Crítica
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Sinopse
Ezequiel é um ex-piloto que vive há 15 anos longe de sua cidade natal. Depois de todo esse tempo, ele decide voltar para disputar sua última corrida. Lá ele vai ter que enfrentar alguns personagens de seu passado, como seu antigo affair, Stela, e também Ângelo, o patriarca da família. Ele também vai cruzar com Pedro, um jovem de 16 anos que sonha em pilotar.
Crítica
A sequência que abre Leste Oeste, longa-metragem paranaense dirigido por Rodrigo Grota, mostra uma estrada na perspectiva de quem a explora. Uma narração melancólica antecipa o que está por vir, numa abordagem que remete ao pungente Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo (2009). Ausência e afeto também são temas aqui, assim como o peso da morte, numa produção pequena e intimista que se vale das pistas de corrida automobilísticas para ilustrar o movimento de tantas vidas: andamos em círculo, num eterno retorno que nos leva sempre para o mesmo lugar.
Ezequiel (Felipe Kannenberg) é um ex-corredor de Kart que volta para sua cidade de origem a pedido do pai, Ângelo (José Maschio). Depois de 15 anos, ele redescobre o que deixou para trás nas memórias de um passado trágico, retomado a partir do contato com um amor mal resolvido, Stela (Simone Iliescu), e o filho dela, Pedro, que deseja ser piloto profissional. Numa narrativa cadente que toma tempo para revelar os fantasmas do passado de Ezequiel e das pessoas ao seu redor, Leste Oeste tem na imprecisão geográfica de seu título a configuração de seu protagonista, que nunca diz de onde veio e parece não saber para onde ir.
Batizado a partir do nome de uma das maiores avenidas de Londrina, onde o filme foi produzido, este é o primeiro longa-metragem realizado na cidade paranaense. No entanto, Rodrigo Grota, que assina roteiro, direção e montagem, possui um prolífico e multipremiado histórico na condução de curtas-metragens como Booker Pitman (2008), Haruo Ohara (2010) e O Castelo (2013). Grota demonstra maturidade na condução de uma história que se contrapõe à velocidade dos carros que perpassam tantas de suas sequências; a construção dos personagens e de seus dramas é lenta e contemplativa. A fotografia de Guilherme Gerais complementa esta característica em cores frias e amareladas numa textura quase granulada, que, somada à trilha embalada pelo rock dos anos 1990, reconstrói o passado nostálgico e afetivo do protagonista.
A introspecção de Ezequiel ganha com as nuances que Felipe Kannenberg imprime ao personagem, numa concepção dura e muito apoiada na interpretação do olhar, que por vezes diz mais que seus diálogos. Simone Iliescu, como Stela, não demonstra muita naturalidade em algumas de suas cenas, mas justifica sua presença quando protagoniza um dos momentos mais sensíveis do longa, ao cantar com o acompanhamento de uma trilha audível apenas em seus fones de ouvido, nunca para o espectador. Há um elenco coadjuvante coeso, porém o filme é principalmente desses dois atores, que funcionam juntos e dividem bonitas passagens mesmo quando separados, como na sequência que encerra o longa.
Leste Oeste se posiciona como um pequeno grande filme; o orçamento pode ser de um curta-metragem, mas suas ambições são declaradamente maiores. Há alguns tropeços no caminho, como em cenas que parecem desconexas, tramas mal resolvidas (o conflito entre Pedro e seu amigo) e na representação pouco dinâmica das corridas. Ainda assim, trata-se de um trabalho delicado em suas intenções, memorável.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Conrado Heoli | 7 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
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