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Crítica


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Sinopse

O trabalho do artista plástico Vik Muniz no Jardim Gramacho, o maior aterro sanitário da América Latina, localizado na cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.

Crítica

Escrevo antes do resultado do Oscar e tenho consciência que, sendo premiado com a estatueta de melhor documentário, Lixo Extraordinário mudará para sempre sua história no Brasil - que diga-se de passagem,  ainda não reconheceu todos os méritos do filme. Mas, principalmente, mudará a vida de seus protagonistas e, quem sabe, outros trabalhadores esquecidos ou injustiçados deste imenso país.

O trabalho do artista plástico Vik Muniz (brasileiro nascido em São Paulo e tremendamente valorizado no exterior) no Jardim Gamacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, na periferia do Rio de Janeiro, é generoso, belo e tocante. Digno da grandeza das suas obras de arte. Uma grandeza que não está na forma ou no produto cinematográfico que se apresenta. Definitivamente não é esse o ponto que levou este filme a indicação. E sim sua mensagem, seu conteúdo repleto de uma humanidade e de altas doses de generosidade e reconhecimento. Salta aos olhos a capacidade de transcendência  e inventividade empregada por Vik Muniz à vida dos protagonistas. Realizada através de uma reunião improvável e oposta entre arte e lixo, com uma profunda e significativa representatividade social. São diversas sequências ou momentos que literalmente fazem  arrepiar pela coragem, pela entrega de coração ao projeto dos envolvidos.

Durante o processo de filmagem e descobertas no aterro, Vik emprega sua arte, revela sua vida particular, seu passado pobre e a sua obstinação por proporcionar aos trabalhadores uma nova esperança. Isso tudo sem nenhum tipo de constrangimento em envolver-se com eles - ao contrário, estimulando em todos a auto-confiança, o reconhecimento e a valorização. Sua motivação é estimulá-los durante o processo. Por gostar de si, por aprender, por conhecer por querer mais. No começo do filme ele indaga “Porque o Brasil tem esse sistema de classismo”? Em outras palavras, por que neste pais alguns se acham melhores que outros? Lixo Extraordinário apresenta uma profunda e urgente questão nacional. Afinal quando as classes menos favorecidas vão sentir-se importantes e capazes? Na Copa do Mundo? Ou em algumas ocasiões ligadas a vitórias e conquistas no esporte?  É arrebatador acompanhar a reação de Tião, líder e organizador dos catadores de material reciclável, durante um leilão em Londres. Ver como aquilo significa sua virada particular e vitória pessoal durante os lances. Um momento incomum, especial que não se vê com freqüência.

O filme não é um documentário primoroso tecnicamente ou marcado por um estilo próprio com uma nova forma narrativa. Inclusive é percebível dois momentos distintos. Provavelmente pela necessidade do trabalho ter sido realizado por dois diretores em momentos diferentes. Lixo Extraordinário inicia pelo efeito contestador. Pela denúncia do sistema de classes de nosso país. Tomadas de vários ângulos mostram o ambiente deprimente do lixão. Como funciona o processo e quem são os envolvidos. Depois vamos sendo apresentados aos catadores de material reciclável e o filme cresce tremendamente. Muitos daqueles brasileiros que lá estiveram (o aterro foi fechado) não são necessariamente tristes ou pessoas sem esperança. Esse é o gancho e o grande ponto de virada. As pessoas trazem consigo lições de vida, sonhos, experiências e desejos, que embaladas por Vic terminam revelando o poder transformador da arte e da alquimia do espírito humano. A valorização daqueles humildes trabalhadores através da bela obra de arte de um artista que sabe o que é ter vivido á margem da sociedade, faz de Lixo Extraordinário um favorito e postulador do prêmio mais desejado do planeta. Na minha opinião tem tudo para ganhar. Mas, levando ou não, você precisa assistir este filme. Cada instante dele vale à pena.

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é diretor de cena e roteirista. Graduado em Publicidade e Propaganda com especialização em Cinema (Unisinos /RS). Dirige para o mercado gaúcho há 20 anos. Produz publicidade, reportagem, documentário e ficção. No cinema é um realizador atuante. Dirigiu e roteirizou os documentários Papão de 54 e Mais uma Canção. E também dois curtas-metragens: Gildíssima e Rito Sumário. Seus filmes foram exibidos em vários festivais de cinema e na televisão. Foi diretor de cena nas produtora Estação Elétrica e Cubo Filmes. Atualmente é sócio-diretor na Prosa Filmes.
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