Crítica
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Sinopse
Daryn é um ótimo aluno, com caminho traçado para ingressar em Harvard após o Ensino Médio. Um dia, ele se apaixona por Isabelle, garota rebelde, vítima de um câncer em fase terminal. A vida regrada do garoto sofre transformações radicais quando ele decide oferecer à amada o melhor ano de sua vida.
Crítica
Já se passaram sete anos desde A Culpa É das Estrelas (2014), mas o cinema adolescente ainda não superou o impacto deste filme. O encontro tórrido entre jovens, pelo menos um deles marcado por uma doença grave, se encarregou de aproximar a juventude da morte. Some a ideia de que “você ainda tem a vida inteira pela frente”: o primeiro amor passa a ser o último, tornando-o ainda mais especial. Subitamente, a figura amada se converte de fato no “homem da minha vida”, ou a “mulher da minha vida”. Aquela crença profunda num primeiro amor inabalável se traduz na tese de que o afeto supera a existência – afinal, posso continuar amando uma pessoa morta. O romantismo fúnebre redescobre a potência das paixões adolescentes, que obviamente nasceram muito antes da adaptação literária de John Green – vide Romeu e Julieta -, porém se tornaram um lucrativo nicho de mercado a partir do sucesso estrondoso deste filme. Vieram então Se Eu Ficar (2014), Eu, Você e a Garota que Vai Morrer (2015), Como Eu Era Antes de Você (2016), Tudo e Todas as Coisas (2017), Sol da Meia-Noite (2018) e A Cinco Passos de Você (2019), entre outros, explorando leves variações da premissa.
Em 2021, os produtores Will Smith e Jada Pinkett Smith oferecem ao filho, Jaden Smith, uma tentativa dentro do filão que se acreditava extinto. Ele interpreta Daryn, garoto prodígio de uma família riquíssima. O pai sonha com uma admissão em Harvard, criando em seu escritório um grande mural com o passo a passo para a conquista do filho. No entanto, o estudante se apaixona perdidamente por uma garçonete de cabelos coloridos (ou seja, uma rebelde). O projeto incorpora outras promessas da paixão ideal: a noção de que os opostos se atraem, a crença no amor à primeira vista, a sugestão de que a alma gêmea desperta o melhor de nós mesmos. Logo, o garoto psicorrígido não será tão tímido assim, e a garota inconsequente aprenderá a estabelecer laços sociais – tudo isso antes de um ano de relacionamento, prazo estipulado para que ela morra de um câncer nos ovários. O câncer permanece a doença mais popular em romances adolescentes, talvez por despertar uma identificação universal. Os criadores têm apostado ou na doença mais comum, ou então na mais espetacular e improvável (caso de Sol da Meia-Noite e Tudo e Todas as Coisas). (Aliás, a formidável esquete cômica do programa Saturday Night Live, satirizando este filão, imaginava o romance com uma vítima de Ebola).
A Vida em um Ano (2020) cumpre satisfatoriamente o seu propósito. Cara Delevingne e Jaden Smith estão longe de serem atores experientes, apreciados na indústria, porém correspondem ao imaginário esperado de cada personagem: ela, a jovem intempestiva; ele, o rapaz comportado e rico. O fato de a atriz ter 28 anos de idade, e o rapaz, 22, não impede o diretor Mitja Okorn de escalá-los no papel de adolescentes discutindo a entrada na faculdade após o Ensino Médio. Afinal, estamos no terreno da idealização, ao invés do naturalismo: a partir da união entre eles, nada mais importa no mundo. A dupla não possui responsabilidades para além de simular passeios, casamentos e outras brincadeiras. Jamais se descobre de onde Isabelle, moribunda e desempregada, retira recursos para tratamentos caros, ou como Daryn escapa por tanto tempo à vigilância ferrenha dos pais. O adolescente apaixonado nunca tenta compreender a doença de sua amada, nem encontrar soluções alternativas, paliativas etc. Ele aceita a morte iminente como um desafio a cumprir, a exemplo de uma de suas competições de atletismo. “Como fazer uma mulher feliz em um ano” seria a meta. O garoto prodígio conquista seus objetivos mais uma vez.
O resultado seria mais potente caso o cineasta não acelerasse tantos conflitos e ignorasse importantes passagens do tempo. Desde a cena inicial, quando Daryn corre pelas ruas, a montagem fragmentada e os múltiplos posicionamentos da câmera acenam à estética do videoclipe. Em seguida, tanto a declaração de amor incondicional quanto a revelação de Isabelle sobre a doença surgem de maneira repentina. Diante da reiterada oposição do pai ao romance, o jovem insiste num jantar em família, para que o filme possa acelerar as brigas. Em seguida, tanto ele quanto ela farão discursos inspiradores a respeito do amor e a importância de aceitar o ponto de vista alheio, em monólogos artificiais. A aparição súbita de um músico disposto a gravar as músicas de Daryn, a disposição irrestrita dos amigos dele em dedicarem dias inteiros ajudando o casal, e o reencontro com a mãe distante revelam outro recurso comum aos romances de adolescentes em fase terminal: o aparelhamento do mundo ao redor. Nenhum personagem coadjuvante possui vida e conflitos próprios fora da ajuda a Daryn e Isabelle. Em paralelo, o prazo de um ano, estipulado pelo título, jamais se torna uma fronteira clara para o casal, visto que Okorn tem dificuldades para trabalhar a progressão temporal.
Jaden Smith se esforça para comprovar seu talento dramático, chorando com gosto em pelo menos meia dúzia de cenas. Ora, o problema se encontra na concepção de que cenas de catarse constituem grandes momentos de entrega – silêncios e ambiguidades são muito mais preciosos enquanto construção de jogo cênico. Como diria o preparador de atores Wolney de Assis, o bom filme deve fazer o espectador chorar, ao invés de solicitar aos personagens que chorem o tempo todo. No entanto, o cineasta esloveno acredita em alguma expressão da verdade pelas lágrimas, intensificando o melodrama conforme a narrativa avança. Na sequência do casamento, ou no ataque de Daryn no corredor do hospital, o teor elevadíssimo beira a paródia. Cara Delevingne, acostumada a esse tipo de personagens, encarna a garota “alternativa” com naturalidade. O incômodo provém do personagem do pai: Cuba Gooding Jr. não consegue trazer qualquer variação ao sujeito controlador, repetindo minuto após minuto a importância do sucesso acadêmico. A narrativa se encerra com disc-players e CDs gravados – o romance de morte é vintage, ainda que evoque um passado recente –, além de narrações inspiradoras em off e promessas de recomeço. A Vida em um Ano é prejudicado por chegar tarde neste subgênero, sem pretensão de subverter a fórmula. Inevitavelmente, será comparado com produções que efetuaram os mesmos passos, com igual ou maior eficiência do que ele.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Bruno Carmelo | 5 |
Lucas Salgado | 4 |
MÉDIA | 4.5 |
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