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Crítica


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Sinopse

Há grandes mudanças acontecendo em Gotham e, para salvar a cidade do domínio hostil do Coringa, Batman terá que deixar de ser o justiceiro solitário e aprender a trabalhar em equipe. E talvez, só talvez, também terá que aprender a relaxar.

Crítica

Não tem para ninguém. Quando Gotham City parece irremediavelmente fadada a sucumbir diante de um novo e furioso ataque do Curinga, vilão, desta vez, auxiliado por praticamente todos os principais malvados que já assolaram a cidade, eis que surge Batman para devolver a paz à população, exibindo heroísmo e um orgulho imenso de sua barriga tanquinho!?. Pegando carona no sucesso de Uma Aventura Lego (2014), LEGO Batman: O Filme exibe a mesma qualidade visual do antecessor que, inclusive, chegou a disputar o Oscar. Também dele, o novo filme preserva o espírito brincalhão, ponto nevrálgico de uma narrativa que visa divertir a criançada, sem descuidar do entretenimento dos pais que invariavelmente os acompanham às salas de cinema. Até mesmo os dramas pesados dos personagens viram piada, como a orfandade de Bruce Wayne e os traumas irreversíveis que dela decorreram. Já o Coringa quer somente ser aceito, de preferência em alto e bom som, como arqui-inimigo.

Uma Aventura Lego era mais complexo, pois se valia, inclusive, da ciência de estarmos num universo de brinquedo para fazer rir. Tudo não passava da fabulação de um menino com dificuldades para se conectar com o pai. Desta vez, embora a estrutura seja simples, justamente por não utilizar a morfologia das peças e da própria dinâmica de montagem delas como debochada autorreferência, o diretor Chris McKay conduz uma trama vibrante, perpassada por uma mensagem facilmente identificável. Batman se vangloria de sua autonomia, até que o Comissário Gordon se aposenta, dando lugar à sua voluntariosa filha, pela qual o morcegão cai de amores. Paralelamente, o Coringa não mede esforços para chamar a atenção do paladino de Gotham, menos para afrontá-lo, mais para reivindicar, quase carinhosamente, sua posição de antagonista mor. O Batman é tão durão e autocentrado que nem mesmo confessa ter alguém à altura para se preocupar. Aí que mora boa parte da graça.

Alguns dos melhores momentos de LEGO Batman: O Filme, aliás, se dão justamente nas cenas em que os roteiristas habilmente exploram o desapontamento do carente vilão frente à recusa de Batman de admitir sua importância. Em vários desses instantes, parece que estamos vendo um casal em crise, artifício que provoca bons efeitos cômicos. Já a entrada em cena do menino prodígio, que será o Robin, deflagra o ponto fraco do Batman, ou seja, a dificuldade para criar laços, por medo de perder pessoas queridas. O longa-metragem possui quase todo o rol de figuras que gravitam em torno do homem-morcego, inclusive o Superman, aqui encarado como oponente, dado que remete imediatamente ao live-action Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016). Mas esse é apenas o evidente dos abundantes easter eggs presentes. O mais inteligente, e que poderá facilmente passar despercebido, é o spray contra tubarões, alusão ao bizarro artefato utilizado na icônica e sessentista bat-série de televisão.

Essas piscadelas ao público familiarizado com a mitologia do Batman, bem como às suas várias versões, em diferentes mídias, ao longo do tempo, ajudam a tornar LEGO Batman: O Filme ainda mais espirituoso e instigante. Outra escolha que colabora para isso é a sucessão de crossovers, já que entram na briga personagens famosos de O Senhor dos Anéis, Harry Potter, Matrix, e até mesmo os Gremlins, surpresas insólitas do vasto catálogo da LEGO. O filme de Chris McKay compensa, e muito, a falta de profundidade – sobretudo, novamente, se comparado a Uma Aventura Lego (2014), que tinha mais camadas – com a frequência considerável de tiradas que tornam tudo muito engraçado e agravável de ser assistido. A consolidação da mensagem central impõe o fim da jornada, mas o que verdadeiramente sobressai é a criatividade, bem como as constantes “importações” de elementos e personagens externos à Gotham, que auxiliam na construção de uma animação tão dinâmica quanto divertida.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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