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Sinopse

Japão, 1573. O controle do país está em disputa pelos vários senhores feudais, dentre eles o poderoso Shingen. Durante o cerco a um castelo, ele é ferido mortalmente. A notícia logo se espalha e, temendo que seu clã seja desmantelado, Shingen ordena que sua morte iminente seja mantida em sigilo por três anos. Para tanto, é necessário que um sósia assuma seu lugar, tendo que passar por um treinamento para que possa despir de sua personalidade para o trabalho necessário.

Crítica

Ao longo de sua carreira, Akira Kurosawa se mostrou um especialista em criar ambientações, seja pela narrativa distribuída entre os personagens, pelo impacto da fotografia ou mesmo pelo lado meticuloso e dedicado, com o qual cuidava de cada detalhe cenográfico - o que, não por acaso, fazia com que as filmagens fossem bastante extensas. Em Kagemusha: A Sombra do Samurai, tais características ficam escancaradas. Trata-se da obra de um cineasta maduro e consciente do que é capaz.

Por mais que seja baseada em uma história real, a trama de Kagemusha é, de certa forma, simples. Quando o Japão ainda não estava unificado e era dominado por vários senhores feudais, um deles buscava ascender perante os demais através do poderio de seu exército. Durante o cerco a um castelo, entretanto, ele é alvejado. À beira da morte e temendo que seu clã seja desmantelado, ele ordena que seu falecimento seja mantido em sigilo por três anos. Até lá, seu sósia deve substituí-lo, como se recuperado estivesse.

Os minutos iniciais do filme buscam justamente estabelecer o perfil psicológico de Shingen, neste breve período em que permanecerá na narrativa. O objetivo é justamente ressaltar o quão difícil será sua transposição para o sósia, um ladrão capturado de espírito bem mais leve. Tais personagens são interpretados com extrema sutileza por Tatsuya Nakadai, que consegue pontuá-los através de hesitações e mudanças de olhar. A narrativa, por sua vez, segue seu ritmo próprio, sem pressa. O objetivo aqui é situar também o espectador em relação ao entorno existente, de forma a trabalhar questões como honra e respeito, tão inerentes à cultura japonesa.

É no aspecto cenográfico, especialmente, que Kagemusha salta aos olhos. Logo no início, uma das sequências percorre diversos setores do exército de Shingen de forma a identificá-los pela cor junto ao espectador. Além de visualmente belo, impressiona a riqueza de detalhes nas armaduras retratadas, cada qual adequada à tonalidade do setor específico ao qual pertence. Tal apuro na paleta de cores usada no filme surge em vários outros momentos, como na sequência de sonho do sósia e nos muitos planos abertos, onde há variações de tonalidade no céu. Todas, deslumbrantes.

Impressionante também são as cenas de batalha campal, seja pela imensa quantidade de figurantes ou pela precisa coordenação de movimentos. Kurosawa é um diretor que gosta de explorar as extremidades da tela e, como tal, consegue dar uma dimensão ainda maior ao que é retratado, cinematograficamente falando. Mais uma vez, reflexo claro de como é sua visão acerca da sétima arte.

Por mais que não traga um roteiro tão elaborado, como o é especialmente Rashomon (1950), Kurosawa compensa tal "simplicidade" com elementos cenográficos que provocam um forte impacto, visual e narrativo, e uma coesão de atuações que ajuda demais na imersão nesta realidade.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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