Crítica
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Sinopse
Um grandioso ataque destrói o quartel-general Kingsman. Eggsy e o grupo são obrigados a unirem forças com o equivalente estadunidense da agência, os Statesman. Os britânicos e os norte-americanos terão que ignorar suas diferenças em defesa do mundo. A nova ameaça é a vilã Poppy.
Crítica
Nem sempre mais é sinônimo de melhor. Ou seja, quantidade raras vezes está em sintonia com qualidade. E é uma bela prova dessa verdade universal que encontramos em Kingsman: O Círculo Dourado, continuação do sucesso Kingsman: Serviço Secreto (2014), aventura despretensiosa que brincava com o universo dos filmes de espionagem e que arrecadou mais de US$ 400 milhões nas bilheterias mundiais. O orçamento de US$ 81 milhões do primeiro filme permaneceu o mesmo para essa sequência, mas em relação ao elenco, quanta diferença. De dois vencedores do Oscar – Colin Firth e Michael Caine – tem-se, agora, mais do que o dobro – além de Firth, que retorna após uma explicação muito furada, temos ainda Julianne Moore, Halle Berry, Jeff Bridges e, claro, sir Elton John (!). E há mais surpresas: Channing Tatum, Michael Gambon, Emily Watson e Pedro Pascal – todos, aliás, sem muito o que fazer. No centro da ação continua o novato Taron Egerton. E é curioso, pois se antes sua energia de iniciante era balanceada entre seus companheiros de cena, agora, mesmo ao lado de tantos nomes estrelados, a responsabilidade de levar a trama adiante está quase que exclusivamente sobre seus ombros. E o resultado nem sempre é o mais satisfatório.
Isso porque há muito a ser dito sobre Eggsy (Egerton), o jovem das ruas de Londres que é elevado ao posto de agente secreto da organização inglesa Kingsman. Sem seu tutor por perto – Harry Hart (Firth) foi assassinado com um tiro no rosto no primeiro filme – ele está à frente das principais ações, ao mesmo tempo em que busca levar adiante sua relação com a princesa sueca Tilde (Hanna Alström), resgatada por ele no final de Serviço Secreto. O perigo, como o título O Círculo Dourado já adianta, é outro. Se Valentine (Samuel L. Jackson) era um megalomaníaco que pagava pinta de benfeitor, mas tudo que queria era oferecer um recomeço ao mundo, dizimando grande parte da população mundial, Poppy (Moore) é menos ambiciosa: ela só deseja ser reconhecida como uma legítima empresária, e não como uma traficante de drogas ilegais que precisa se esconder no meio das selvas do terceiro mundo.
Seu plano é simples: no produto que distribui, insere uma combinação que levará seus consumidores à morte: a alergia azul. Para salvar os contaminados, basta que os líderes mundiais – leia-se, o presidente dos Estados Unidos (este é, provavelmente, o primeiro grande projeto a refletir com exatidão a era Trump) – aceitem suas condições, e todo mundo receberá imediatamente um antídoto. Para ter certeza de que ninguém ficará no seu caminho, ela trata de eliminar sua maior ameaça: os Kingsman, quem mais? O único que sobra é Eggsy, ao lado do técnico Merlin (Mark Strong), que se vê obrigado a sair do escritório e colocar todos os seus conhecimentos em prática. E o que descobrem é que precisarão contar com seus colegas norte-americanos: os Stateman, cujos codinomes, ao invés de Cavaleiros da Távola Redonda, são de bebidas. Eles são liderados por Champanhe (Bridges), coordenados por Ginger (Berry), e possuem bons soldados, como Tequila (Tatum) e Whiskey (Pascal). O problema é que o primeiro é logo jogado para escanteio ao ser contaminado pela droga, e o segundo pode, ou não, ter segundas intenções. Em quem confiar, portanto?
Como se percebe, os paralelos entre um e outro filme são enormes. O desperdício dos novos talentos reunidos, no entanto, é impressionante. Moore, uma excelente atriz dramática, porém com pouca sorte no humor, mostra mais uma vez inaptidão para a comédia – ela tenta ser engraçada e pitoresca, mas sua caricatura é redundante. Todas as suas cenas foram feitas no mesmo cenário, assim como as de Bridges ou Tatum (esses, aparecendo menos tempo ainda). Firth, que antes conduzia o desenrolar dos acontecimentos, agora se esforça para acompanhá-los, enquanto que Pascal ou Berry parecem não entender o tipo de humor que o diretor Matthew Vaughn preguiçosamente procura. Melhor sorte tem sir Elton John, como ele mesmo, nas duas ou três sequências em que lhe é oferecido maior destaque – nada muito diferente do que se esperaria do ícone pop, mas entregue com exatidão, revelando-se o único à altura das expectativas.
E se Kingsman: O Círculo Dourado soa como uma grande e festiva oportunidade desperdiçada, essa impressão, no entanto, limita-se ao lado de cá da tela. Os intérpretes parecem ter se divertido do início ao fim, brincando com exageros e impossibilidades. Tanto que tudo fica pavimentado para uma previsível terceira parte. Será que Vaughn, responsável pelo competente X-Men: Primeira Classe (2011) e pelo revolucionário Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010) vai voltar à boa forma ou se deixará ser carregado, mais uma vez, pelos louros de outrora? Afinal, é bom estarmos cientes que este é o mesmo homem responsável por ter produzido o tenebroso Quarteto Fantástico (2015) e o limitado Voando Alto (2016). Em resumo, estamos diante de um tropeço, mas nada que faça os envolvidos saírem da linha. É possível um retorno em alto estilo e alcançando resultados mais consistentes, desde que se deixe de lado os confetes e se invista num roteiro original e com personagens melhor trabalhados. Afinal, nada pior do que acompanhar à distância a alegria dos outros – e não ser convidado para a festa.
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