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Sinopse

Depois da morte de sua irmã, Cheryl começa a levar uma vida autodestrutiva. Depois de mergulhar nas drogas e arruinar seu casamento, ela decide deixar o passado para trás numa caminhada de 1.770 quilômetros pela Pacific Crest Trail, nos EUA, que mudará a sua vida.

Crítica

Sabe aqueles filmes em que, aos primeiros minutos, você já identifica um franco candidato ao Oscar, e em diversas categorias? Eis aí uma das principais características de Livre, mais uma obra baseada em livro que chega nos cinemas, mas com uma diferença: não é voltado para adolescentes, o que aumenta as chances de atrair uma quantidade maior de pessoas, quem sabe, como você.

Mulher de 21 anos (Reese Whiterspoon) decide encarar uma caminhada solitária com cerca de dois mil km, durante uns 100 dias. O detalhe é que ela parte para essa jornada somente com a cara e a coragem (a falta dela também), sem o menor preparo técnico e, pior, físico. Como esperado, a aventura se revela cheia de momentos tensos e de aprendizados. Uma chance e tanto para superar a perda da mãe (Laura Dern), vítima de câncer aos 45 anos, refletir sobre religião, o fim de um casamento, violência doméstica, aborto e, principalmente, se livrar de uma espiral de autodestruição, regada a sexo, drogas e pouco roquenrou.

A base de Wild (título original) foi o best seller "Livre: A Jornada de uma Mulher em Busca do Recomeço", memórias de Cheryl Strayed, famosa pela maneira crua – e realista – de escrever e lidar com seus leitores. A produção tem tudo para pegar o pessoal da sala escura de jeito. Seja pela fotografia de Yves Bélanger (Laurence Anyways, 2012) e os "cenários" deslumbrantes de três estados americanos (Califórnia, Oregon e Washington), ou por aquela coisa de superação de alguém (real) que poderia desistir, mas segue em frente. Apesar dos flashbacks, fundindo passado e presente, o recurso (muito criticado) foi minimizado pela boa edição, com ótimas sequências, alguma dose de humor e cenas (até) fortes, envolvendo a atriz, que sai da zona de conforto de papéis leves para ter chances de faturar um segundo Oscar com um personagem real, como já aconteceu com Johnny & June (2005). Ela, por sinal, ataca também de produtora, como fez com o recente Garota Exemplar (2014).

Para os cinéfilos de plantão, fazer uma associação com o excelente Na Natureza Selvagem (2007) será inevitável. Tem até "Wild" no título e boa trilha sonora. No primeiro, ela foi do genial Eddie Vedder (Pearl Jam) e no segundo, se ouve clássicos de Simon & Garfunkel, The Clash, Stevie Ray Vaughan e Jerry Garcia. Porém, o destino de cada protagonista revela que são apenas semelhanças. Menos emocionante e, ainda assim, tocante, esse longa de agora cita poetas americanos como Robert Frost e Walt Whitman e tem, entre os realizadores, dois indicados ao Oscar: o diretor Jean-Marc Vallée, de Clube de Compras Dallas (2013), e o roteirista Nick Hornby por Educação (2009). Ele, aliás é autor do livro que gerou o cultuado (e ótimo) Alta Fidelidade (2000). Ou seja, mesmo tendo um ou outro clichê, não falta bagagem nessa "trama" sobre uma jovem que estava mais sozinha quando acompanhada, e aprendeu a tirar o peso das costas na medida que uma nova vida ia surgindo, passo a passo.

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é publicitário, crítico de cinema e editor-executivo da revista Preview. Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, filiada a FIPRESCI - Federação Internacional da Crítica Internacional) e da ABRACCINE - Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 2014.
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