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Sinopse
Albert Kinsey abala o conservadorismo da sociedade norte-americana ao lançar um livro, em 1948, sobre o comportamento sexual dos estadunidenses. O assunto, então pouco abordado, cai na boca do povo.
Crítica
Tão intensa quanto provocativa, a cinebiografia Kinsey: Vamos Falar de Sexo pagou o preço por não se curvar ao convencional ou corriqueiro. Tendo como base o excelente roteiro de Bill Condon, também diretor do filme (oscarizado por seu trabalho em Deuses e Monstros, 1998, e amaldiçoado por ter assumido a direção dos dois últimos episódios da Saga Crepúsculo), tem como foco de sua ação a vida e a obra do cientista e pesquisador Alfred Kinsey, que no final dos anos 1940 publicou o livro Comportamento Sexual no Macho Humano. Também conhecido como Relatório Kinsey, este foi um dos primeiros estudos profissionais feito sobre as práticas e hábitos sexuais do homem. E justamente por tratar de um tema tão delicado e propenso à polêmica, muita controvérsia gerou. E da mesma forma, tal fato se repetiu com o filme. O que impressiona, no entanto, é o fato de que entre os dois episódios tenha se passado mais de cinqüenta anos!
Kinsey conta a trajetória do estudioso desde a infância, quando foi criado numa família extremamente conservadora, até a chegada na universidade, o início da carreira profissional como biólogo, a descoberta do primeiro amor, as desajeitadas tentativas sexuais na juventude, a tendência pela praticidade, agindo sempre de modo objetivo e direto quanto aos seus interesses, e o debate gerado pelo estudo que o tornaria inesquecível. Se tivesse realizado algo superficial e leviano, o máximo que teria conseguido seria a atenção do círculo acadêmico. Mas como o que fez foi profundo e dedicado, despertou a curiosidade de toda a nação. Seu livro foi direto para o topo da lista dos mais vendidos, gerando continuações e acusações por parte de grupos tradicionalistas.
Essa gangorra de acontecimentos fica bem desenhada no filme de Condon. Com mão segura e uma ótima noção sobre o que deseja, o cineasta consegue entregar ao público uma obra que vai além do mero registro histórico, incitando na audiência a necessidade de discutir o assunto, levantando ideias e questionamentos, além da óbvia admiração. Isso também é provocado quando o objeto da análise é o desempenho do elenco, principalmente os protagonistas Liam Neeson e Laura Linney. Ambos foram indicados ao Globo de Ouro, e ela ainda bisou a nominação no Oscar – a única lembrança deste filme na maior festa do cinema hollywoodiano, uma participação tímida de um projeto que merecia constar nas principais categorias da premiação. Neeson encarna Kinsey com ousadia e fervor, desprendido de qualquer maneirismo. Já Linney nos apresenta uma das melhores performances de sua elogiada carreira. Outras participações relevantes são as de Peter Sarsgaard e do veterano John Lithgow, ambos perfeitos em suas composições, seja como o estudante disposto a tudo para demonstrar seu interesse ou como o patriarca igualmente dedicado em fazer valer seus ideais e combater suas frustrações.
Kinsey é uma aula, tanto de cinema quanto de humanidade. Ao abordar uma temática séria e necessária, consegue passar por ela com respeito e competência, sem em nenhum momento sucumbir pela grandiosidade de suas intenções. E se em tempos atuais ainda causa controvérsia a obra de um homem que procurou apenas tornar público o que todos nós fazemos às escondidas em nossos quartos, desmistificando conceitos e, principalmente, preconceitos, é vital que essa seja conhecida e discutida. É um pequeno passo de um caminho muito maior. Mas, ainda assim, um avanço.
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