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Sinopse

Hacker finlandês que se tornou o especialista em eleições, Harri Hursti dá uma visão assustadora da vulnerabilidade da tecnologia usada nos sistemas de votação dos EUA.

Crítica

Em 2006, o documentário Hacking Democracy fez barulho ao mostrar que era possível hackear uma máquina utilizada nas eleições dos Estados Unidos - isto bem antes de Donald Trump ser eleito, é bom ressaltar. O autor do feito foi Harri Hursti, uma espécie de menino prodígio da informática que, aos 12 anos, já escrevia software - em linguagem de programação, claro! Quase uma década e meia mais tarde, Hursti ressurge em Kill Chain: A Ciberguerra nas Eleições Americanas, aquele que pode ser comparado como uma continuação do longa citado acima, não só pelo retorno de dois diretores do doc original mas, especialmente, pelo tema retomado.

Sempre sob o tom de alerta, Kill Chain: A Ciberguerra nas Eleições Americanas tem por objetivo maior destacar as falhas de segurança existentes no sistema de votação norte-americano. Para tanto, o retorno de Hursti não só traz reconhecimento ao documentário anterior como, também, uma tremenda expertise acerca do assunto, bem explorada pela narrativa ao não só apresentar explicações técnicas como, também, demonstrá-las na prática.

A partir da peregrinação de seu herói, Kill Chain desvenda aos leigos como funcionam as eleições dos Estados Unidos. Não propriamente em relação ao número de votos de cada estado, que possibilita que nem sempre o candidato mais votado seja eleito, mas no sentido técnico do ato de votar. Desta forma, são esmiuçados detalhes sobre as empresas envolvidas na construção de tais "máquinas de voto", assim como a variedade de modelos existente, espalhadas pelos 50 estados. Sim, cada um deles pode escolher uma máquina distinta, o que muitas vezes serve de argumento sobre a dificuldade que é hackear a eleição como um todo.

Este e vários outros argumentos do tipo são, pouco a pouco, desconstruídos por Hursti, que não só encontra muitas das máquinas utilizadas à venda no eBay, por módicos US$ 75 a quem estiver disposto a pagar, como a usa em um desafio proposto em plena convenção hacker, sobre quem conseguiria invadi-la. Tentando ao máximo fugir do informatiquês, de forma a ser mais acessível ao público, Kill Chain pouco a pouco escancara as muitas fragilidades existentes, em alguns momentos até se baseando em problemas ocorridos nas últimas eleições realizadas. Se ainda assim este doc por vezes soa pouco acessível, assim o é devido à complexidade das próprias eleições norte-americanas, repleta de particularidades tão próprias. Fosse no Brasil, por exemplo, seria bem mais simples pela unidade adotada em todo o país.

Pela própria natureza do tema, este é um documentário essencialmente voltado para o público norte-americano. Se os ataques russos na eleição de Trump são mencionados, estes surgem muito mais pelas fragilidades existentes no sistema e em seu próprio modus operandi do que com algum objetivo político - sequer há algum questionamento acerca do resultado desta eleição. Por outro, incomoda a absoluta ausência de voz do outro lado, seja dos fabricantes ou do próprio governo. Por mais que o documentário se resguarde, alertando que não houve interesse em prestar qualquer depoimento, ainda assim fica uma lacuna nesta investigação acerca do tema.

Minucioso e tentando ser o mais abrangente possível em seu linguajar, Kill Chain é um documentário interessante por ressaltar a vulnerabilidade do sistema eleitoral norte-americano muito graças às características atuais das máquinas em serem, de alguma forma, conectadas à internet. Para tanto, recorre não só ao protagonismo de Hursti como também a um sem número de breves depoimentos, cuja edição acelerada até mesmo dificulta a absorção do que é dito, tudo em uma trilha sonora que tende sempre ao suspense. Afinal de contas, é este o grande objetivo deste doc: alertar sobre o perigo iminente, ainda mais a poucos meses das próximas eleições presidenciais.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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