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Crítica


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Sinopse

Uma mulher que vive nos anos 1930 arquiteta um plano ousado: sequestrar a esposa de um político influente e chantageá-lo em busca de ajuda para livrar seu marido de um famigerado chefão do crime local.

Crítica

Uma história de amor e morte no contexto gângster de Kansas City, na década de 1930, alterna viciosamente comédia noir e costumes do crime ao mostrar as ações da incontrolável Blondie O’Hara (Jennifer Jason Leigh) para salvar o marido, Johnny (Dermot Mulroney), envolvido até o pescoço com o poderoso chefão local, Seldom (Harry Belafonte). Maluquete urbana com raízes country, algo bem rock’n’roll roots, diga-se, Blondie sequestra Carolyn (Miranda Richardson), mulher de um burocrata, para que este pressione Seldom pela libertação de Johnny. Na modesta pulp fiction de Robert Altman, Blondie provoca um curto-circuito provinciano cujas faíscas são tão quentes e velozes quanto o jazz que dá alma ao filme. Neste roteiro assinado pelo cineasta em parceria com Frank Barhydt, as mulheres são decisivas. Se Johnny tem presença mínima em cena e Seldom, apesar do peso à narrativa, é subproduto de Don Corleone, a dupla interpretada por Leigh e Richardson tem o longa nas mãos.

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Incandescente como álcool ilegal, Blondie não mede esforços para defender o amor de sua vida, mesmo que para isso tenha que enfrentar o submundo das gangues negras trazendo para o jogo a elite branca tradicionalmente suja. Sua carta na manga é a ricaça Carolyn, dama down da high society viciada em ansiolíticos e raptada para servir como moeda de troca. Delicada, Carolyn treme a cada grito da grosseira Blondie, cujo nome remete tanto a Bonnie Parker, criminosa cult retratada no ótimo Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas (1967), quanto a Scarlett O'Hara, do superclássico ...E o Vento Levou (1939).

As relações de poder entre as duas mulheres se estabelecem rapidamente e se mantêm fixas durante quase toda a narrativa até um momento de ruptura, quando o plano de Blondie, não realizado como o esperado, provoca mudanças drásticas para alguns personagens ao mesmo tempo em que estimula permanências deletérias nas estruturas da cidade.

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Altman costura os trajetos da trama e os percursos dos personagens tendo o choque de interesses como agulha e o jazz como linha. Ao som de uma big band excelente, que cria a atmosfera do filme tocando paralelamente às ações, o cineasta transporta o público para uma das regiões mais efervescentes dos Estados Unidos nos primeiros momentos do século XX. De quebra, reverencia o cinema noir e lança seu olhar bastante pessoal sobre a cultura gangster.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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