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Sinopse

Em Lobos, dois “solucionadores profissionais” (personagens de George Clooney e de Brad Pitt) são contratados para encobrir crimes de “alto perfil”. Embora possuam a mesma “profissão”, trabalham sozinhos. Os problemas começam quando o mesmo crime atravessa os expedientes de ambos, obrigando a dupla a atuar em conjunto.

Crítica

Assistir a um filme é também – mas não apenas, por mais que muitos se deixem levar por essa impressão – buscar uma zona de conforto, reencontrar velhos conhecidos e uma fuga da realidade. Ou seja, entretenimento. É por essa noção que se torna possível a construção das “estrelas de cinema”, as celebridades que, apenas por serem quem são, se confirmam como garantias de boas bilheterias. O uso de seus nomes é, portanto, uma chancela de que o projeto com o qual estão envolvidas é, no mínimo, acima da média – ou assim deveria ser. Eis o conflito que tão facilmente se percebe diante de Lobos. Nitidamente pensado para a tela grande, frustrou tais intenções em suas exibições-teste, a ponto de ter seu lançamento comercial cancelado e uma consequente estreia viabilizada apenas por meio de uma plataforma de streaming. Tal destino se mostra justo? Eis um debate interessante.

Desde o início de sua produção, Lobos despertou interesse pelos seus protagonistas: George Clooney e Brad Pitt. Amigos de longa data, esse é nada menos do que o sétimo projeto da dupla em conjunto, parceria que começou com Onze Homens e um Segredo (2001). Porém, a impressão que fica com o espectador é mais ou menos a mesma que surge diante de Os Provocadores (2024), com Matt Damon e Casey Affleck: o filme soa quase como uma desculpa para colocar dois amigos em cena, como se estivessem buscando um motivo para trabalharem juntos. Coincidência ou não, ambos foram lançados em sequência pela AppleTV+, plataforma que tem investido pesado para se confirmar com uma das grandes desse mercado, sem encontrar com a mesma agilidade o retorno esperado. E esse novo exemplo não deve alterar tal cenário.

Margaret (Amy Ryan, como de praxe, excelente, ainda que com tempo reduzido em cena – o show é só dos protagonistas) está em campanha para ser eleita promotora na cidade de Nova York. Seu rosto está estampado por todos os lados como a imagem da ordem e da justiça. Por isso, quando acaba num quarto de hotel com um com um rapaz desconhecido e muito mais novo que acaba morto após um acidente idiota – estava pulando na cama, caiu, bateu a cabeça e era isso – o que ela precisa é de alguém capaz de eliminar qualquer problema relacionado ao seu nome. Ou seja, um “consertador”. É quando um cartão recebido muito tempo atrás começa a lhe fazer sentido. “Se algum dia você estiver em apuros, ligue para esse número e tudo se resolverá”, lhe foi dito. E é o que faz.

Quem vai ao seu encontro é o personagem vivido por Clooney. Com o mesmo sorriso carismático de sempre, ele também está tenso, pois tem pouco tempo a perder – cada minuto conta para que a situação possa ser superada. No entanto, não demora para que outro profissional do ramo vá ao encontro de Margaret. É quando o tipo vivido por Pitt – que parece estar se divertindo com a improbabilidade do roteiro – surge no caminho da dupla. A explicação vem em seguida: a candidata estava sendo vigiada, e quando o ocorrido chega ao conhecimento da proprietária do hotel, essa decide enviar o seu próprio homem de confiança para que tudo se resolva. Afinal, ela também não quer ver seu negócio envolvido em algo capaz de prejudicar sua reputação. E assim, os dois se veem obrigados a trabalharem juntos.

Lembra do Sr. Lobo, encarnado por Harvey Keitel em Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994)? Ele aparece no longa de Quentin Tarantino quando Vince (John Travolta) e Jules (Samuel L. Jackson) estouram os miolos de um infeliz dentro do próprio carro e precisam de alguém experiente para limpar a barra deles e lhes dizer o que fazer. Pois então, essa é a mesma função de Clooney e Pitt. Só que não mais sozinhos, como sempre atuaram, mas unindo forças. Algo que aumenta em proporção quando o rapaz, supostamente morto, não apenas acorda do estado inconsciente em que estava, como também se descobre que estava de posse de uma mochila repleta de drogas, e precisa entregá-las ao seu dono de direito, antes que a máfia local vá ao seu encalço.

Talvez uma geração mais recente não reconheça em Lobos o mesmo prazer que a turma com mais de 30 ou, principalmente, 40 anos perceba no filme. E isso vem da relação com os protagonistas, que foram grandes décadas atrás, mas já há algum tempo se mostram afastados. O último sucesso de Clooney à frente do elenco foi Os Descendentes (2011), há mais de uma década, enquanto que Pitt pode ter feito Trem-Bala (2022) ou Era uma vez em... Hollywood (2019), mas em nenhum está sozinho, sempre com vários nomes de destaque ao seu lado. A obra dirigida por Jon Watts (o mesmo da trilogia Homem-Aranha do UCM) está longe de ser desinteressante, apenas não consegue se mostrar acima das expectativas geradas por uma reunião como essa. Explica-se, portanto, sua não exibição nos cinemas. É, portanto, filme para a telinha, para um público mais preguiçoso e acomodado, tal qual seus astros. E como tal deve ser encarado, sem muita pretensão, nem mesmo longevidade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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