Crítica
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Sinopse
Um garoto perseguido por membros de uma gangue de lutadores acaba encontrando ajuda em um senhor de idade do seu bairro. Aparentemente um faz-tudo inofensivo, o homem logo se revela um mestre nas artes marciais, e guia seu novo aprendiz através da simples disciplina e da humildade adquiridas nos trabalhos manuais.
Crítica
Além do sucesso, da expressiva bilheteria e da conquista de muitos fãs, esta produção norte-americana é uma boa história, que gerou três sequências (sem contar o remake), principalmente porque foi originalmente muito bem contada por John G. Avildsen (diretor de Rocky: Um Lutador, 1976). É fácil perceber que Avildsen soube reunir novamente neste filme alguns dos bons ingredientes da fórmula vencedora do mais famoso personagem de Sylvester Stallone. Nunca é demais lembrar a trama de ação e de superação que Karate Kid: A Hora da Verdade nos revela: o típico conflito adolescente dos tempos de escola com um mocinho, cara sensível, fisicamente frágil e apaixonado, que luta pela garota bonita e rica, e um bad boy mais fortão e desleal.
Daniel Larusso (Ralph Macchio) é o jovem que, após mudar-se para outra cidade com sua mãe (Randee Heller), conhece a bela e rica Ali (Elisabeth Shue) e vai conquistando o interesse dela. Só que a garota é ex-namorada do encrenqueiro Johnny (William Zabka) que, sendo faixa preta em caratê, começa a bater em Daniel com frequência, até este encontrar o auxílio de um japonês chamado Sr. Miyagi (Pat Morita). Pois, ninguém sabe que atrás do semblante indiferente, silencioso e por vezes estranho desse velho homem, se esconde um grande conhecedor das artes marciais. Sr. Miyagi decide ensinar a Daniel os segredos do caratê e, com isso, passa a dar lições que serão válidas para toda a sua vida. Os ensinamentos levam ambos à vibrante disputa no campeonato nacional da modalidade.
O primeiro e também principal atrativo deste filme é a eficiente atuação do elenco, essencial para o sucesso da narrativa. O diretor obteve um desempenho bem convincente de quase todo o elenco. Ralph Macchio compõe Daniel como um garoto frágil e carismático, gerando empatia com seu jeito de ser, por vezes com um humor autodepreciativo que realça sua falta de confiança e valoriza ainda mais sua trajetória de superação. Além dessa característica, Macchio se destaca em momentos que exigem uma postura mais explosiva, como quando demonstra a revolta de Daniel após ser derrubado da bicicleta, evitando o contato com a mãe e gritando que deseja voltar para sua antiga casa. Vulnerável, Daniel ganha a confiança do espectador também pela identificação com o tema, afinal, quem nunca quis enfrentar o valentão (ou a valentona) da escola, sobretudo por uma paixão?
Pat Morita, por sua vez, transforma aquele senhor japonês num personagem cuja força intuitiva, sabedoria, gentileza, paciência, firmeza e carisma vão surgindo à medida que a relação entre mestre e aprendiz se desenvolve. Suas lições promovem e valorizam o respeito e a confiança. Falando com um sotaque divertido (que reforça sua origem), Morita encarna o papel de tutor com desenvoltura, conquistando não apenas o carinho de Daniel, como também o de toda a plateia. A relação de amizade é construída com calma pela narrativa e, por isso, soa verdadeira. Dotado de “paciência oriental”, Miyagi tem interessantes e por vezes engraçados diálogos com Daniel, apresentando uma coleção de frases impactantes a respeito de sua visão peculiar do caratê e da própria vida. Morita se destaca ainda na tocante sequência em que o reservado Sr. Miyagi revela como perdeu a esposa e o filho, reforçando a ligação entre eles e confirmando que confia plenamente em Daniel.
Elisabeth Shue também se sobressai. Sua presença radiante comprova a capacidade de Avildsen de compor casais românticos com alta química no cinema. Se o roteiro de Karate Kid: A Hora da Verdade é bem típico e pouco original, sua narrativa apresenta ingredientes interessantes que compensam a pouca inspiração do texto, principalmente oriundos da segura, competente e dedicada direção de John G. Avildsen. Para compor a música do filme, o diretor chamou ninguém menos que Bill Conti, autor de grandes trilhas sonoras, entre elas Gonna Fly Now, tema de Rocky Balboa, uma das mais famosas e contagiantes da história do cinema. Ou seja, o diretor conhecia como poucos a fórmula de filmes envolvendo embates, afinal o universo das lutas, mesclado à trajetória de um protagonista que transforma sua vida e adquire respeito e confiança, já tinha dado a tônica do filme estrelado por Sylvester Stallone. Acompanhamos as caminhadas dos personagens filmadas com steady-cam (outro recurso de linguagem usado originalmente em Rocky). Se isso não traz tanto frescor à linguagem, ainda assim, permite algum refinamento. Em dado momento, quando Daniel conversa com sua mãe numa lanchonete, o diretor usa um segundo quadro na janela com a gangue comandada pelo rival de Daniel, identificando sua presença e a espreita.
Há sequências bem fotografadas. Destacam-se nesse quesito os treinamentos na beira da praia, embalados pela música de Conti, momentos dos mais simbólicos e belos do filme. Além disso, o campeonato de caratê (sequência final) comprova a capacidade do diretor para tirar toda a emoção e a beleza do esporte. Uma curiosidade: são várias as cenas com os atores jogando futebol. Outra lembrança típica dos anos 80 está no momento marcado como um videoclipe. Em Karate Kid: A Hora da Verdade isso se dá quando Daniel e Ali visitam um parque de diversões. Via de regra, os filmes de adolescentes usavam o recurso na época.
Por fim, como também era comum nesse tipo de produção, uma mensagem ou uma lição se consumia. Neste caso, a prova de valor vivida por Daniel, o azarão que vai se firmando no campeonato, chegando entre os melhores e podendo finalmente encarar de igual pra igual seu algoz. Karate Kid: A Hora da Verdade é simbólico para toda uma geração. Os valores podem ter ficado datados, mas certamente é uma boa história conduzida por mãos certas. Hora da verdade? Banzai!
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Alexandre Derlam | 6 |
Thomas Boeira | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
MÉDIA | 7.3 |
Aqui está um filme que revi recentemente e caiu bastante no meu conceito. A trama ainda se mantém interessante em seus conflitos e mensagens de vida. Entretanto, o que me incomodou foi a execução das cenas: As coreografias são bem abaixo da média, tanto do elenco adolescente quanto do Sr. Miyagi, seu personagem se limitando à tomadas escuras ou de longe. O protagonista também mal consegue executar os movimentos necessários. Me admira que esse filme tenha tido profissionais de artes marciais envolvidos. E a trilha sonora instrumental foi outro golpe pra mim. Em momentos-chave pra história as cenas estão cruas, quase como se tivessem ficado na pré-produção (confronto com a mãe e o primeiro treino.). Em vez disso o filme oferece uma poluição sonora de músicas pop e rock da época que se sobrepõem em outras cenas. E o ritmo é demasiado vagaroso. Geralmente os meus filmes favoritos passam de duas horas. Mas nesse aqui eu senti o tempo. E o golpe final acontece de maneira abrupta e sem explicação: Como o antagonista que treina karatê há um tempo considerável não seria capaz de prever aquele golpe??? Pra maioria esse momento é genial, pra mim foi somente anticlimático. Enfim, mais um filme superestimado dos anos 80.