Crítica
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Sinopse
Um grupo de mulheres do litoral potiguar luta para que a arte da tecelagem do labirinto não seja esquecida. Em meio a muitas adversidades elas tecem o fio de suas próprias histórias.
Crítica
Em meio à pluralidade de projetos buscando retratar a cultura local dentro da Mostra de Cinema de Gostoso, este documentário se destaca pelas escolhas convencionais de linguagem. Desde os letreiros iniciais, desaparecendo sob as casas e nuvens, até a utilização da música ambiente, com leves acordes dedilhados, percebe-se um tom inocente, certamente munido de ótimas intenções ao se aproximar das labirinteiras (costureiras do interior do Rio Grande do Norte). A diretora Renata Alves procura imortalizar a tradição local, em via de extinção, enquanto sublinha a força das mulheres idosas da região. Por isso, faz questão de estampar em letreiros o nome dessas mulheres, junto de suas idades avançadas, como lembrete fúnebre de que a prática está confinada ao esquecimento.
No entanto, Labirinteiras se torna excessivamente descritivo em sua condução: as mulheres apenas se apresentam, explicam há quanto tempo efetuam o labirinto e descrevem sua paixão por esta arte. Não existe qualquer forma de recuo, tampouco uma investigação mais ampla da direção – o prazer do labirinto é limitado a ao contentamento pessoal de suas produtoras, ao invés de uma relação com a sociedade e com consumidores. Ora, como vivem essas mulheres no dia a dia? O que mais fazem, quando não estão criando? Como percebem outras formas de arte e artesanato, e como interpretam as flutuações da economia para além do lamento sobre o declínio da atividade? O filme articula-se exclusivamente através dos depoimentos destas mulheres, o que favorece o valor de protagonismo das mesmas, porém impede um olhar multifacetado ao contexto social e cultural.
Em termos estéticos, o resultado se mostra simples: uma trilha sonora ambiente é utilizada a cada transição entre cenas, enquanto se evita qualquer forma de dissociação entre sons e imagens, ou ainda uso de material de arquivo. Segue-se um caminho linear – tão linear, aliás, que se conclui de modo abrupto, sem um desfecho propriamente dito. Em conjunção com eventuais desníveis no tratamento da luz, atinge-se uma obra restrita na amplitude de seu discurso. A simplicidade é bem-vinda em curtas-metragens estudantis (afinal, é preciso dominar a base antes de se partir às experimentações autorais), porém ela não dispensa a busca por uma forma à altura de seu conteúdo. Quanto maior a responsabilidade em relação ao tema (no caso, o trabalho precioso das labirinteiras), maior será o peso da forma empregada.
Ao menos, o filme cumprirá o objetivo proposto de dar voz a estas mulheres, devolvendo à comunidade local parte de sua própria riqueza e levando às telas do cinema figuras que raramente se tornariam protagonistas. Labirinteiras encontra seu valor enquanto registro histórico, e homenagem simbólica de mulheres a mulheres, através das gerações. Enquanto exercício de cinema, posiciona o objeto de estudo acima da estética, ainda que possa servir de primeiro passo a novas experiências mais ambiciosas da equipe.
Filme visto na 6ª Mostra de Cinema de Gostoso, em novembro de 2019.
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