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Sinopse

Sir Lionel Frost se considera o maior aventureiro do mundo, pois está sempre atrás de mitos e monstros nos quatro cantos do planeta. O problema é que ninguém o leva a sério. Sua última chance de obter respeito e admiração é provando a existência de um ancestral primitivo do homem, uma figura que muitos já ouviram falar, mas ninguém encontrou.

Crítica

Há cerca de um ano, assumiu-se o ponto de vista dos Pés Grandes quando esses descobrem a existência dos seres humanos pela primeira vez, em Pé Pequeno (2018). Alguns meses depois, esse mesmo encontro se deu novamente, mas agora invertendo a dinâmica da narrativa, pois o protagonismo de Abominável (2019) estava na garota que decide ajudar uma destas criaturas gigantescas a voltar para casa. Pois como diz o ditado, se um é pouco e dois é bom, também é certo que três é demais. Exatamente o que acontece em Link Perdido, no qual estes seres mitológicos estão mais uma vez em cena, porém sob outra perspectiva: a do primo chato (ou seria o cunhado insuportável?) que chega de visita sem avisar e ainda faz questão de abusar da hospitalidade. Se tal situação já é difícil de aguentar entre familiares mais ou menos próximos, imagina quando o recém-chegado é um total desconhecido até poucos minutos atrás?

Após ser indicado ao Oscar pelos incríveis Coraline e o Mundo Secreto (2009), ParaNorman (2012), Os Boxtrolls (2014) e Kubo e as Cordas Mágicas (2016) – ou seja, 100% de aproveitamento – o estúdio de animação Laika dá, enfim, seu primeiro passo em falso com Link Perdido (se até a Pixar pode errar de vez em quando, nada mais causa surpresas no ramo da animação). É curioso, no entanto, o exercício para tentar descobrir o que teria dado errado nessa produção de US$ 100 milhões (como se percebe, o investimento não foi pouco). Está tudo lá: os elementos certos, os melhores profissionais da área, talentos vocais de destaque, humor na medida certa, aventura sem exageros. Mesmo assim, ainda falta alguma coisa. E a isso poderia ser dado o nome de ‘química’. Falta liga. Algo que conecte cada uma dessas partes e lhes conceda algum sentido além do corriqueiro e banal.

Sir Lionel Frost (voz de Hugh Jackman no original) é um aventureiro intrépido, que não tem medo do perigo e está sempre disposto para a próxima jornada. Logo no começo, o vemos enfrentando o Monstro do Lago Ness, um embate que termina afugentando seu ajudante, que se amedronta diante de tamanho perigo, e ainda o deixa sem nenhum registro que possa servir de comprovação de que tal duelo tenha, de fato, acontecido. Disposto a provar seu talento como explorador, ao receber uma mensagem misteriosa a respeito da possível existência de um Sasquatch (o Pé Grande que habitaria a região entre os Estados Unidos e o Canadá), ele parte no seu encalço sem hesitar. Isso motiva seu maior competidor, por sua vez, a mover mundo e fundos para sabotar suas intenções, uma vez que não deseja ver sua posição ameaçada. Como se percebe, é um argumento bastante próximo daquele visto, recentemente, em A Lenda de Tarzan (2016). Afinal, tanto num quanto noutro, o desenrolar dos acontecimentos é tão previsível quanto entediante.

Respondendo a uma demanda antiga, mas que agora parece ter encontrado um espaço de maior destaque – ao menos na produção hollywoodiana – quanto ao protagonismo feminino, Link Perdido não perde tempo para inserir uma garota entre as personagens principais. Se Lionel é o mocinho e o Sr. Link (voz de Zach Galifianakis) acaba por assumir o posto de amigo atrapalhado, somente em Adelina Fortnight (voz de Zoe Saldana) será possível identificar a força e a determinação que esse tipo de trabalho exige. Como se percebe, ainda que coadjuvante, será ela a responsável pelo sucesso da empreitada. E entre armadilhas, arapucas e ataques inesperados, tudo o que terão que fazer é levar o último de sua espécie ao encontro dos seus parentes distantes. Quem? Os Abomináveis Monstros das Neves, é claro. Tudo o que ele quer, enfim, é estar entre os seus e se sentir, mais uma vez, em casa. Mas o que estes, prestes a serem invadidos, desejam?

Frustrando as expectativas de diferentes e desajeitadas maneiras, Link Perdido se equivoca ainda ao insistir numa figura-chave ultrapassada – o herói Frost é um James Bond mais Roger Moore ou Pierce Brosnan e menos Sean Connery ou Daniel Craig, se é que a analogia faz sentido – e num personagem-título que é quase um adereço, servindo apenas para piadas ultrapassadas (como a calça que rasga nos fundilhos ou a janela aberta com um soco) e como princípio, nunca desenvolvimento – ele é, afinal, apenas o motivo para se ir do ponto A ou B, tendo ingerência quase nula no restante do processo. É de se lamentar ainda as possibilidades desperdiçadas – como a preferência da criatura por ser chamada de Susan, sendo que se trata de um macho de sua espécie, discussão que acaba reduzida a uma piada passageira, quando poderia ter tantas outras implicações, todas, obviamente, ignoradas, ou a controversa figura da Velha Senhora (voz de Emma Thompson), relegada a uma mera rabugice, a despeito da amplitude das suas motivações. Chris Butler, em seu primeiro trabalho após o incrível ParaNorman (2012), prometia mais. É de se lamentar que, assim como esse filme, tenha se contentado em entregar apenas o mínimo exigido, deixando passar qualquer oportunidade de superar tais expectativas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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