Crítica


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Sinopse

Linda é uma cativante empregada doméstica que revela segredos e fantasias eróticas de uma família. A atração que desperta em cada membro da família a leva a exercer poder sobre eles. Por trás de suas vidas aparentemente felizes existe uma complexidade inesperada. Selecionado para o 34º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema (2024).

Crítica

Seja no cultuado Teorema (1968), de Pier Paolo Pasolini, ou no recente (e hypado) Saltburn (2023), de Emerald Fennell, a ideia de personagem enigmático que se insere em ambiente familiar aparentemente impecável é sempre instigante. Não sabemos o que esperar dessa figura, cujo enigma se traduz em gestos e olhares quase hipnóticos. A tensão aumenta quando há carga de sensualidade latente, uma fagulha que ameaça explodir a qualquer momento. Esse é o ponto de partida de Linda, a estreia da cineasta argentina Mariana Wainstein, que nos envolve em atmosfera de mistério quase poético, deixando sutis rastros do que pode vir a seguir.

Na trama, Linda assume o papel de empregada temporária em lar de classe alta na Argentina, atraindo, imediatamente, todos os olhares. Sua beleza e postura altiva, porém silenciosa, a tornam presença perturbadora. Camilo, o patriarca (interpretado por Rafael Spregelburd), se vê fascinado; o filho adolescente Ceferino (Felipe Gonzalez Otaño), pulsando com hormônios, se enche de desejo; a filha jovem Matilda (vivida por Minerva Casero), ainda em busca de autoconfiança, olha para ela com admiração; e Luisa, a mãe (Julieta Cardinali), encontra em Linda figura intrigante. A chegada dessa moça, que parece carregar mais do que aparenta, agita a rotina familiar e questiona suas frágeis dinâmicas.

A grande força da obra reside na performance de María Eugenia Suárez, a popular “China” Suárez, amplamente conhecida na Argentina por sua carreira em novelas teens como Quase Anjos (2007-2010). Linda não busca agradar: seu olhar cínico e indecifrável domina a narrativa, sem nunca revelar plenamente suas intenções. A opção por sustentar essa ambiguidade do início ao fim gera tensão genuína, envolvente, que captura o público. Quem é, afinal, essa jovem de beleza singular que se submete aos caprichos de quem parece desprezar? 

Essas pessoas que orbitam ao redor de Linda são igualmente carregados de simbolismo e refletem críticas ao status quo da sociedade latina. Camilo é bon-vivant mascarado de arrogância; Ceferino, jovem que enxerga a empregada como propriedade; Matilda, insegura por ter o mundo à sua disposição; e Luisa, esgotada pela necessidade de manter a aparência de família modelo. Inteligentes e admirados, eles ostentam perfeição que o filme logo põe à prova. Ainda que a desconstrução dessas máscaras sociais não seja tema novo, Mariana explora detalhes sutis, trazendo frescor ao retrato das convenções familiares modernas.

Aos olhos dos que a rodeiam, Linda poderia ser muito mais do que empregada: poderia ser modelo, a esposa de um homem abastado, alguém que jogaria com o cinismo para seduzir poderosos ou até mesmo a musa de um milionário. Um dos personagens chega a sugerir essa possibilidade citando o famoso "velho da lancha", mas para ela, o interesse está em outro lugar. A jovem tem propósitos ocultos e sentimentos que guarda com intensidade quase intocável, insinuando que, para ela, o que importa está bem distante do óbvio.

Filme visto durante o 34º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema (2024).

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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