Crítica
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Sinopse
O documentarista Erik e o advogado Paul engatam um relacionamento de 10 anos após um encontro supostamente casual em 1997. Paul não assume-se publicamente gay, enquanto Erik não tem problemas quanto afirmar-se gay.
Crítica
Dirigido por Ira Sachs (Vida de Casado, 2007), Deixe a luz acesa vem angariando reconhecimentos ao redor do mundo. Exibido em diversos festivais e mostras, venceu premiações como o Teddy Bear (prêmio para filmes de temática LGBT do Festival de Berlim) e ainda foi indicado pela Cahiers Du Cinema como um dos 10 melhores filmes de 2012. Para melhorar ainda mais, segundo alguns críticos é um ponto marcante no cinema gay norte-americano e supera até mesmo O Segredo de Brokeback Mountain (2005), de Ang Lee.
Erik (Thure Lindhardt) é um cineasta alemão que vive em Manhattan e conhece Paul (Zachary Booth) através de um chat por telefone. Paul por sua vez é um advogado que está no armário. Mesmo com tudo apontando para algo sem futuro, laços se criam e eles adentram em um relacionamento de riscos e compulsões. Paul se mostra um viciado em crack e perturbado com sua sexualidade. Com isso, Erik entra numa espécie de batalha entre se manter na relação ou acabar com tudo, pelo seu próprio bem. Com roteiro co-escrito por Sachs e pelo brasileiro Mauricio Zacharias (que também co-roteirizou os nacionais Madame Satã, 2002, e O Céu de Suely, 2006) baseado em um relacionamento anterior do cineasta americano, nos é mostrado o a formação deste casal do começo ao fim em episódios marcantes que duram em torno de uma década. Amor, sexo, drogas, autodestruição, sacrifícios e mais baixos do que altos. Está tudo ali. Pulsando e dolorido na tela. Perguntas surgem na cabeça do espectador durante a exibição. Até onde iria num relacionamento por alguém que ama? E por quanto tempo aguentaria? O filme é uma verdadeira bomba-relógio. Paul é essa bomba.
Sachs e Zacharias incorporam um ponto importante do cinema gay atual: a exposição da intimidade de um casal homossexual nas telas. Saímos do retrato cômico/clichê e do coletivo (AIDS, direitos LGBT) para adentrar as quatro paredes, o íntimo dos casais e indivíduos dessa “comunidade”. Essa mesma linha vem sendo explorada no cinema gay em produções como Weekend (2011), de Andrew Haigh, e em uma variedade de trabalhos do diretor americano Travis Matthews, por exemplo. Aliás, esse retrato de intimidade é levado às últimas circunstâncias em Deixe a luz acesa ao sermos mais do que espectadores, mas cúmplices de Erik. Em uma das cenas mais fortes, Paul convida o parceiro para ir ao seu quarto de hotel e, assim, redefinirem a relação. Sachs não nos convida. Coloca seu público sentado aos pés da cama em que Paul, completamente drogado, faz sexo com um gigolô na presença de Erik, esse desolado e que é chamado pelo parceiro para que lhe segure a mão durante a dor do ato sexual e delírios ocasionados pela droga. Ao mesmo tempo, assistimos o olhar cabisbaixo de Erik, como dizendo para si mesmo que aquele era o fim, que tudo havia alcançado um tom doentio demais para prosseguir. Era a humilhação final.
Colocar o filme de Sachs como um avanço é com certeza interessante. Com atores desconhecidos do grande público e com uma abordagem mais realista que o filme de Ang Lee, é certeiro em diversos aspectos como a direção, passando por roteiro minucioso, que coloca a força muito mais nas imagens do que nos diálogos, e até a bela trilha sonora composta por Arthur Russell. Fica o lembrete para as distribuidoras brasileiras para trazerem o filme comercialmente para o país.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Renato Cabral | 8 |
Daniel Oliveira | 8 |
Ailton Monteiro | 7 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 7.3 |
filme triste pelos casos, mas pecou forte ao exibir um iMac ainda não lançado em uma época do filme — fiquei na dúvida agora se era nos anos 90 ou 2002. 🤷🏽♂️