Crítica
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Sinopse
De férias no sul da França, Violette, sofisticada parisiense que trabalha no mundo da moda, encontra Jean-René, um modesto técnico de informática recém-divorciado. Após anos de solidão, ela se deixa seduzir. René junta-se a ela em Paris, tentando se adaptar ao ambiente no qual ela vive. Mas não conta com a presença de Lolo, o filho da namorada, disposto a tudo para destruir o casal e conservar seu lugar de favorito.
Crítica
Julie Delpy pode ser reconhecida internacionalmente por sua participação na trilogia Jesse & Celine, de Richard Linklater, em que encarnou o ideal romântico de uma geração ao lado de Ethan Hawke. O que poucos sabem, no entanto, é que ela é uma cineasta bastante ativa e de respeito, tanto na direção quanto como roteirista – tanto que foi indicada ao Oscar pelos textos de Antes do Pôr-do-Sol (2004) e de Antes da Meia-Noite (2013). E se nos últimos tempos a estrela francesa tem deixado cada vez mais de lado sua porção atriz – a aparição de destaque mais recente foi em uma rápida participação de Vingadores: Era de Ultron (2015) – em Lolo: O Filho da Minha Namorada ela retoma com vontade estas três facetas: diretora, intérprete e roteirista. Mas não se enganem, pois ainda que esteja envolvida em um insólito triângulo amoroso, quem realmente domina a ação são Dany Boon e Vincent Lacoste, este roubando a cena como o personagem-título.
Ainda que na maior parte das vezes os subtítulos inventados pelas distribuidoras brasileiras sejam despropositados, o aqui empregado possui uma singular utilidade de guiar a percepção do espectador. Sim, pois ainda que Lolo (Lacoste) seja o nome que mais chama atenção, ele ali só está pois é O Filho da Minha Namorada. O ponto de vista assumido é o deste homem (Boon) que começa um romance cheio de expectativas, mas que, à medida que os dois vão se conhecendo melhor, também vai se interferindo na relação deles esse garoto dono de um dos maiores complexos de Édipo do cinema recente. E se para a mãe (de um) e namorada (de outro), vivida por Delpy, perceber o que está se passando ao seu redor não será imediato, tanto para o novato na situação como – principalmente – para o público logo ficará claro quem está por trás das artimanhas que se darão uma atrás da outra, com um único e simples propósito: separar o casal.
Tendo em cena tipos que por suas características mais evidentes já despertam curiosidade, Delpy não se preocupa, no entanto, em aprofundá-los. As implicações psicológicas desse garoto dependente e dissimulado, o sentimento de culpa e, ao mesmo tempo, de liberdade de uma mulher ainda jovem, vivendo plenamente sua maturidade, e até mesmo as motivações deste solteirão dedicado a superar as dificuldades que se apresentam parecem não interessar a realizadora, focada apenas na superfície destes acontecimentos e nas consequências imediatas de tais atos. É por isso que durante o desenrolar da trama nos veremos diante de porres constrangedores, coceiras inconvenientes e garotas seminuas surgidas sabe-se de lá onde. Tudo em nome de uma reação instantânea, porém nada perene.
Dany Boon é um comediante de grande sucesso na França, responsável por um dos filmes de maiores bilheteria por lá em todos os tempos (A Riviera não é Aqui, 2008), no qual ele também atua, dirige e assina o roteiro. Justamente por estar acostumado com esse tipo de humor mais rasteiro, ele é o que acaba se saindo melhor nessa atual composição. Julie Delpy, por outro lado, criou para si mesma uma figura irregular e ingênua. Tanto que é a mais deslocada, uma vez que o espectador que a acompanha há mais tempo provavelmente estará esperando por uma composição mais intelectualizada e verborrágica, algo distante do aqui visto. Vincent Lacoste é uma revelação francesa atual, um nome que deve ser acompanhado de perto, mas já teve momentos melhores antes (como em Hipócrates, 2014, por exemplo). Por fim, ainda que em participação mínima, vale ficar atento às intervenções de Karin Viard, uma atriz que, mesmo com tão pouco a seu dispor – ela é a irmã da protagonista – consegue justificar sua presença sem muito esforço.
Exibido fora de competição no Festival de Veneza e selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês, Lolo: O Filho da Minha Namorada é mais uma curiosidade descartável do que uma aposta certeira de entretenimento. Longe de um estilo de cinematografia que se convencionou como clichê, complexo e instigante, aproxima-se mais das comédias ligeiras tão frequentes em Hollywood, ambiente pelo qual Julie Delpy muito já frequentou, mas parecia ter saído imune. É no mínimo estranho, portanto, que ela sempre tenha evitado este gênero enquanto nos Estados Unidos, mas que o venha reproduzir justamente em sua terra natal, deixando de lado um legado cultural muito mais pertinente para se ocupar com um tema que até possui elementos suficientes para um debate mais elaborado, mas que são um a um desprezados sem retorno. E como resultado temos algo tão banal e pouco memorável quanto qualquer primeira impressão já pode antever.
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