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Sinopse

Masato é um jovem chef de lamen que, cheio de dúvidas sobre a morte de seus pais e seu passado, decide embarcar em uma jornada culinária em Singapura. Lá, ele descobre muito além de apenas deliciosos pratos.

Crítica

A parceria entre cinema e gastronomia não chega a ser nenhuma novidade: os dois, como bem sabemos, formam um par dos mais apreciados. No entanto, até pela natureza do ‘casal’, é raro nos depararmos com propostas mais ousadas num programa duplo como este – afinal, o bem estar provocado por um quase sempre é garantia de sucesso também para o segundo. Um filme muito polêmico, ousado ou controverso pode deixar seu público indisposto, assim como uma refeição que exagere nos temperos ou que aposte em ingredientes muito exóticos pode deixar um eventual espectador sem estômago para mais nada. Pois é justamente por trilhar esse caminho do meio, investindo em elementos mais seguros e menos arriscados, que Lámen Shop desenvolve sua história, tentando agradar à maior fatia possível da audiência, sem deixar, no entanto, ninguém verdadeiramente satisfeito. Tem seus méritos, mas é quase como um prato de entrada: serve para abrir o apetite, mas não enche a barriga de ninguém.

Prato típico japonês – um dos mais populares do país – o lámen é o carro-chefe do restaurante comandado por Kazuo (Tsuyoshi Ihara, de Cartas de Iwo Jima, 2006) e Masato (Takumi Saitoh, de 13 Assassinos, 2010), pai e filho. Quando o mais velho falece inesperadamente, deixando o jovem praticamente sem rumo, esse decide ir atrás de suas origens – mais precisamente, vai atrás da família da mãe, que faleceu quando ele era apenas uma criança. Essa mudança, entretanto, não será nada fácil: ela era de Singapura, lugar que ele desconhece e cujo único elo ativo que possui são as mensagens virtuais que volta e meia troca com a autora de um blog gastronômico de lá. Mesmo assim, acreditando que esses laços, ainda que frágeis, serão suficientes, ele parte em busca do próprio passado.

É curioso perceber como cada passo dessa trajetória é marcado por uma nova receita, experiência que o garoto rapidamente se aventura em frente ao fogão. Dessa forma, mais da metade da ação se passa em cozinhas ou restaurantes, com o protagonista preparando pratos tradicionais ou provando novidades do país que está visitando. Cada encontro – com a blogueira, que se torna amiga e confidente, ou com o tio, o primeiro que consegue retomar contato – é feito através de sabores e curiosidades sobre hábitos alimentares, prazeres da mesa e preferências na hora de comer e beber. Como tratam carnes e peixes, vegetais e legumes, frutas e doces, acaba se tornando um interessante passo a passo, que serve para estimular não apenas os olhos, mas também o paladar de quem estiver no lado de cá da tela. Em resumo, todo mundo come muito, de tudo e a todo instante.

Será no desenrolar dessa jornada de autoconhecimento que Masato irá se deparar com uma passagem trágica: quando a avó materna, ainda viva, se recusa a recebê-lo. Atrás das razões dessa rejeição ele descobre que o caso dos pais foi um drama nos mesmos moldes de Romeu & Julieta – por ser japonês, os carrascos dos singapurenses durante a Segunda Guerra Mundial, era renegado pela futura sogra. Quando, mesmo assim, os dois decidem se casar, ela é mandada embora de casa e não mais aceita pela família. Só que muitos anos se passaram, e qual a culpa do menino em todo esse imbróglio? Porém, como foi dito lá no começo, o que se persegue aqui é a conciliação, e qual jeito não seria melhor de fazer as pazes do que através de um jantar bem caprichado, ainda mais com a sua receita favorita?

Sem investir em nenhum terreno mais arriscado e indo sempre pelas opções mais seguras, o diretor Eric Khoo faz de Lámen Shop um passeio convencional pela gastronomia oriental, enchendo os olhos, mas oferecendo pouco como matéria de reflexão. Tímido em sua técnica e singelo nos recursos, apresenta personagens ingênuos e conflitos não muito convincentes, ainda que calcados em episódios verídicos. Com uma estrutura dramática digna de novelas mexicanas e recusando-se a aproveitar até mesmo os recursos turísticos dos lugares por onde transita, deixa em evidência estarem mais preocupados com o preparo dos alimentos que enchem a tela do que com o desenrolar da trama que tenta defender. Em resumo, não chega a provocar nenhuma indigestão, mas está longe de poder ser considerado um prato cheio.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Leonardo Ribeiro
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MÉDIA
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