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Crítica


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1 voto 8

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Sinopse

Após a guerra, Anxo retorno à sua aldeia natal no interior da Galiza. A Espanha vive os anos de Franco.

Crítica

Qual seria a “longa noite” a qual o diretor Eloy Enciso se refere já no título deste trabalho? As possibilidades são inúmeras, e seu filme abre muitas portas, como se disposto a explorar cada um destes caminhos num primeiro instante. No entanto, durante o desenrolar de Longa Noite, o que acaba se confirmando é justamente o contrário: um conjunto hermético preocupado apenas em esgotar as possibilidades dos percursos escolhidos, como se todos levassem a um beco sem saída, do qual nem sequer é permitido um retorno seguro. Assim, ao direcionar grotescamente a um único desfecho, o realizador coloca em evidência a suas intenções políticas na mesma proporção em que esvazia seu discurso, seja pelo pouco alcance do formato escolhido como também pelo distanciamento imposto em relação ao espectador, que ao invés de estímulo, se depara apenas com tropeços e permissões negadas.

Anxo (Misha Bies Golas) está voltando para casa. Tanto é que é anunciado, nos créditos finais, como “o retornado”, para que dúvidas não pairem sobre seu caminho prévio e nem em relação ao destino que lhe compete. Está voltando para casa, sem sequer saber se essa ainda existe. Afinal, esteve ausente por muito tempo, justamente durante a ‘longa noite’ anunciada no batismo do projeto. A referência, uma vez que estamos falando de uma produção espanhola de forte conotação social, é em relação ao período no qual o país se viu sob domínio da ditadura franquista. Um manto pesado e sufocante, que se estendeu por todo o país por tempo demasiado, como que a abafar qualquer possibilidade de renovação. Mas o tempo é o senhor de todas as dores, e assim como as traz, também se encarrega de dissipá-las.

Formado a partir de uma reunião de diversas esquetes, compostas por personagens aparentemente aleatórios, alguns escolhidos a esmo e outros fundamentais para o trajeto ao qual Anxo precisa percorrer, o filme se revela tão cerrado aos sentimentos quanto ao estímulo de decifrar uma leitura mais apaixonada. Assim, como se necessitasse de espaço para melhor respirar, também se afasta daqueles com quem tanto necessitaria se comunicar. Como resultado, o que se vê é uma mensagem repleta de pompa e circunstância, mas vazia de conteúdo ou significado. Grita alto, mas ninguém a ouve. E se carrega consigo denúncias que mereciam ser percebidas e almejar uma reflexão mais profunda, é o com o contrário que se vê tendo que lidar, pois tais esforços acabam por resultar em um imenso nada.

Logo no começo da trama, dois desconhecidos se veem em semelhante situação. Uma conversa é iniciada, mais pela falta do que melhor fazer do que por uma genuína vontade de troca entre eles. Processo semelhante ao que se percebe entre os dedicados a seguir diante de um trajeto tão tortuoso e turbulento quanto Longa Noite se revela. Voltando aos personagens encarregados de abrir a história, é possível identificar um tom de lamento desde as primeiras frases proferidas. “Já fomos tão grandes, importantes e respeitados, e agora nos olham com desprezo e descaso”, um reclama para o outro, que concorda com igual indignação. Falam, portanto, de um problema próprio, mas amplo como o continente onde se encontram. A escuridão pela qual se viram submetidos por tanto tempo, como se vê, é mais ampla do que uma rápida suposição poderia imaginar.

Ao invés de abrir espaço para a imaginação, almejando uma construção compartilhada, Enciso, por sua vez, opta sistematicamente em oferecer debates que nada agregam à análise a qual supostamente deveria se ocupar. Com isso, Longa Noite perde grande parte da sua importância, mas preocupado em destacar figuras cartunescas e diálogos absurdos do que em encarar a verdade que por tanto tempo foi lei e que ainda hoje segue encontrando ressonância entre alguns, os poucos barulhentos que por muitos acabam falando. A estrutura rígida e o desperdício de oportunidades, ao invés de iluminar o caminho, afasta e isola, deixando claro que, quando sozinho, nada do que é dito acaba alcançando o efeito desejado.

Filme visto online no 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, em outubro de 2020.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
4
Chico Fireman
7
MÉDIA
5.5

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