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Sinopse

Little Boy: Além do Impossível: Pepper é um menino de oito anos que, para a sua idade, é muito mais baixo do que deveria, daí o seu apelido: Little Boy. Convivendo constantemente com as pessoas caçoando de sua estatura, o garotinho se apega fortemente ao pai, James, que se torna seu melhor e único amigo. Entretanto, os eventos da Segunda Guerra Mundial fazem com o homem seja convocado pelo exército, deixando o pequeno Pepper e sua esposa, Emma, sozinhos. Drama.

Crítica

Já disseram que a fé move montanhas. Em Little Boy: Além do Impossível, esta é uma das várias passagens bíblicas que são interpretadas literalmente durante a mistura de fábula e fantasia que move o filme de Alejandro Monteverde. Coprodução entre Estados Unidos e México que ganhou distribuição no Brasil pela rede Televisa, o que mais impressiona no longa-metragem é sua dramaticidade exacerbada e manipuladora, repleta de moralismos rasos. Eis um novelão mexicano de 20 milhões de dólares.

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O pequeno garoto do título é Pepper Flynt Busbee (Jakob Salvati), que recebe o apelido pejorativo por estar muito abaixo da estatura normal das crianças de sua idade. Ele vive com os pais e o irmão na fictícia cidade litorânea de O’Hare, na Califórnia, aclamada como um típico cartão-postal dos anos 1940. Para se esconder dos garotos violentos de seu bairro, o menino mergulha no mundo lúdico repleto de aventuras proposto por seu pai, James Busbee (Michael Rapaport), mas tudo termina quando este é convocado para servir o país durante a Segunda Guerra Mundial.

O impossível do (sempre) desnecessário subtítulo brasileiro faz referência aos desafios pelos quais ele deveria encarar os dilemas corriqueiros da infância: bullying, diálogo intergeracional, conflitos entre imaginação pueril e realidade, entre outros obrigatórios ritos de passagem. No entanto, com o estímulo do Padre Oliver (Tom Wilkinson), ele acredita que a fé pode ser a solução para todos os seus problemas – incluindo aqueles aparentemente insolúveis, como acabar com a guerra e trazer seu pai de volta. Para amplificar seus “poderes divinos”, ele recebe do pároco uma lista de benemerências a cumprir, como alimentar os famintos, abrigar os sem-teto, e por aí vai.

O clima de autoajuda que permeia Little Boy: Além do Impossível coloca o filme entre as várias produções recentes que apostam numa espécie de catequese audiovisual. Filmes como Você Acredita? (2015), Quarto de Guerra (2015) e até mesmo Os Dez Mandamentos: O Filme (2016) dialogam única e unilateralmente por meio de mensagens edificantes e de contexto religioso sem os devidos cuidados com valores de produção, argumento e narrativa essenciais para qualquer realização que se preze.

O desserviço em Little Boy é ainda mais efetivo quando percebe-se que o drama tinha muito para dar certo, do orçamento amplo ao elenco afiado e afinado, assim como direção de arte e design de produção singulares, mas deixou tudo a perder pelas suas pretensões catolicistas. Atores do porte de Emily Watson, Ben Chaplin, Cary-Hiroyuki Tagawa e até o já citado Wilkinson são subaproveitados num casting que comete ainda o terrível erro na escolha de seu protagonista, Jakob Salvati, que talvez tenha descolado o papel apenas por conta de seu nome bíblico. Se o tom da produção é sempre demasiado, o desempenho do menino vai além do impossível no histrionismo e caricaturesco. Alejandro Monteverde, sem qualquer outro filme digno de nota em seu currículo, também merece o crédito pelos deméritos; na busca pelo onirismo de uma história inocente, ele se equivoca repetidamente, como quando insiste em esquetes desnecessárias para ilustrar o que já foi dito por seus personagens e repetido numa irritante narração em off.

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Já disseram que a fé move montanhas. Por mais fé que possa ter, Little Boy: Além do Impossível não moveu sequer as montanhas de dinheiro, e mal conseguiu pagar seu custo de produção com a arrecadação em bilheterias. Apenas esperança e boas intenções também não foram suficientes para tornar o filme meramente interessante ou relevante em suas ambições. Talvez não se tratasse de tanta fé assim, afinal.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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