Crítica
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Sinopse
Crítica
Letra e Música é uma comédia romântica - e se você está minimamente acostumado a ler minhas críticas, sabe o quanto desprezo este gênero cinematográfico. Sim, todos os filmes são iguais, apenas mostrando os dois atores do cartaz se apaixonando - brigando - se separando - voltando a ficar juntos. E Letra e Música não é diferente. Ao menos não totalmente. Porque o interessante aqui não é a relação que surge entre o quase cinqüentão Hugh Grant e a recém trintona Drew Barrymore - é, sim, o que está além disso, os motivos que levaram os dois a se encontrarem, as elaboradas personalidades dos personagens e os percalços que ambos enfrentam juntos. Por vezes até esquecemos estarmos diante de mais uma famigerada "romcom". E isso, acredite, não poderia ser mais positivo.
Letra e Música ganha o espectador já nos créditos de abertura, durante a exibição do videoclipe falso da ótima canção Pop Goes My Heart, da falsa banda PoP, falso sucesso dos anos 80 composta pela falsa dupla composta por Grant e um amigo de faculdade. Ali, de imediato, entramos no clima oitentista que permeia toda a trama. Grant é um artista em decadência que vive do passado. Ele recebe uma nova chance ao ser chamado por uma ídolo adolescente, Cora (a novata Haley Bennet), um híbrido de Christina Aguilera e Shakira que é fã dele e quer que ele componha um hit para ambos cantarem juntos. O problema é que ele até sabe compor, porém é péssimo letrista. Mas a ajuda virá do lugar mais inesperado: a tresloucada moça que cuida das plantas dele, uma alegrinha Barrymore, que imediatamente após cantarolar alguns versos inspirados é chamada para formar dupla com ele neste futuro sucesso. Apesar a diferença de idade, Grant e Barrymore formam um casal adorável na tela - logo esquecemos que ele poderia ser pai dela! A química é quase visível, e o bom entrosamento deles acrescenta muito ao resultado final. Claro que colabora o fato de ambos não serem estranhos no gênero, e estarem quase reprisando antigos papéis. Grant, mais no automático, lembra muito o milionário aborrecido de Um Grande Garoto, assim como Barrymore aparece tão entusiasmada e 'old fashion' quanto no divertido Afinado no Amor. E com ambos bem à vontade em cena, a descontração não poderia ser maior.
A trama de Letra e Música não é nada original. Com alguns desvios desnecessários, como o envolvimento de Drew com um antigo tutor (Campbell Scott, pouco aproveitado), o filme ganha mesmo quando os protagonistas estão envolvidos na missão de recuperar o espírito de duas décadas atrás e remodelá-lo sob um contexto e uma visão atual, porém não menos saudosista. A falta de vergonha em se assumirem ultrapassados e exagerados só tende a conquistar o espectador, imerso nesta viagem do tempo iluminada e hilariante. Outro ponto difícil de esquecer são as pequenas participações da fantástica Kristen Johnston (do antigo seriado 3rd Rock From the Sun), escassas demais diante do enorme talento da comediante. Cada vez que ela entra em cena, no papel da irmã de Drew, a situação muda completamente, acrescentando um dinamisco único.
Simples, com poucas reviravoltas e bastante previsível, Letra e Música não foi um sucesso de bilheteria, e, apesar das boas críticas recebidas, não irá mudar a vida de ninguém. Mesmo assim, é uma pequena preciosidade, daquelas que merecem ser degustadas com deleite. Com direção e roteiro de Marc Lawrence, que antes fizera o irrelevante Amor à Segunda Vista (também com Grant, ao lado de Sandra Bullock), tem tudo para se tornar um clássico da Sessão da Tarde daqui há alguns anos. Somente pela trilha sonora já valeria a pena. Agora, quando vemos dois astros inteiramente entregues a uma bobagem tão divertida quanto esta, o prazer é inegável.
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