maestro aposentado, definido pelos chegados como apático, sobretudo desde que decidiu largar a música e simplesmente navegar em águas calmas. Nem mesmo um convite da rainha da Inglaterra o sensibiliza a retornar à regência. Para ele o tempo da criação e da entrega já se foi. Seu amigo de muitos anos, o diretor de cinema Mick Boyle (Harvey Keitel), está preparando o roteiro do filme por ele considerado seu testamento. Nas caminhadas matinais, os dois sempre comentam se urinaram ou não no dia anterior, sinal da preocupação com os sintomas da implacável velhice.
O cineasta Paolo Sorrentino utiliza esses homens das artes, em momentos díspares no que diz respeito à relação com os ofícios desempenhados por décadas, para propor uma reflexão sobre o estado das coisas quando o fim de aproxima. A morte se faz presente até mesmo nos diálogos bem-humorados, em que ambos tergiversam sobre frugalidades ou episódios que nem mesmo a memória conseguiu reter, como um amor em comum. Fred tem inúmeras dificuldades para lidar com a filha Lena (Rachel Weisz), já que se dedicou de corpo e alma apenas à música, negligenciando quase completamente a família. A Juventude aborda temas de interesse universal, tais como finitude, relacionamentos, frustrações e, ainda, especificidades, como a notoriedade. Sorrentino não abre mão de destacar a plasticidade, elemento que funcionava mais organicamente em seu filme anterior, A Grande Beleza (2014).
A exuberância visual, pela qual o cineasta aspira à grandeza, soa um tanto estéril em A Juventude. A beleza que emoldura a tragédia dos personagens, vez ou outra, busca reforçar a estranheza que certas ocorrências deflagram. Um homem, claramente inspirado no jogador de futebol Diego Maradona, que luta contra o sobrepeso, e o jovem ator interpretado por Paul Dano, frustrado por ser reconhecido parcialmente, circundam Fred e Mick. Eles adquirem importância por, respectivamente, aludirem à tirania do corpo (que, em más condições, inviabiliza o usufruto do talento) e à angústia de não alcançar a plenitude. Aliás, no filme a vocação é um elemento constante, já que boa parte dos personagens, para o bem e para o mal, é moldada psicológica e moralmente pela função escolhida. Não raro as pessoas entram em conflito, consigo e com os demais, por conta dos efeitos colaterais da obsessão.
A Juventude é um filme irregular. Alterna instantes belos, como a cena da Miss Universo nua na piscina, espécie de epifania aos homens que a admiram boquiabertos, e outros menos inspirados, como a regência de uma orquestra de vacas e pássaros, fragmento apenas curioso. Paolo Sorrentino parece indeciso entre certo grau de minimalismo e a opulência. Quando se vale do primeiro, privilegiando sentimentos e comportamentos, atinge resultados mais significativos do que ao utilizar a segunda para criar uma embalagem aparentemente sofisticada, uma rebarba frente à problematização verdadeiramente importante dos dramas mostrados. O cineasta acerta em cheio quando se detém nos atores, principalmente no excepcional Michael Caine, sem preocupar-se tanto com o rebuscamento da atmosfera que, aqui, acrescenta pouco àquilo que é tão bem edificado em outras esferas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
Francisco Carbone | 2 |
MÉDIA | 5.3 |
Os autores são ótimos e a relação do diretor com a beleza já me deixa com vontade de ver. Instigada por sua crítica, vou conferir e depois comento. Abraços