Crítica
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Sinopse
Bruce Wayne convoca Diane Prince para combater um inimigo terrível. Inspirado pelo altruísmo do Super Homem, o alterego do Homem Morcego busca recrutar todos que puderem lutar contra o destino catastrófico que se aproxima. Aquaman, Ciborgue, e Flash felizmente entram para o time.
Crítica
Em termos gerais, o cinema da atualidade é bem mais apressado do que o produzido em décadas passadas. E isso não diz respeito apenas e estritamente à duração dos planos, cada vez menor, algo que impõe frequentemente um ritmo frenético às tramas. Essa celeridade contemporânea também está presente, por desdobramento natural, no modo como os conflitos e dilemas são apressadamente desenvolvidos, muitas vezes impondo como resultado uma considerável superficialidade. Liga da Justiça de Zack Snyder é um projeto singular, nascido do clamor de alguns fãs pela concretização da visão do cineasta Zack Snyder sobre a reunião dos principais super-heróis da DC Comics a fim de salvaguardar a Terra de uma ameaça. Por conta de uma tragédia familiar, o realizador foi obrigado anteriormente a deixar a finalização do trabalho nas mãos de Joss Whedon. O resultado foi controverso e desde então há a reivindicação quanto ao que seria o filme originalmente. E Snyder ganhou a liberdade que talvez não teria inicialmente, sobretudo no que tange à duração. Com pouco mais de quatro horas, essa versão não economiza tempo nos capítulos introdutórios que funcionam, em conjunto, como um grande prólogo encarregado de explicar bem o papel de cada personagem.
Curiosamente, mesmo com quase duas horas de apresentação à disposição, Zack Snyder mantém o segmento eficiente somente do ponto de vista contextual. Vemos a peregrinação de Bruce Wayne (Ben Affleck, responsável pela criação de um Batman notavelmente soturno e torturado) pelo mundo a fim de reunir pessoas com poderes extraordinários para garantir defesas contra perigos excepcionais. O filho fraturado de Gotham City é um homem movido pela culpa de ter se colocado contra o agora falecido Superman (Henry Cavill). Mas, não há um aprofundamento nessa peculiaridade da motivação nobre alimentada por um sentimento tão volátil e autopunitivo. Diana Prince (Gal Gadot) é, nesse instante inicial, um espelho da tragédia de suas irmãs Amazonas que sucumbem diante da sanha do Lobo da Estepe (voz de Ciarán Hinds) em busca das Caixas Maternas. Uma vez sincronizados, os artefatos prenunciam o apocalipse. Aliás, a cena das guerreiras lutando como podem contra uma força superior é muito bem filmada, garantia da expressão da bravura dos defensores do planeta. Aquaman (Jason Momoa) é o príncipe desgarrado, aquele que não se conecta com seu povo e desdenha da missão de assumir o trono, logo hesitando seguir sua sina. Pena que o senhor das marés seja, geralmente, restrito ao mero papel de guerreiro coadjuvante dos figurões principais.
Já Barry Allen (Ezra Miller), um alívio cômico atenuado por Snyder, também exibe manchas no passado doméstico. Por fim, Victor Stone (Ray Fisher) tem rusgas com o pai e sente dificuldade de integrar-se, basicamente por imaginar-se uma aberração. Ele ganha terreno e isso melhora o todo. Em Liga da Justiça de Zack Snyder há espaço para vermos essas conjunturas, algo bom para o contexto, mas sem um tratamento equivalente à espessura dramática desses personagens. Todos eles são entendidos dentro de suas respectivas dinâmicas trágicas, sobretudo contidos em núcleos familiares, tendo elos oscilantes com pais e outros consanguíneos. O calcanhar de Aquiles do filme segue sendo a frustração da expectativa de interseção mais substancial entre as capacidades inimagináveis desses seres e suas fragilidades igualmente essenciais. Também não é muito desenvolvido o tônus do vínculo que os alinhava. Além da valentia e do senso do dever – em alguns, imediato, noutros, desperto ao longo da aventura –, eles pouco apresentam o porquê estabelecem laços nessa coalização. A despeito disso, Zack Snyder se aplica em criar um evento grandioso, conferindo o devido lugar ao assecla, por exemplo, porém não deixando ele virar um mero títere a ser destruído no encerramento.
Liga da Justiça de Zack Snyder tem um ritmo fluido, o que não deixa os 240 minutos pesarem tanto. O cineasta adia a menção ao Superman, postergando a lógica que envolve uma possível ressurreição por meio das Caixas Maternas. A cena da aliança na nave kryptoniana, com Cyborgue e Flash desempenhando papeis vitais, é repleta da tensão expandida no instante em que o salvador da humanidade se reergue desorientado. A ocasião deixa uma pulga atrás da orelha do espectador: afinal de contas, se, por qualquer motivo, o Superman decidir voltar-se contra os terráqueos, quem poderá defender o planeta azul? Snyder habilmente amplia essa noção valendo-se da inédita passagem do sonho do Homem-Morcego, com direito ao retorno de Jared Leto na pele do Coringa (totalmente diferente do visto em Esquadrão Suicida, 2016) num futuro pós-apocalítico. Ali são mencionadas várias mortes de homens/mulheres de valor e desenhado um cenário aterrador (premonição?). Também é um lucro dessa versão a presença de Darkseid (voz de Ray Porter), não apenas citado enquanto figura temível, mas presente como o vilão, uma forma de acenar ao porvir incerto e nefasto.
Portanto, Zack Snyder dá um ganho significativo à aventura, à conjunção de fatores que levam a Terra a sofrer a investida do ser com descomunal sede de destruição, mas o todo segue fragilizado pela insuficiente densidade das pessoas. Liga da Justiça de Zack Snyder se esforça para contradizer a prevalência da ação ou, ao menos, a fim de tornar orgânica a relação com os dramas prosaicos. Entretanto, mesmo dispondo do tempo certamente vedado a ele caso estivéssemos falando de um projeto cinematográfico – o novo corte foi lançado diretamente em streaming – o realizador deixa a desejar no quesito desenvolvimento. Para compensar, é bem mais empolgante o retorno triunfal do Superman com seu estiloso traje negro, melhorada a noção da quase onipotência do extraterrestre nascido em Krypton, vitaminada a ameaça e os gatilhos à continuação do universo cinematográfico da DC Comics, embora a Warner Bros. tenha dito que Liga da Justiça (2017) continua a referência canônica. Pena. Os traços autoriais de Snyder (câmeras lentas, imagens esmaecidas e especial destaque à ideia visualmente concebida de uma era crepuscular) funcionam bem para adicionar voltagens ao andamento do enredo e auxiliar à construção da compreensão cinematográfica que ganha um caráter majestoso. Sombrio e inclinado ao solene, o filme preserva um espaço generoso à esperança e à luz.
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