Lola
Crítica
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Sinopse
Filipinas. O neto de Sepa (Anita Linda) foi assassinado por Mateo (Ketchup Eusebio), neto de Puring (Rustica Carpio), que está preso aguardando julgamento. O crime faz com que as duas avós se encontrem no tribunal, cada uma defendendo seu lado. Enquanto Sepa deseja que Mateo cumpra pena na prisão, Puring deseja encontrar um meio de salvar o neto. Para tanto se vê a disposta a fazer um acordo com Sepa, para que ela retire a acusação contra Mateo.
Crítica
Apesar deste ser o nono longa-metragem do mais premiado cineasta filipino da atualidade, somente agora, com Lola, é que o cinema de Brillante Mendoza estreou no Brasil. Uma vergonha que felizmente está sendo corrigida. Pois o que vemos agora é de um primor absoluto, um cineasta em completo domínio de sua linguagem, certo do que quer dizer e, principalmente, que sabe como se comunicar. Um filme que não é indicado a todos os espectadores, somente aos mais abertos a novas propostas e a um olhar diferenciado e, não por menos, inovador.
Em Manilha, capital do país, a língua inglesa é praticamente uma imposição – está por todos os lugares, até nos órgãos públicos que deveriam ser de acesso à toda comunidade. Só que essa atitude termina por excluir a grande maioria da população, que não só ignora o idioma estrangeiro como também não possui condições de aprendê-lo. Assim, precisam se virar em casos de necessidade, e no dia a dia seguem levando como podem com dialetos locais. E numa dessas linguagens não-oficiais a expressão “lola” significa “avó”. E daí vem o título do filme: não está se falando de um nome próprio, de uma mulher em particular. O foco está em todas elas, as mulheres que conduzem uma sociedade majoritariamente matriarcal, as avós que levam consigo todo o orgulho e as mazelas da família.
Duas avós tem seus destinos cruzados por causa de seus netos: um assassinou o outro para roubar seu celular. E nisso está a trama que acompanhamos: enquanto uma delas está preocupada em arrumar dinheiro para oferecer um enterro digno ao neto vítima do assalto, a outra senhora busca não só entender o que aconteceu, como também livrar seu descendente da prisão. “Tudo o que quero antes de morrer é oferecer uma nova chance à ele”, afirma ela em certo momento. E tudo o que a outra quer é manter a família unida. Algo agora impossível, diante a morte do neto.
São tantos os signos presentes em Lola que somente os mais desatentos irão se incomodar com o ritmo lento ou estranhar um cenário tão distante do nosso. Mesmo com a língua inglesa onipresente, todos as chamam por “lola”, e sempre com muito respeito. Um país de milhões de habitantes, mas que mesmo assim procura reverenciar e aprender com seus idosos. Notável e ainda assim curioso. São vários os momentos em que a emoção brota de forma quase instantânea: quando uma das senhoras precisa ir ao banheiro e o encontra fechado, preferindo resignar-se à condição imposta do que enfrentar um encontro com os familiares do acusado; um raro momento de felicidade quando um cardume invade a casa na beira do rio, oferecendo raros instantes de fartura e sorte; a condução nos barcos durante o velório; e, por fim, o mais esperado de todos: o encontro das duas “lolas”, uma conversa em que as diferenças entre elas se tornam menores que suas similaridades, e o entendimento afinal surge.
Selecionado para o Festival de Veneza e dono de mais de 15 prêmios internacionais, Lola é uma obra bastante singular e, ao mesmo tempo, completamente universal. O diretor, em entrevista no Brasil, afirmou que dedicava este filme “à todas as avós do mundo”. Pois bem, Brillante, chegou a afirmar que uma história como essa é indicada à todas as pessoas, independente de idade, raça ou sexo. Um trabalho sensível e ainda assim muito forte, que toca o coração sem pudores, mostrando como a dignidade de uma pessoa pode estar mesmo diante os mais penosos cenários. São poucos os filmes em que o clichê “uma lição de vida” pode ser aplicado, e este definitivamente é um deles.
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