Crítica
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Sinopse
Traficante de drogas azarado, Chris contrata um matador de aluguel para dar cabo da própria mãe. O plano é colocar a mão na apólice de seguros dela. Sem dinheiro para pagar os serviços do assassino, o jovem aceita oferecer sua irmã mais nova para quitar o débito.
Crítica
O conceito “família disfuncional” adquire contornos de crueldade em Killer Joe: Matador de Aluguel, o mais recente filme de William Friedkin, diretor de, entre outros, O Exorcista (1973). Nele topamos com Chris, rapaz que resolve lançar mão de um expediente quase inumano na busca do dinheiro necessário para quitar sua dívida com traficantes: matar a mãe e apossar-se da apólice cuja beneficiária é Dottie, a irmã mais nova. Para isso, precisa das cumplicidades da bela jovem, do pai e da madrasta. Todos aceitam, sem muitos sinais de remorso ou quaisquer embates internos que inviabilizem o ato iminente. Contratam, então, Joe, policial e matador de aluguel, para dar cabo do serviço.
O plano e o possível assassinato são apenas catalisadores da dinâmica familiar doentia, o verdadeiro substrato de Killer Joe: Matador de Aluguel. O rapaz, que esquematiza a morte da própria mãe para livrar sua pele, conta com a anuência do pai ao passo que é acometido pelo desejo de possuir a quase infantilizada irmã (e o sonho dela se insinuando nua mostra isso). Sem dinheiro nem escrúpulos, Chris irá penhorar também Dottie como salvaguarda dos direitos do homicida, caso algo dê errado e o pagamento em dinheiro não ocorra. Aqui os tipos são cria de um mundo lapidado pelo conceito da sobrevivência a qualquer custo. Esqueça rompantes de heroísmo e nobreza, cada um atuará para satisfazer suas próprias necessidades.
Intenso, Killer Joe: Matador de Aluguel é um filme bastante diverso dos vistos comumente no nosso circuito, justo pelas qualidades apresentadas. É ancorado na narrativa dura que amplifica os eventos da trama, não pressupondo espectadores infantilizados, e no desempenho vibrante do elenco, aliás, duas das marcas registradas de Friedkin, diretor que ajudou a salvar Hollywood noutros tempos. Falando em atuações, Emile Hirsch, Juno Temple e Thomas Haden Church estão ótimos em seus respectivos papeis, mas se alguém rouba a cena é Matthew McConaughey. Sua construção de um Joe ao mesmo tempo frio e explosivo é completamente inexcedível e digna de prêmios.
Convém não analisar as reviravoltas da história – esmiuça-las traria prejuízo aos que ainda não assistiram, porém pode-se dizer: elas temperam sobremaneira as relações entre os personagens. O criminoso Joe é agente dessa ciranda sórdida, espécie de “anjo exterminador” surgido para expurgar a família de seus pecados, sendo ele próprio pecador confesso. No ato derradeiro, William Friedkin cria sequência digna de antologia com a reunião dos protagonistas numa conversa repleta de representações, sarcasmo, tensão e violência, esta física (bem gráfica) e psicológica. No fim, o fade out traz angústia porque nos priva do porvir. E agora? As trevas da ignorância são ideais para encerrar um longa fortíssimo como Killer Joe: Matador de Aluguel.
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