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Crítica


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Sinopse

Após uma colisão violenta, Moe acorda com ferimentos graves, sem memória e com milhões em dinheiro e drogas.  

Crítica

Liam Hemsworth não chega a ser um dos maiores astros do mundo, como Chris (ninguém menos do que o Thor, afinal), e nem um ilustre desconhecido para a grande maioria do mundo como Luke (familiar apenas aos resistentes fãs da série Westworld, 2016-2020). Ou seja, o caçula dos Hemsworth até desfruta de um certo grau de popularidade (graças, principalmente, a sua participação na saga Jogos Vorazes). No entanto, desde o lançamento do último longa da franquia – Jogos Vorazes: A Esperança – O Final (2015) – ele vem desperdiçando esse potencial em projetos que ou frustram as expectativas (Independence Day: O Ressurgimento, 2016) ou que acabam abaixo do radar que poderiam ter alcançado (Arkansas, 2020). Killerman: A Lei das Ruas, no entanto, não é nem um, nem outro: é apenas um filme ruim, que não despertou interesse algum durante sua realização, e menos ainda após o seu lançamento. Uma reciclagem de diversos clichês do gênero que em nada ajuda no cadente status do rapaz.

Em um início um tanto frenético que lembra o muito superior Joias Brutas (2019), o espectador é apresentado à Moe (Hemsworth), um joalheiro de Nova Iorque que passa mais tempo cuidando da lavagem de dinheiro de seus clientes menos nobres, transformando dinheiro sujo em barras de ouro por baixo dos panos, do que expondo e negociando pedras preciosas. No entanto, uma oportunidade rara lhe é apresentada quando um amigo, Skunk (Emory Cohen, de Brooklin, 2015), o introduz ao seu tio, Perico (Zlatko Buric, de Espírito Jovem, 2018), um velho traficante que possui sua máfia particular. Sob o comando dele, os dois participam de numa venda que acaba saindo errada envolvendo policiais corruptos que não apenas partem no encalço deles em busca das drogas que deveriam ter sido apreendidas, mas também das malas de dinheiro que, nas mãos deles, teriam outro fim.

O problema é que, durante a fuga, Moe e Skunk se envolvem em um acidente de trânsito que os leva direto para o hospital. O segundo sai relativamente ileso, mas o primeiro sofre um efeito colateral bastante grave: ele perde a memória, não lembra mais quem é e nem o que está fazendo. Assim, precisa seguir vivo, porém sem saber se pode ou não confiar naquele que está ao seu lado, e nem nas tarefas que lhe são designadas, como lidar com os oficiais que atiram primeiro e perguntam depois, ou com os mafiosos que se importam menos com os meios e mais com os resultados de cada ação. Soma-se a isso uma namorada grávida que surge de forma inesperada no seu caminho, aumentando ainda mais o drama do desmemoriado.

A questão maior do filme escrito e dirigido por Malik Bader (Paixão Mortal, 2013) é completa falta de lógica dos acontecimentos, que não respeitam nem mesmo as regras impostas dentro do universo em que habitam esses personagens. Quando sua garota é vítima de uma bala dirigida a ele e acaba morta, assim como o filho do dois que ela carregava em sua barriga, Mo passa a ser consumido por um desejo de vingança que irá direcionar cada um dos seus atos seguintes, visando única e exclusivamente punir aqueles que lhe causaram tanta dor. No entanto, a pergunta é: que “dor” seria essa, uma vez que até dez minutos antes ele nem sequer tinham ciência da existência dessa garota e da criança que ela esperava? A falha de memória, usada como uma carta na manga providencial, tem efeito apenas quando é conveniente à narrativa, sendo solenemente ignorada em todos os demais momentos.

Prejudica ainda o desenrolar dos eventos a falta de empatia do espectador com cada uma das figuras vistas em cena. É uma luta entre bandidos, e todos estão errados, num ou noutro nível. Não há o inocente envolvido contra a sua vontade em uma rede de desencontros e desilusões. Até se tenta, mais próxima à uma conclusão retirada do fundo da cartola, inserir uma reviravolta sem sentido que talvez mudasse a perspectiva em relação ao protagonista, mas tal manobra é feita de forma tão desarticulada que mais parece uma imposição externa do que algo que havia sido planejado desde o começo. Killerman: A Lei das Ruas ainda tenta fazer do título uma tradução literal – afinal, ele é quem “mata o homem” – como isso justificasse seu comportamento violento e agressiva. E num cenário no qual todos são falhos, é quase impossível saber para quem torcer, pois a única esperança que permanece até o final é a de que todos morram de uma vez e essa tortura tenha, portanto, um fim.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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