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Sinopse

Thor Heyerdahl e cinco tripulantes abraçaram a missão de percorrer o Oceano Pacífico na jangada por ele construída em 1947. O desejo era provar que os sul-americanos se estabeleceram na Polinésia na era pré-colombiana.

Crítica

Em 1947, uma jangada batizada de Kon-Tiki partiu do Peru em direção à Polinésia liderada pelo aventureiro norueguês Thor Heyerdahl. O explorador acreditava que a região havia sido povoada pelos peruanos, e não pelos asiáticos, como era a teoria na época. Foi preciso navegar oito mil quilômetros com a embarcação, similar a de 1500 anos atrás, para provar que Thor estava correto. A história virou um livro chamado A Expedição Kon-Tiki, que foi publicado em mais de 60 países com mais de 25 milhões de cópias vendidas, além de um documentário com a mesma alcunha da jangada e que venceu o Oscar em 1950. Pois, mais de 60 anos depois, Thor retorna à maior festa do cinema mundial, só que desta vez em um belo formato ficcional.

O mais interessante do representante da Noruega nos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro é o formato “americanizado” (se assim podemos dizer) com que o longa-metragem foi tratado. Talvez pela experiência de seus realizadores, Joachim Rønning e Espen Sandberg, que em 2006 já haviam dirigido o divertido, mas banal, Bandidas. Porém, isso não é um problema. Pelo contrário. Por ser um filme que se passa a maior parte do tempo no mar, o gênero aventura (predominantemente hollywoodiano) acaba sendo o determinante neste conto, lembrando bons filmes como Mestre dos Mares (2002) e o recente As Aventuras de Pi (2012). Ainda, assim como estas duas obras citadas, a ação também dá espaço para o desenvolvimento dramático de seus personagens. A relação entre os seis homens que embarcam nesta aventura pelos mares é um dos pontos altos de A Aventura de Kon-Tiki, mesmo que no roteiro eles possam ser endeusados ou ridicularizados, como um bom clichê recheado de estereótipos quando um grupo de pessoas totalmente diferentes é retratado nas telas. Além de Thor como líder do grupo, pode-se destacar outros dois personagens que acabam tendo uma relevância maior (na trama, o que não significa que “na vida real” tenha sido assim): Knut, um militar que serve como “o corajoso” do bando; e Herman, o engenheiro medroso. É o embate entre estes dois tipos que acaba provocando alguns dos momentos de maior tensão e também emoção durante a viagem.

Como um bom filme de aventura, fantásticas cenas em que a ação toma conta também são essenciais. Entre ondas gigantes, a embarcação se depara com seus principais antagonistas: tubarões que estão em busca de sangue. Literalmente. Eles rondam a jangada a todo momento, às vezes causando estragos técnicos (como quando um tubarão branco come uma das cordas) ou mesmo diretamente ameaça à vida dos passageiros. Porém, além de divertidas, estas cenas são extremamente bem fotografadas, especialmente quando a câmera está submersa e podemos ver o paraíso da fauna aquática no Oceano Pacífico. Além de peixes dos mais variados tamanhos e cores, há uma belíssima sequência com enguias que iluminam as águas durante a noite, e outra em que a jangada precisa atravessar as ondas para chegar ao seu destino final. Uma aula de direção. Talvez o único problema do filme seja a relação desgastada de Thor com sua esposa, Liv, que não queria que ele embarcasse na expedição. Basicamente, o assunto é abordado apenas no início, antes da navegação, e ao final, como se o roteiro houvesse “lembrado de última hora” que havia esta ponta solta. Um problema que, se por um lado não diminui a qualidade da obra em si, por outro poderia ter sido mais explorado. Os demais conflitos do protagonista acabam ganhando mais destaque, como a falta de dinheiro (afinal, ninguém acreditava na sua “ridícula” ideia) ou a incessante (e cheia de dificuldades) proposta de transmitir ao governo e à mídia o seu passo a passo, não importando o ponto onde a embarcação estivesse.

Acima de tudo isso, A Aventura de Kon-Tiki não esquece sua ideia principal: mostrar que os oceanos não são barreiras, e sim estradas para novos paraísos, como o próprio Thor tanto gostava de realçar. A iniciativa de usar uma jangada idêntica aos dos povos milenares era uma loucura por si só. Construída apenas com toras de madeira amarradas por cordas (mesmo com a adesão de outros equipamentos como relógios, mapas, rádio, etc., mas que não interferiam na viagem em si), Thor conseguiu provar que uma simples embarcação poderia atravessar o imenso oceano. E, mesmo com tantos percalços, o filme consegue transmitir esta ideia sem floreios, da forma mais crua possível, o que dá mais vontade ainda de conferir o documentário original que o inspirou e que é homenageado na obra em sequências em preto e branco. Um belo pedaço da história das navegações que merece ser redescoberto.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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