Crítica
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Sinopse
Karen se dá conta que seu casamento de 10 anos foi um erro que custou boa parte de sua juventude. Disposta a recuperar o tempo perdido, ela pede o divórcio e tenta recomeçar, embora não demore a aparecer os obstáculos.
Crítica
Com um título como Karen chora no ônibus, não dava para esperar um trabalho solar ou radiante na estreia do cineasta colombiano Gabriel Rojas Vera. Mas precisava ser tão dramático? Carregando nas tintas do dramalhão no segundo ato, mas mantendo a atenção do espectador graças à bela atuação da protagonista, a novata Angela Carrizosa, o cineasta entrega um filme irregular, mas ainda assim interessante em alguns momentos. Na trama, assinada pelo cineasta, Karen (Carrizosa) decide largar o marido depois de anos de casamento para recomeçar sua vida. O problema é que o longo período como dona de casa pesou sobre a mulher, fazendo com que aos 30 e tantos anos Karen não tenha experiência alguma para conseguir um trabalho. Morando numa espelunca, com dificuldades para arrumar emprego e penando para pagar suas refeições, Karen se vê obrigada a dar um jeito na situação de forma não lícita. Quando um novo homem surge em sua vida, será o momento de decidir qual será o caminho a seguir.
A construção da personagem de Karen é o que de melhor o filme oferece. Quando a conhecemos, chorando no ônibus, carregando uma pesada mala, não fica difícil compreender que ela está fugindo de algo. As respostas quanto a esta fuga, no entanto, são dadas lentamente pela história. Entendemos, logo de início, que Karen vem de uma situação financeira favorável e bastante dependente do marido – a forma cheia de dedos com que ela se movimenta dentro do banheiro da pensão leva a crer isso, atrelado ao medo da barata no box, com sua necessidade de clamar por algum salvador contra o inseto. Este exemplo mostra como Gabriel Rojas Vera é econômico em suas informações, visto que não é necessário diálogos ou mesmo estarmos dentro da cabeça de Karen para que captemos estas pistas de quem a protagonista é. Mesmo quando existe uma cena mais óbvia, com mãe e filha conversando sobre o divórcio, nunca ficam óbvias as razões da separação. O espectador entenderá o que houve ao conhecer Mario (Edgar Alexen), o famigerado marido, sem que eles precisem trocar muitas palavras.
Tudo passa pela bela atuação de Angela Carrizosa, que procura demonstrar através de sua expressão sempre fechada o período tenebroso por que passa sua personagem. Envergonhada por não conseguir se sustentar, inventando mentiras para sobreviver, Karen se vê numa situação arrasadora, encontrando forças para continuar lutando onde não sabia que existia. Uma amizade improvável com a festeira vizinha Patrícia (Angelica Sanchez) abre uma fresta de luminosidade na nublada vivência de Karen – e mesmo que a felicidade da amiga mostre-se um tanto inventada, acaba ajudando a protagonista a encontrar um caminho que seja só seu, como era o desejo daquela mulher. Uma pena que o filme seja minado pelo dramalhão, com Gabriel Rojas Vera tentando de todas as formas mostrar que Karen passa por um período negro de sua trajetória, exagerando nas situações. Ainda que o final seja interessante pelas escolhas que a personagem toma, acaba soando irreal e conveniente alguns acontecimentos – muito por causa das grandes dificuldades encaradas pela protagonista até então. Quanto mais dura foi aquela passagem da vida de Karen, maior seria o desafio de sair da situação. A resposta acaba caindo do céu, destoando do resto do trabalho.
Mostrando-se um cineasta curioso com as relações humanas e colocando sua câmera sempre próxima de seus personagens, Gabriel Rojas Vera acaba assinando um roteiro cheio de altos e baixos, mas consegue salvar-se pela boa direção de atores e por algumas soluções inteligentes ao amarrar o começo ao final do filme. Karen chora no ônibus é uma história de superação de adversidades, de reparar a autoconfiança e de aprender a começar de novo. Nem que para isso seja necessário a expurgação pública de alguns males, como lágrimas derramadas em um banco de ônibus.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 7 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
Assisti ontem, 13 out. 13 (domingo) ao colombinao Karen chorou no ônibus e gostei. Bom ver obras sulamericanas por aqui entre nós, algo ainda um tanto raro. Algo que não entendi na tradução foi a incoerência entre o preço da diária da pensão (onde a personagem se hospeda) com o do café com leite (mais ao final do filme, quando o casal se encontra).